COMBATE À VIOLÊNCIA

'Queremos retomar territórios dominados pelo crime organizado', diz secretário nacional de Segurança Pública

Em entrevista ao JC, Mário Luiz Sarrubbo disse que novo plano contra violência no Brasil prevê investimento em inteligência e integração entre estados

Publicado em 28/06/2024 às 12:16 | Atualizado em 28/06/2024 às 12:32
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Em meio à expectativa para o lançamento de um plano de combate à violência no Brasil, o secretário nacional de Segurança Pública, Mário Luiz Sarrubbo, afirmou que uma das metas principais será a retomada de territórios que atualmente são dominados pelo crime organizado, sobretudo os grupos especializados no tráfico de drogas. 

"O crime organizado tem feito, em alguns espaços, o papel de governo. Estamos criando um modelo, que queremos implantar em todo o Brasil, que possa efetivamente levar cidadania para as pessoas. Queremos retomar territórios dominados pelo crime organizado. Mas isso não depende só de uma ação policial. A polícia entrou, prendeu o traficante, apreendeu a droga, mas isso envolve também o dia seguinte. Senão, nós vamos apenas girar o crime organizado naquela região", afirmou Sarrubbo, em entrevista exclusiva ao JC nesta sexta-feira (28). 

O secretário nacional conversou com a reportagem momentos antes de participar de um seminário promovido pela Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da Câmara dos Deputados, na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), no bairro da Boa Vista, área central do Recife. O encontro, que contou com secretários estaduais do Nordeste, atendeu ao requerimento do deputado federal Coronel Meira (PL/PE). 

Mário Luiz Sarrubbo, que atuou por 34 anos no Ministério Público de São Paulo, reforçou que a integração é o principal foco da atual gestão do Ministério da Justiça e Segurança Pública como forma de combater as organizações criminosas no País. 

"Enquanto o crime organizado é uno, o Brasil está repartido em pelo menos 27 unidades diferentes, cada um fazendo a sua política. Nós precisamos ter um alinhamento, independentemente da matriz ideológica de cada um. Precisamos ter uma centralização nessa política para que ela possa ser efetiva, porque o crime organizado está de norte a sul", pontuou. 

"O maior investimento que a gente pode fazer hoje para combater o crime organizado é em inteligência, em mecanismos que possam desestruturar a criminalidade organizada. É preciso transformar o Brasil num grande centro de inteligência que possa dar as respostas à altura. Precisamos também olhar nossas fronteiras, avançar com centros de inteligência e operações", complementou. 

REUNIÃO COM CONSÓRCIO NORDESTE EM JULHO

O secretário reforçou que pretende ampliar o debate com os estados para criar um planejamento efetivo contra os crimes. 

"Democraticamente, nós queremos discutir com todos. Com todas as regiões do País, com todas as matrizes políticas, para que a gente possa ter, dentro de um sistema democrático, uma melhoria significativa na segurança pública no País."

Ele disse que, em julho, vai se reunir com o Consórcio Nordeste para ouvir secretários estaduais e contribuir com ideias para uma política de segurança mais efetiva - a partir das peculiaridades de cada região.

No Atlas da Violência 2024, publicado no começo do mês, cinco municípios da Bahia com mais de 100 mil habitantes lideram em número de mortes violentas intencionais. Em 8º lugar, aparece o Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife, que há anos sofre com o avanço do tráfico de drogas e de facções que disputam o domínio de territórios. 

"Pernambuco padece do mal que está assolando todo o Brasil: criminalidade organizada, tráfico de entorpecentes, uma localização muito próxima da Europa. Por isso, é muito importante que a gente esteja aqui, ouça, dialogue e possa entender as peculiaridades regionais. A partir desse diálogo, a ideia é construirmos políticas que possam ser abrangentes", disse. 

VALORIZAÇÃO DAS POLÍCIAS

Durante pronunciamento no seminário realizado na Alepe, Sarrubbo destacou que é preciso um olhar especial para as polícias, com a valorização das carreiras desses profissionais. Além disso, pontuou que é preciso ampliar os efetivos nos estados.

"Será que nós temos efetivos suficientes em nossos estados? Precisamos dialogar, chamar os consórcios para debater e entender as dificuldades", declarou. 

Em Pernambuco, por exemplo, o Portal da Transparência prevê um efetivo de 27 mil policiais militares. Mas, atualmente, há cerca de 16 mil na ativa. No próximo ano, a corporação promete formar pelo menos 2,6 mil novos profissionais - diminuindo o déficit histórico. 

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