Um surfista pernambucano na Academia Brasileira de Letras

José Paulo Cavalcanti filho, o primeiro surfista de Pernambuco foi eleito membro da ABL.

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Alexandre Gondim

Publicado em 26/11/2021 às 16:16
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Em um tempo que surfistas eram taxados de alienados, malandros, vagabundos, na praia de Boa Viagem em Recife o jovem Zé Paulinho passava seus dias junto dos amigos se divertindo praticando tudo que aquele ambiente democrática e naturalmente livre oferecesse. Mergulho, Futebol, natação e " jacarés", a forma de deslizar usando a energia das ondas que quebravam naquela faixa de mar na frente do Edifício Acaiaca entre duas linhas de arrecifes que criavam possibilidades para sua diversão.

Até que em um dia pela manhã do ano de 1965 com uma prancha que trouxe do Rio de Janeiro, " Zé Paulinho" dropou sua primeira onda em pé e inaugurou o esporte "dos reis havaianos " no litoral pernambucano, que até então, as ondas eram no máximo desfrutadas com pessoas deitadas em pedaços de madeirite.

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Ele era cnhecido na praia como Zé Paulinho - Alexandre Gondim/@blogdosurfe

Seu feito foi visto por seus amigos que logo seguiram "os passos" ou melhor as remadas do jovem e logo formaram um grupo chamando a atenção da sociedade e da mídia da época como noticiou o Jornal do Commercio anunciando o surgimento de uma nova cultura primeira.

Ontem, 25/11, a Academia Brasileira de Letras - ABL escolheu o pernambucano José Paulo Cavalcanti filho para ocupar a cadeira 39 que era do ex-vice presidente da República Marco Maciel. Formado pela Faculdade de Direito do Recife, o advogado de 73 anos tem livros publicados em 12 países, entre os quais "Fernando Pessoa — Uma quase autobiografia" (2011). Uma das maiores autoridades brasileiras na obra do português, Cavalcanti também é o maior colecionador de objetos pessoais do poeta.

Assim a ABL colocou um surfista no rol dos mais importantes intelectuais do Brasil, um surfista ao lado, no mesmo patamar de nomes como Zuenir Ventura, Ferreira Gullar, Ariano Suassuna, Rachel de Queiroz, João Cabral de Melo Neto, Jorge Amado entre outros. É o que faltava para por fim no estigma criado de que um jovem amante da natureza, ligado a vida pura de uma cultura natural vestindo calção e pé descalços na areia não teria futuro, não teria cultura e uma profissão. Hoje somos intelectuais, jornalistas, médicos, juízes, padres, atletas olímpicos, jovens bem-sucedidos com uma carreira milionária, garotas propagandas de uma vida saudável e exemplo para futuras gerações.

Cera vez ele me disse sobre o tempo que surfava: "Memória de um tempo em que éramos mais jovens, mais magros e provavelmente mais felizes. Foi com rigorosa e absoluta certeza a melhor experiência sensorial da minha vida, só sabe o prazer incomparável do que é pegar uma onda quem já pegou. Não adianta dizer isso a quem não pegou, porque ele não vai entender. É uma sensação inebriante". Confessou o mais novo integrante da ABL

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José Paulo Cavalcanti sendo entrevistado por Alexandre Gondim - Alexandre Gondim/@blogdosurfe

Pesquiso a história do surfe, em especial a de Pernambuco, e esse texto de hoje é um "spoiler" do livro que escrevi sobre o pioneirismo da primeira geração do surfe pernambucano e seu legado. É uma homenagem a minha turma de amigos do colégio Santa Maria que me apresentou esse esporte maravilhoso de deslizar sobre as ondas. É sobretudo a resposta para minha curiosidade em saber quem foi o primeiro surfista pernambucano. Por duas décadas pesquisei o tema e em breve estará publicado em livro para você poder aprofundar seus conhecimentos sobre a história do surfe pernambucano.

Parabéns José Paulo Cavalcanti Filho, o surfe agradece.

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