INVESTIGAÇÃO

'Repudiamos', diz síndico de condomínio onde câmera foi achada em quarto, em Muro Alto

Polícia procura pistas para identificar o responsável por instalar uma câmera espiã no quarto onde turistas de São Paulo estavam hospedados

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Cadastrado por

Raphael Guerra

Publicado em 22/01/2024 às 12:37 | Atualizado em 22/01/2024 às 15:39
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A Polícia Civil segue à procura de pistas para identificar o responsável pela instalação de uma câmera espiã no quarto de um flat onde estava hospedado um casal de turistas de São Paulo. O condomínio é o OKA Beach Residence, localizado na praia de Muro Alto, Litoral Sul de Pernambuco. 

O caso foi revelado pelo Jornal do Commercio na semana passada. Nesta segunda-feira (22), o síndico do condomínio, Carlos Carvalho, decidiu se pronunciar sobre o caso. Em entrevista à coluna Segurança, ele afirmou que, diferentemente do que informaram a polícia e uma das vítimas inicialmente, o OKA Beach Residence não funciona como um resort, mas conta com flats e bangalôs. E que repudia o episódio ocorrido com os turistas. 

"O condomínio é residencial. Há 266 unidades, e esse foi um episódio isolado. Repudiamos o que ocorreu, mas é importante dizer que a OKA não tem nenhum tipo de gerenciamento sobre isso. Os proprietários de cada apartamento são os responsáveis pelas locações ou empresas contratadas diretamente por eles para fazer esse gerenciamento", afirmou Carlos Carvalho.

A Carpediem Homes, responsável pela administração do flat onde a câmera foi encontrada, enviou um novo posicionamento sobre o caso. 

"Repudiamos esse tipo de atividade criminosa e estamos prestando todo apoio aos hóspedes e às autoridades policiais para que os responsáveis por tal crime sejam encontrados e punidos. A Carpediem Homes é uma empresa séria, com mais de 5 anos de tradição no mercado, mais de 50.000 hospedagens concluídas sem intercorrências similares. Nosso papel é distribuir os imóveis de temporada em portais como a Booking.com entre outros oferecendo estadias seguras em 4 estados do Nordeste", disse o texto. 

"Tal ato criminoso é raro, contudo, quadrilhas podem estar se especializando nesse tipo de ação haja vista que esses equipamentos não tem qualquer tipo de proibição ou regulação de venda no comércio online. Nós estamos investindo em tecnologia de detecção para continuarmos a oferecermos os mais altos padrões de segurança com seriedade e credibilidade", completou. 

INVESTIGAÇÃO

O delegado Ney Luiz Rodrigues, titular da Delegacia de Porto de Galinhas, afirmou que vai ouvir os turistas de São Paulo nos próximos dias. As vítimas foram um comerciante e uma professora, ambos de 36 anos, que se hospedaram no condomínio entre os dias 13 e 16 de janeiro. 

"Também vamos tentar colher o depoimento do representante da empresa Carpediem Homes para tentar esclarecer como era feita a manutenção do quarto", disse. 

Vídeos com cenas de sexo foram encontrados no cartão de memória da câmera que estava escondida no quarto. O material está passando por perícia no Instituto de Criminalística.  A polícia quer saber também se as imagens eram enviadas em tempo real, com ajuda da internet, ou ficavam gravadas apenas no cartão de memória. 

O caso está sendo investigado com base no artigo 216-B, do Código Penal Brasileiro, que prevê pena de detenção de seis meses a um ano, além de multa, para quem reproduzir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, cenas de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e privado sem autorização dos participantes.

A dona do apartamento já foi ouvida pela polícia. Ela confirmou a versão de que fez a aquisição há poucos meses e que uma empresa estava responsável pela administração. E reforçou não ter conhecimento do equipamento.

"É importante acalmar a população, porque a rede hoteleira do Estado é segura. Não tem ocorrência dessa natureza. Esses casos geralmente acontecem quando os contratos são feitos diretamente com os proprietários. Por isso, a nossa orientação é ter cuidado na hora de escolher a hospedagem", pontuou o delegado. 

VÍTIMA CONTA DETALHES DA DESCOBERTA

No boletim de ocorrência consta que os turistas notaram que havia uma tomada perto da cama e que não era possível inserir o carregador de celular.

"Foi quando minha esposa percebeu que havia uma luz refletindo de dentro da tomada. Ela acabou vendo que havia uma câmera. Entrei na internet e vi que havia anúncios de câmeras idênticas e ficamos assustados. Imediatamente entrei em contato com o gerente do condomínio", afirmou o comerciante, em entrevista exclusiva à coluna Segurança, na semana passada. 

"O gerente pediu que um funcionário fizesse fotos e ligou para a dona do apartamento, que afirmou não ter conhecimento da câmera. Inclusive soube que ela comprou há poucos meses. Também entramos em contato com a empresa que administra o apartamento", completou.

Preocupados com a possibilidade de divulgação de imagens íntimas na internet, o comerciante e a professora foram registrar a queixa na delegacia. "A câmera filma tudo. A gente estava passando férias e tudo foi interrompido após descobrirmos esse equipamento", lamentou o comerciante. 

ASSOCIAÇÃO DE HOTÉIS SE MANIFESTA

Nesta segunda-feira (22), a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, seccional Pernambuco (ABIH/PE) comentou o episódio.

No texto, a entidade afirma "manifestar a mais profunda indignação em relação ao lamentável incidente. Repudiamos veementemente tal violação e desejamos expressar nossa solidariedade para com as vítimas".

"Esclarecemos que o referido empreendimento não é Hotel nem Resort, fato pelo qual não é nosso associado e aproveitamos para reafirmar nosso compromisso inabalável com a segurança e privacidade dos hóspedes que frequentam nossos estabelecimentos. Ressaltamos nosso apoio integral às autoridades competentes encarregadas da investigação e confiamos que os responsáveis por este ato criminoso serão devidamente responsabilizados perante a lei", disse o texto. 

"Ao longo dos anos, a ABIH/PE e a hotelaria de Pernambuco vem trabalhando incansavelmente para oferecer uma experiência de qualidade a todos os que nos visitam e assegurar a integridade física e moral dos nossos hóspedes. Um episódio como este explicita a fragilidade neste modelo de hospedagem e incentivamos os turistas a optarem por meios que possam oferecer sistemas mais rigorosos, com responsabilizações inequívocas, visando garantir sua segurança e tranquilidade durante as estadias", pontuou a associação. 


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