POLÍCIA MILITAR

Chacina em Camaragibe: após 5 prisões, Justiça determina que mais 7 PMs sejam afastados das funções

Investigações apontam que policiais militares foram responsáveis pela sequência de assassinatos após as mortes de um soldado e um cabo, em setembro deste ano

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Raphael Guerra

Publicado em 14/12/2023 às 14:37 | Atualizado em 18/12/2023 às 10:46
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Poucas horas após uma operação da Polícia Civil de Pernambuco prender cinco policiais militares suspeitos de participação na sequência de assassinatos, ocorrida em setembro deste ano, no bairro de Tabatinga, em Camaragibe, no Grande Recife, outra decisão judicial determinou que mais sete sejam afastados das atuais funções. 

A decisão, divulgada na tarde desta quinta-feira (14), atendeu a um pedido do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), que está fazendo uma investigação paralela à conduzida pelo Grupo de Operações Especiais (GOE). 

Por meio de nota, o MPPE afirmou que a aplicação de medidas cautelares (os afastamentos) são necessárias devido às "condutas que (os PMs) tiveram durante a perpetração dos crimes e pela posição funcional que ocupam, que podem influenciar na continuidade da investigação".

Há oficiais da PM entre os afastados das funções, mas os nomes, idades e batalhão não foram revelados porque o procedimento investigatório do MPPE corre sob segredo de justiça.  

As investigações apontam que de pessoas de uma mesma família foram assassinadas por vingança após as mortes de dois militares (relembre o caso mais abaixo)

PRISÕES PELA MANHÃ

TV JORNAL/REPRODUÇÃO
Policiais militares foram presos em operação nesta quinta-feira (14) - TV JORNAL/REPRODUÇÃO

Três cabos e dois soldados foram alvos da operação pela manhã. Os nomes e idades não foram divulgados.

Também foram cumpridos 20 mandados de busca e apreensão. Armas de fogo e celulares estão entre os materiais recolhidos para perícia. 

A operação, denominada Sobejo, foi liderada pelo GOE e contou com apoio da Corregedoria da Secretaria de Defesa Social (SDS). No total, 130 policiais civis participaram do cumprimento dos mandados. 

A operação relacionada à "Chacina de Camaragibe", como o caso ficou conhecido nacionalmente, foi autorizada pela 1ª Vara Criminal da Comarca de Camaragibe. 

Durante a operação, uma cabo da PM foi autuada em flagrante porque foram encontradas munições de revólver calibre 38 na casa dela. Ela pagou fiança de um salário mínimo e foi liberada. 

A Polícia Civil informou que, por enquanto, não iria passar outras informações sobre a operação. 

O QUE DIZ A DEFESA DOS POLICIAIS?

O advogado Cézar Souza, que representa a Associação de Cabos e Soldados de Pernambuco, esteve na sede do GOE, no bairro do Cordeiro, Zona Oeste do Recife, na manhã desta quinta-feira. Na saída, ele falou com a imprensa. 

"Entendemos ser uma prisão desnecessária, porque todos que estão aqui presos se apresentaram espontaneamente, prestaram seus esclarecimentos, contribuíram para as investigações. Então, a associação entende que essas prisões são desarrazoadas. Vamos aguardar o acesso aos autos para que possamos trabalhar em cima das razões da decretação dessas prisões temporárias", declarou.

Sobre as buscas e apreensões de celulares e outros aparelhos eletrônicos, ele afirmou que "é cabível, é necessário para elucidar o caso". 

"Faz parte da fase de investigação. É preciso a perícia desses aparelhos usados pelos policiais para esclarecer tudo o que ocorreu", afirmou. 

 

ENTENDA A CHACINA EM CAMARAGIBE

A informação inicial repassada pela polícia, na época dos fatos, foi a de que o soldado Eduardo Roque Barbosa de Santana, de 33 anos, e o cabo Rodolfo José da Silva, 38, foram até Tabatinga verificar uma denúncia de que um homem estaria em cima de uma laje realizando disparos de arma de fogo.

Quando os policiais chegaram ao local, houve troca de tiros com o vigilante Alex da Silva Barbosa, que teria feito Ana Letícia Carias da Silva, de 19 anos, de escudo humano. 

REPRODUÇÃO
Onda de mortes no bairro de Tabatinga teve repercussão nacional - REPRODUÇÃO

Os dois PMs morreram, e Alex conseguiu fugir. Além de Ana (que morreu semanas depois no IMIP), o primo dela, de 14 anos, foi baleado, mas sobreviveu. Em depoimento, ele contou que foi agredido pelas costas e atingido com um tiro na nuca disparado pelos policiais. 

Após a morte dos militares, começou a sequência de assassinatos de parentes de Alex, na madrugada do dia 15 de setembro. 

Três irmãos de Alex identificados como Ágata Ayanne da Silva, 30, Amerson Juliano da Silva e Apuynã Lucas da Silva, ambos de 25, foram baleados por volta das 2h. 

Ágata transmitiu ao vivo, por meio do Instagram, o crime. Ela e Amerson morreram na hora. Apuynã faleceu após ser socorrido e encaminhado para o Hospital da Restauração, no Recife. 

Por volta das 9h do mesmo dia, os corpos da mãe de Alex, Maria José Pereira da Silva, e da esposa dele, Maria Nathalia Campelo do Nascimento, 27, foram achados num canavial na cidade de Paudalho, Mata Norte do Estado. 

Duas horas depois, Alex foi morto em Tabatinga. A PM alegou que houve uma abordagem e que ele teria reagido, resultando na troca de tiros. 

ALEX TINHA REGISTRO DA ARMA DE FOGO

Investigações apontaram que Alex não tinha antecedentes criminais. Ele tinha direito ao uso de arma de fogo porque estava registrado como vigilante no Sistema Nacional de Armas e tinha Certificado de Registro de Arma de Fogo (Craf), indicando ser proprietário de uma pistola. 

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