VIOLÊNCIA SEXUAL

'Versão do suspeito é falaciosa', diz delegado sobre estupro de paciente em clínica de reabilitação

Polícia deu novos detalhes sobre caso da bacharel em direito que foi estuprada enquanto estava dopada em uma clínica em Aldeia. Suspeito foi indiciado

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Raphael Guerra

Publicado em 19/06/2024 às 14:16 | Atualizado em 19/06/2024 às 14:37

Novos detalhes do caso da paciente que sofreu estupro em uma clínica especializada em saúde mental e dependências localizada em Aldeia, Camaragibe, no Grande Recife, foram revelados pela polícia nesta quarta-feira (19). O delegado Carlos Couto declarou que o suspeito, em depoimento, negou o crime gravado por uma câmera de segurança e disse que tocou a paciente porque ela se queixava de dores.

O caso foi revelado pelo Jornal do Commercio nessa terça-feira (18). O suspeito de 47 anos, que prestava serviços de segurança na clínica Reluzir, foi indiciado por estupro da bacharel em direito de 30 anos. Já um técnico em enfermagem, que deveria ser responsável pelo acompanhamento das pacientes naquele horário, foi indiciado por omissão de socorro. 

O crime aconteceu na madrugada de 17 de novembro de 2023, mas somente no começo da semana a Polícia Civil enviou o resultado do inquérito ao Ministério Público de Pernambuco (MPPE).

"Logo após a clínica tomar conhecimento do fato, houve o desligamento do segurança. No dia seguinte, ele telefonou para um gestor de clínica e disse que era tudo mentira, que a vítima tinha inventado a história. E que ela tinha uma dor nas costas e pediu pra ele fazer uma massagem nela", contou o delegado Carlos Couto, responsável pela conclusão do inquérito.

O delegado afirmou que o depoimento do suspeito, cujo nome não foi divulgado, apresentou outra versão.  

"Quando conseguimos localizá-lo, ele mudou a versão. Disse que a mulher estava com dor no abdômen e pediu para manusear o abdômen dela. Mas a versão do suspeito é falaciosa. A gente sabe que em qualquer procedimento médico se deve primeiro tirar o lençol. E ele não era técnico em enfermagem, não era enfermeiro, ele não tinha qualquer obrigação de fazer qualquer intervenção nesse sentido", pontuou. 

Couto detalhou ainda que a vítima tentou impedir o estupro, mas não teve forças de tirar o braço do autor do crime porque estava sedada. 

"Ela estava sob efeito de dois medicamentos controlados, com efeito sedativo muito forte. A vítima contou que notou o toque, mas não teve forças para reagir. A mão dela não conseguiu tirar o suspeito. Ele até admite que viu ela segurar a mão dele bem forte", disse o delegado. O suspeito está foragido. 

Em relação ao crime de omissão de socorro atribuído a um técnico em enfermagem o delegado explicou que ele estava no horário do plantão e respondia pelo local. "Ele viu o segurança se aproximando da vítima e nada fez. A conduta dele foi de total negligência. O técnico alegou que estava preenchendo planilhas e que não deu importância porque achou que era decorrente da própria função do monitor (segurança)."

VÍDEO AJUDOU POLÍCIA A ELUCIDAR O CASO

Imagens gravadas por uma câmera de segurança mostram que a ação do segurança durou quase dois minutos. A vítima aparece sozinha, deitada na maca, na ala hospitalar. O autor do crime se aproxima e passa a mão várias vezes pelo corpo da dela. Depois ele sai tranquilamente. 

FAMÍLIA CRITICOU DEMORA EM SER ACIONADA

A advogada da vítima, Maria Eduarda Albuquerque, reforçou que a família demorou para ser acionada após o estupro. 

"A situação aconteceu na madrugada da quinta para a sexta-feira. A vítima passou o dia chorando para que ligassem para a mãe dela. Mas essa ligação só ocorreu por volta das 20h30, mas a equipe da clínica Reluzir não disse do que se tratava. A família só tomou conhecimento no sábado, quando chegou lá. Era para eles terem chamado a polícia. Demorou muito, o que acabou livrando o autor do flagrante", afirmou.  

A advogada contou que a vítima trocou de clínica após o episódio. "Ela ficou muito mal com o que aconteceu, teve recaídas. A mãe dela também precisou de tratamento, por causa do trauma", completou. 

CLÍNICA DIZ QUE TOMOU PROVIDÊNCIAS

Por meio de nota, a clínica Reluzir declarou que "desde o seu conhecimento, o hospital não só deu todo apoio à vítima, como à família e à polícia para investigar o caso".

Disse também que o hospital "foi noticiado apenas na sexta-feira pela manhã, durante uma consulta de rotina com a paciente, que narrou o ocorrido. Logo após, ainda na sexta-feira, o hospital imediatamente checou as gravações das câmeras e, ao verificar a situação, no mesmo dia realizou o registro do ocorrido juntamente com a Delegacia de Camaragibe".

A clínica confirmou que também entrou em contato com familiares na sexta-feira. "Sobre o autor do fato, é importante colocar que ele trabalhava há apenas dois meses no local, bem como exercia sua função na jornada 12x36 e havia saído do local às 7h. Assim, ainda na própria sexta-feira, o hospital desligou o autor, fornecendo às autoridades policiais todos os endereços e telefones úteis", disse a nota.

Em outro trecho, a unidade reforçou que "lamenta profundamente o ocorrido e se coloca à disposição da Polícia Civil de Pernambuco e órgãos judiciais, para que o fato seja devidamente solucionado, com o rigor e sigilo que o caso exige".

O JC não conseguiu contato com a defesa dos indiciados. 

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