Instituto Fogo Cruzado critica 'falta de transparência' da SDS sobre violência em Olinda
Dados sobre mortes provocadas pela guerra do tráfico de drogas entre criminosos de duas comunidades de Olinda foram solicitados pelo JC, mas não foram revelados
O Instituto Fogo Cruzado divulgou texto fazendo críticas à Secretaria de Defesa Social (SDS), que decidiu não informar as estatísticas de mortes violentas intencionais ocorridas em duas comunidades de Olinda, no Grande Recife, onde há uma forte disputa relacionada ao tráfico de drogas. O pedido havia sido feito pelo JC na semana passada.
"Já afirmamos diversas vezes por aqui que a segurança pública no Brasil é tratada com negacionismo. As políticas públicas de segurança, em especial, são raramente baseadas em dados. Às vezes eles são mal produzidos, às vezes não são divulgados. Muitos estados só publicam números quando há uma pauta a favor", afirmou Ana Maria Franca, coordenadora regional do Instituto Fogo Cruzado em Pernambuco.
O JC havia solicitado o número de assassinatos na V8 e Ilha do Maruim, comunidades onde, segundo a Polícia Civil, há uma guerra entre facções por causa da disputa pelo domínio de territórios para expansão do tráfico.
A SDS alegou, na ocasião, que só disponibiliza publicamente as estatísticas por município. Entre maio e outubro, 87 pessoas foram mortas em Olinda. Foram 25 casos a mais do que entre maio e outubro de 2022.
"Olinda, aqui em Pernambuco, vive atualmente um ciclo de violência acentuado por disputas entre grupos armados que querem controlar o tráfico de drogas. Os tiroteios acontecem com frequência em dois lugares: Ilha do Maruim e V8. Números, se bem contextualizados, falam muito. Mas desses não saiu quase nada. São números gerais, que não apontam para o problema: quais são os locais mais afetados? Qual o perfil das vítimas? Quantas eram mulheres? Há crianças entre as vítimas? E pessoas atingidas por balas perdidas que podem resultar do conflito?", questionou a porta-voz do Fogo Cruzado.
VIOLÊNCIA CRESCEU EM OLINDA
O Instituto Fogo Cruzado, que desde 2018 faz levantamento da violência armada no Grande Recife, destacou que o Varadouro, bairro onde fica a V8, teve 10 tiroteios este ano, que deixaram 11 mortos e quatro feridos.
Varadouro, por exemplo, só teve uma ocorrência com uma vítima de maio a outubro de 2022. No mesmo período de 2023 foram cinco mortos.
Do lado do Varadouro fica Santa Tereza, onde está a Ilha do Maruim. Em Santa Tereza foram quatro tiroteios este ano — metade deles em ação policial —, com três mortos e dois feridos.
"É importante dizer que essas localidades não são naturalmente violentas. Quando mostramos os dados por bairro, é justamente para denunciar o quanto a violência armada se acentua em alguns locais, deixando seus moradores em risco e tornando ainda mais vulnerável sua população. Dados sobre violência podem ajudar a preveni-la", pontuou Ana Maria Franca.
PM DISSE QUE HOUVE REFORÇO
Por meio de nota, na semana passada, a Polícia Militar informou que o município de Olinda segue sendo policiado com ações preventivas e repressivas de combate à criminalidade.
Em relação à comunidade V8, a PM afirmou que a área conta com reforço de equipes especializadas. "O comandante da unidade está atento à situação e vem desenvolvendo um planejamento baseado em análise criminal", disse.