Crônica: Elvis Presley não morreu, pelo menos na Agamenon

Publicado em 08/06/2014 às 19:11
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Foto: Ricardo Labastier/JC Imagem Foto: Ricardo Labastier/JC Imagem Elvis in Concert. Tava ainda despertando, quando olhei de lado e me deparei com o canhoto do ingresso esverdeado sobre o funcionário com deficiência oral (o popular criado mudo, minha senhora). Fechei os olhos. Abri os olhos, e continuava lá, o canhoto, com o Elvis in Concert. Por um breve momento temi ter voltado no tempo. Lia na época um livro de Stephen King sobre um cara que viaja ao passado pra tentar evitar que o presidente John Kennedy seja assassinado. Porém eu tava no presente, Kennedy tinha levado o tiro (ou os tiros) em Dallas 50 anos antes, e Elvis havia morrido em 1977. Quando a mim, me conferi, puxei cabelos, encarquei a barriga com o indicador. Dúvidas dirimidas. Continuava vivo, em outubro de 2013. O Elvis in Concert tratava-se de um show que vi na noite anterior, a trabalho. A trabalho, modo de dizer, porque de qualquer forma eu não teria deixado de conferir ao vivo um dos maiores guitarristas vivos, James Burton. O Elvis in Concert é uma turnê que roda o mundo com a banda e o grupo vocal Sweet Inspiration, que se apresentavam com Elvis nos anos 70. Rolou no Chevrolet Hall, e só não foi perfeito, porque o cantor não apareceu. Aliás, foi o único show que vi até hoje em que todo mundo queria que o cantor desse uma de Tim Maia, e não viesse. Elvis não veio. Sua presença limitou-se a uma figura supostamente holográfica quando as cortinas se abriam, e no telão, a voz em sincronia com o acompanhamento ao vivo, e o coro. Foi um dos mais estranhos concertos a que tive oportunidade de assistir. A plateia comportava-se como se o Rei do Rock tivesse presente. Quando começou, com a abertura de Also sprach Zaratustra, de Richard Wagner, uma ensurdecedora ovação de assovios e palmas. No final, depois do bis, com I can't help to fall in love with you, parte do público correu pra perto do palco, como é comum, em concertos convencionais, pra tocar no ídolo, receber um aperto de mão, um suvenir. Receberam apertos de mão e sorrisos de James Burton e do resto do grupo. Me senti meio que numa sessão espírita, com trilha sonora. Fomos embora, eu e o fotógrafo Ricardo Labastier, no carro do jornal. Quando a gente pegou a Agamenon Magalhães, eis que vimos Elvis Presley caminhando sozinho, tranquila e destemidamente, pela margem, mal iluminada, parcialmente encoberta por arbustos, da avenida. Trajava aquele macacão branco que O Rei do Rock devia usar até pra dormir. A diferença é que nas costas deste macacão tinha estampado um escudo do Santa Cruz. O Elvis obviamente era um fã trajado como Elvis. Acho que ele ia apanhar um ônibus na Cabugá, perto do Shopping Tacaruna. Temi por sua vida, que o lugar tava ermo e escuro. Conferi depois no noticiário policial. Felizmente, nada sobre o Rei do Rock, que vimos naquela noite, correndo perigo. Logo, minha senhora, Elvis não morreu. Pelo menos o Elvis tricolor. Confiram a abertura do Elvis in Concert, no Chevrolet Hall: https://www.youtube.com/watch?v=oMDc9eKvSjo

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