Direto do Havaí, Carlos Burle fala sobre a pandemia do Coronavírus

Alexandre Gondim
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Alexandre Gondim
Publicado em 27/03/2020 às 17:07 | Atualizado em 27/03/2020 às 17:14
Acervo Particular
Carlos Burle frequenta desde 1988 a ilha de Oahu no Havaí. - FOTO: Acervo Particular

Entrevistei o campeão mundial de ondas gigantes, o pernambucano Carlos Burle, que esta em isolamento voluntário na ilha de Oahu no Havaí. Ele falou sobre seu dia-a-dia, como esta o surfe na "meca" do esporte e o que ele pensa sobre as ações para evitar a proliferação da pandemia do novo Coronavírus.

"Quero pedir a todos que coloquem os pés no chão, não pensem em si próprio e sim no bem de todos para um resultado positivo a médio e longo prazo. É importante dizer que a saúde mental é super importante. Ter medo ou pânico nesses momentos de incertezas, insegurança e instabilidade vai gerar um dano muito maior pra saúde de todos. Sem falar no lado financeiro e na instabilidade social que pode piorar muito, peço por favor que não criem esterias, sem fanatismo de direita ou esquerda, vamos focar no equilíbrio que é o mais importante.

Se eu não tivesse equilíbrio e tranquilidade, não surfaria as ondas que eu surfo, eu estaria morto. E essa é a maior lição que a vida de surfista de ondas grandes passou para mim. Ter calma para tomar decisões corretas em momentos de estresse. Vamos ser isentos de egoísmo e de querer fazer política e jogar com o povo nesse momento, não é isso que a população quer, não é isso que merecemos, estamos no meio de uma aprovação enorme, justamente para nos questionarmos e respeitarmos mais o próximo.

Cheguei no Havaí no dia seis de fevereiro, já era para ter voltado e não consigo. Estou louco para desembarcar no Brasil, ter de volta minha rotina e ajudar a restabelecer a ordem social no país que amamos.

Dentro do comprometimento de ficar isolado e evitar o convívio social, acordo cedo antes do sol nascer faço uma prática física e depois vou administrar os negócios do Brasil. Eu tenho uma empresa com funcionários e tenho que administrar tudo isso, como estamos a sete horas de diferença do fuso horário brasileiro, quando eu acordo já está de tarde no Brasil e eu só tenho meio período pra trabalhar em relação ao horário brasileiro, minha manhã é muito corrida. Com minha esposa cuido da criança, vejo os exercícios online da escola dele, cuidamos da sua alimentação.

A tarde eu tiro para me movimentar, fazer exercícios, fazer contas e ler. Antes da biblioteca pública ser fecaha aqui no Havai peguei vários livros, vejo filmes quando dar tempo. Por incrível que pareça estou tendo mais trabalho com a quarentena. Estamos mantendo a mente equilibrada e o corpo sadio, dando exemplo e ficando em casa.

Eu não surfei por decisão própria, aqui no "North Shore do Hawaii" as praias não ficaram fechadas só os parques fecharam e não tem mais salva vidas nas torres de controle da praia. A minha opção em não surfar foi para apoiar a decisão das entidades, governos e das autoridades do Brasil, entendi que a epidemia havia chegado e que nos devíamos lidar com ela da melhor forma possível, mas agora peço para as pessoas questionarem esse movimento todo, qual foram os resultados e se o isolamento continuar onde ele vai chegar. Como seres racionais devemos nos questionar sempre.

Passado todos esses dias de confinamento e entendendo melhor como a epidemia reage no mundo e vendo os números. Eu percebo que devemos reavaliar a forma de lidar com ela. O resultado vai ser bem pior se esse isolamento continuar por muito tempo, não estou falando do número de mortes e do alastramento da pandemia. Acredito que a maioria da população mundial vai ter contato direto com vírus e vamos criar uma imunidade, não é questão de pensar em uma classe ou uma faixa etária só, temos de pensar em um mundo inteiro. Se tivermos a capacidade de raciocinar como sociedade devemos nos questionar se a maneira de lidar com essa pandemia está sendo a melhor possível.

Esse momento é muito triste, mas serve para conectar toda a sociedade mundial, servirá para rever nossos valores, nossas atitudes, a maneira como vivemos, nossa interdependência e conexão, estamos passando por muitos desafios. Eu acredito que estamos lidando com esse desafio de forma inexperiente. Nunca enfrentamos um desafio desses em uma época tão conectada, tudo que acontece hoje se multiplica rapidamente nas redes. É como uma onda que as vezes quebra de um lado, depois quebra de outro, e deixa todo mundo confuso. É uma pandemia de comportamento humano, teremos muito aprendizado."

Sobre o adiamento dos Jogos Olímpicos do Japão 2020 Burle diz: "É uma pena ter um evento como as olimpíadas adiado, mais eu entendo que essa decisão deve ter sido tomada pensando no melhor para humanidade e temos que apoiar e esperar. Nesse momento tem coisas mais importantes.

Sobre meu trabalho de técnico do Lucas Chumbo, ele esta em Maresias (SP) treinando com o Gabriel Medina, enquanto eu tiver que ficar no Havai, com os voos cancelados. Estamos fazendo o possível para nos mantermos saudáveis e colaborando para não ser irresponsável em um momento desses.

Quando tudo isso passar quero voltar a vida normal, trabalhar muito, absorver os aprendizados, contribuir para que o momento de recuperação da estabilidade social aconteça da melhor forma possível e voltar logo para o Brasil."

Vamos torcer pra tudo dar certo. Saúde!

Acervo Particular
Carlos Burle com o troféu de campeão mundial de ondas gigante - FOTO:Acervo Particular
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Carlos Burle em seu quintal no Havaí - FOTO:Acervo Particular
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Carlos Burle ministra aulas onlines de preparação física para o surfe durante quarentena - FOTO:Acervo Particular

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