Desafios do Recife: ações de prevenção social precisam ser adotadas para reduzir crimes

Reportagem sobre segurança pública compõe série do JC sobre os desafios para quem estará à frente da capital pernambucana a partir de 1º de janeiro

Publicado em 08/08/2024 às 23:30 | Atualizado em 28/08/2024 às 9:38

Diante do avanço da criminalidade no País, a união dos poderes para fortalecer a segurança pública é primordial. Não há mais espaço para o velho discurso político de que as ações contra a violência cabem apenas aos governos estaduais. Os municípios têm o papel de desenvolver programas voltados à prevenção social, sobretudo para diminuir a situação de vulnerabilidade dos adolescentes e jovens nas periferias - principais vítimas da violência letal. 

Quem estiver à frente da Prefeitura do Recife nos próximos quatro anos, precisará desenvolver um plano com ações a curto, médio e longo prazo, fortalecendo atividades esportivas, culturais, de lazer e voltadas à educação e empregabilidade. Mas não poderá sair do radar do gestor municipal a preocupação com a melhoria da infraestrutura dos bairros e a iluminação pública - tão necessária para inibir crimes contra o patrimônio. 

De acordo com a Secretaria Estadual de Defesa Social (SDS), 407 pessoas foram assassinadas entre janeiro e junho deste ano. Quase 52% das vítimas tinham entre 12 e 29 anos. Além disso, quase a totalidade dos adolescentes e jovens mortes tinha alguma ligação com atividades criminais.

Sem estudo, sem emprego e sem a devida assistência do poder público, muitos dos adolescentes e jovens de territórios periféricos são facilmente atraídos por organizações criminosas especializadas no tráfico de drogas e armas, com promessas de dinheiro em pouco tempo e melhoria de vida. 

Realidade que atinge não só a capital, mas toda a Região Metropolitana. Por isso, a importância de um olhar mais atento a essa faixa etária. 

"Os municípios têm papel importante na redução da violência a partir das políticas de assistência social, cultura e educação. Usar essa proximidade a fim de prevenir a vitimização desses jovens pode, sim, reduzir os números alarmantes e recorrentes na Região Metropolitana do Recife. Os municípios podem, inclusive, implementar planos municipais de segurança pública, com ações que visem diminuir e até mesmo resolver os problemas que cada um possui", pontuou Ana Maria Franca, coordenadora regional do Instituto Fogo Cruzado em Pernambuco. 

"Mas isso só é possível a partir de diagnósticos e dados, porque a violência é um fenômeno social dinâmico que tem contornos diferentes em contextos diferentes. Os municípios sempre podem incluir a sociedade civil em todos esses processos a partir da implementação de conselhos e fóruns municipais", completou. 

Com maior extensão territorial e populacional, o Recife liderou entre os municípios da Região Metropolitana em número de tiroteios e mortes por armas de fogo no primeiro semestre deste ano. Ao todo, o Fogo Cruzado contabilizou 389 disparos, com 286 pessoas assassinadas e 160 feridas na capital. 

Thiago Lucas/ Design SJCC
Violência no Recife - Thiago Lucas/ Design SJCC

COMPAZ COMO INSTRUMENTO DE PREVENÇÃO

Hoje, no Recife, não há plano de segurança urbana. A prevenção cidadã se resume aos Centros Comunitários da Paz (Compaz), equipamentos que realizam atividades de esportes, cultura e lazer, cursos e mutirões jurídicos e de saúde. 

PCR/DIVULGAÇÃO
Compaz é exemplo de iniciativa de prevenção social no Recife - PCR/DIVULGAÇÃO

Há seis unidades atualmente, localizadas nos bairros do Alto Santa Terezinha (inaugurada em 2016), Cordeiro, Caxangá, Joana Bezerra, Ibura e Pina (entregue recentemente). 

A iniciativa inspirou, inclusive, a criação dos Centros Comunitário pela Vida (Convive), projeto anunciado pelo governo federal no mês passado e que vai contemplar 30 cidades de 24 estados

Na avaliação do cientista social Derick Coelho, os equipamentos contribuem para a prevenção social, mas outras ações são necessárias nos bairros para garantir a redução da violência.  

"O Compaz precisa ser ressignificado e compreendido como um equipamento que está indo para as comunidades, mas que só atende até um certo limite. Ele não consegue sanar ou dar conta de tudo o que está no contexto do território. É preciso a compreensão de que segurança pública é para além de atividade cultural ou lazer, mas também envolve infraestrutura, saneamento básico, moradia, alimentação", pontuou. 

ILUMINAÇÃO PÚBLICA 

JAILTON JR./JC IMAGEM
Rua João Fernandes Vieira, Boa vista - JAILTON JR./JC IMAGEM

O investimento em iluminação pública também precisa ser ampliado na capital pernambucana, porque há o entendimento de que ruas mais escuras aumentam a incidência de crimes, sobretudo os assaltos.

Nos últimos anos, a iluminação melhorou no Recife, mas ainda há trechos de avenidas - inclusive de grande movimentação - que precisam de atenção do poder municipal. Na semana passada, a reportagem do JC flagrou trechos das avenidas Boa Viagem, na Zona Sul, e da Agamenon Magalhães, na área central, às escuras. 

A falta de iluminação também foi observada em trechos da Rua João Fernandes Vieira, no bairro da Boa Vista, e na Rua 13 de Maio, em Santo Amaro. 

No Recife, 1.624 queixas de roubo foram somadas em julho. O crescimento foi de 29,6% em relação ao mesmo período de 2023, quando 1.253 casos foram contabilizados. Esse foi o segundo mês consecutivo de aumento. 

Em setembro do ano passado, a prefeitura lançou o Programa Ilumina Pedestre, contemplando os principais corredores de transporte público e vias de alta volume de pedestres. Os postes são diferenciados, mais baixos, focados nas calçadas.

Avenidas como a Cruz Cabugá, em Santo Amaro, e a Conselheiro Aguiar, em Boa Viagem, receberam o reforço na iluminação. 

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