VIOLÊNCIA POLICIAL

Chacina de Camaragibe: 12 policiais militares, incluindo 3 oficiais, viram réus

Investigação conduzida por equipe de promotores de Justiça conseguiu identificar acusados por sequência de assassinatos ocorridos em setembro de 2023

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Raphael Guerra

Publicado em 07/03/2024 às 18:19 | Atualizado em 08/03/2024 às 10:23
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Doze policiais militares, incluindo três oficiais, foram denunciados pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE) por triplo homicídio duplamente qualificado (motivo torpe e sem chance de defesa das vítimas). As investigações indicaram que os acusados foram responsáveis por ao menos três dos assassinatos ocorridos no caso que ficou conhecido como a Chacina de Camaragibe, ocorrida em setembro do ano passado.

Nesta quinta-feira (7), a 1ª Vara Criminal de Camaragibe aceitou a denúncia do MPPE e todos os policiais denunciados viraram réus. Fazem parte da lista os tenentes-coronéis Fábio Roberto Rufino da Silva, na época comandante do 20º Batalhão da PM, e Marcos Túlio Gonçalves Martins Pacheco, que ocupava o segundo posto de comando da inteligência da PM. 

A sequência de crimes teve início após as mortes do soldado Eduardo Roque Barbosa de Santana, de 33 anos, e do cabo Rodolfo José da Silva, 38, que foram até o bairro de Tabatinga, em Camaragibe, verificar uma denúncia de que um homem estaria em cima de uma laje realizando disparos de arma de fogo, na noite de 14 de setembro. 

Quando os policiais chegaram ao local, houve troca de tiros com o vigilante Alex da Silva Barbosa, que teria feito Ana Letícia Carias da Silva, de 19 anos, de escudo humano. Os dois PMs morreram, e Alex conseguiu fugir. Além de Ana (que morreu semanas depois no IMIP), o primo dela, de 14 anos, foi baleado, mas sobreviveu. Em depoimento, ele contou que foi agredido pelas costas e atingido com um tiro na nuca disparado pelos policiais. 

ASSASSINATOS POR VINGANÇA

As investigações conduzidas por uma força-tarefa do MPPE indicaram que, após as mortes dos PMs, houve uma verdadeira caçada a Alex e aos parentes deles para matá-los como forma de vingança. Na madrugada do dia 15, uma reunião comandada por oficiais da PM, nas proximidades da Faculdade de Odontologia de Pernambuco, teria ordenado a chacina.

Na mesma madrugada, foram executados a tiros três irmãos de Alex, identificados como Ágata Ayanne da Silva, 30, Amerson Juliano da Silva e Apuynã Lucas da Silva, ambos de 25. Ágata chegou a transmitir ao vivo, por meio do Instagram, o crime. Ela e Amerson morreram na hora. Apuynã faleceu após ser socorrido e encaminhado para o Hospital da Restauração, no Recife. 

A denúncia do MPPE aponta que os oficiais da PM Marcos Túlio e Fábio Rufino acompanharam, em tempo real, por meio de mensagens e telefonemas, as ações dos policiais na caçada aos familiares de Alex. 

A denúncia, com 15 páginas, faz detalhes de como agiu cada um dos policiais militares acusados pelo triplo homicídio. O MPPE cita que a análise de dados telefônicos e telemáticos foi fundamental para a identificação de cara um. 

"No cenário de uma estrutura extremamente hierarquizada como é a Polícia Militar, é de fácil interferência que, no mínimo, houve uma autorização, ainda que velada, por parte dos dois tenentes-coronéis denunciados para a matança que ocorreu", descreve o relatório do MPPE.

DENUNCIADOS

Além dos dois tenentes-coronéis já citados na reportagem, também viraram réus:

João Thiago Aureliano Pedrosa Soares, 1º tenente;

Paulo Henrique Ferreira Dias, soldado;

Leilane Barbosa Albuquerque, soldado;

Emanuel de Souza Rocha Júnior, soldado;

Dorival Alves Cabral Filho, cabo;

Fábio Júnior de Oliveira Borba, cabo;

Diego Galdino Gomes, soldado;

Janecleia Izabel Barbosa da Silva, cabo;

Eduardo de Araújo Silva, 2º sargento;

Cesar Augusto da Silva Roseno, 3º sargento.

Cinco desses policiais estão presos preventivamente: Paulo Henrique, Dorival Alves, Leilane Barbosa, Emanuel e Fábio Júnior. Os outros foram afastados dos cargos que ocupavam na época do crime, mas seguem trabalhando na PM. 

Fábio Roberto Rufino da Silva, inclusive, passou a comandar outro batalhão da PM, no Recife, mesmo após ser afastado do 20º BPM pela Justiça. 

As defesas dos réus ainda não se pronunciaram sobre a denúncia do MPPE. 

NÚMERO DE RÉUS PODE AUMENTAR

Essa foi apenas a primeira denúncia do MPPE relacionada à Chacina de Camaragibe. O MPPE e a Polícia Civil seguem investigando o caso, porque outras pessoas foram assassinadas, inclusive Alex.

Por volta das 9h de 15 de setembro, os corpos da mãe de Alex, Maria José Pereira da Silva, e da esposa dele, Maria Nathalia Campelo do Nascimento, 27, foram achados num canavial na cidade de Paudalho, Mata Norte do Estado.

Duas horas depois, Alex foi morto em Tabatinga. A PM alegou que houve uma abordagem e que ele teria reagido, resultando na troca de tiros.


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