Troca de informações entre instituições é desafio no combate ao crime organizado no País

Descapitalização das organizações criminosas e interrupção da lavagem de dinheiro estão entre as metas para desestimular o avanço das facções

Publicado em 16/08/2024 às 10:01

Está mais do que claro para as instituições brasileiras ligadas à segurança pública que não há mais tempo a perder. É preciso agir rápido, mas de forma muito planejada e com inteligência, para combater o avanço do crime organizado. E a integração é a palavra-chave, mas ainda um desafio no País.

No 18º Encontro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que aconteceu no Recife, o combate às organizações criminosas, sobretudo as que agem em nível nacional, foi um dos temas centrais das discussões. 

Ricardo Andrade Saadi, diretor de Investigação e Combate ao Crime Organizado e à Corrupção da Polícia Federal, afirmou que o trabalho tem se concentrado na descapitalização das organizações criminosas e no combate à lavagem de dinheiro.

"A gente tenta fazer com que essas organizações não tenham estímulo para novos crimes", pontuou. 

Mas, segundo ele, um dos desafios é melhorar a integração entre as forças de segurança do País. "É necessária uma cooperação entre as forças. Até hoje é difícil entre as instituições trocar informações. A gente tem que cooperar para alcançar o objetivo de combater as organizações."

Saadi citou a criação da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (Ficco), que é coordenada pela Polícia Federal e conta com membros das polícias Civil, Militar, Penal, Rodoviária Federal, entre outros. Cada estado do País já conta com uma Ficco. 

"Em alguns estados está funcionando muito melhor, em outros ainda está se desenvolvendo. Mas essa união tem contribuído com a inteligência. A partir das forças, são desenvolvidos relatórios mensais sobre as organizações criminosas, que são enviados para Brasília. Precisamos entender melhor como age o crime organizado. O resultado não vai vir de forma imediata, mas precisamos entender como fazer uma política de segurança correta", explicou.

MAPEAMENTO DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS

O coordenador de Análise de Redes Criminosas Transnacionais da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Pedro Mesquita, que também participou do encontro nacional, afirmou que está sendo desenvolvido um projeto junto com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública para mapear as organizações criminosas que agem no País, para entender, entre outros critérios, qual a influência delas em cada um dos territórios.

"O estudo vai dimensionar o crime organizado, trazendo um diagnóstico setorizado. Vamos entender como os grupos se espalham nos territórios de cada Estado, a complexidade desses grupos, além de avaliar, por exemplo, a participação deles nas mortes violentas e a capacidade que têm no ataque às instituições do Estado", disse.

Um mapeamento realizado entre 2022 e 2024 indicou que há, no País, 88 organizações criminosas. Duas delas, Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV), atuando em nível nacional.

O Nordeste é a região que mais conta com a atuação dessas organizações. Há ao menos 53 delas. Em segundo lugar está o Norte, com 24. É importante destacar que parte das facções age em mais de um estado brasileiro. 

Pernambuco conta com ao menos sete: Bode do Nike, Bonde da União, Bonde dos Cachorros, Comando Litoral Sul (Trem Bala), CV, Okaida, PCC. 

A Abin também está em fase inicial de estudos para mapear as milícias no País. 

"O esforço será feito para identificar se há milícias semelhantes às que estão no Rio de Janeiro. Queremos saber se esse modelo se repete em outros estados e como esses grupos se manifestam", contou Pedro Mesquita.

RETOMADA DE TERRITÓRIOS

Presente no fórum, na última quarta-feira (14), o secretário nacional de Segurança Pública, Mário Sabburro, afirmou que o Nordeste deve ser a primeira região a receber o projeto-piloto que desenvolvido para retomar os territórios que estão sob o domínio do crime organizado.

O projeto está sendo criado em parceria com universidades, sociedade civil, estados e municípios. A ideia, segundo ele, é que, imediatamente após operações policiais, esses espaços permaneçam ocupados pelo Estado e que contem com ações de cidadania para os cidadãos.

"Nós estamos idealizando algo que possa ser feito com muito trabalho prévio e profundo de inteligência, analisando a economia do crime no local, para que haja num primeiro momento essa atuação das forças (policiais), mas, imediatamente após, como eu gosto de dizer, que se finque a bandeira da cidadania, envolvendo a União, envolvendo o Estado, envolvendo o município, para que aquele território possa ser um novo elo de cidadania na nossa população", declarou.

"A gente quer que as pessoas possam desenvolver seus próprios negócios, que os jovens possam estudar, praticar esportes e se formar em cidadãos, efetivamente cidadãos, sem o crime organizado tutelando. Até mesmo mediação de conflito está no projeto, porque a gente sabe que o crime organizado hoje, muitas vezes, cuida da mediação de conflitos nessas comunidades", afirmou.

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