Livro conta bastidores de 15 sambas de enredo

Publicado em 16/02/2015 às 19:59
Leitura:
enredo_do_meu_samba-355940 O enredo do meu samba - a história de quinze sambas-enredo imortais, de Marcelo de Mello (Record, 366 páginas, R$ 32) traz uma abordagem diferente dos sambas de enredo, acrescentando mais um título a um tema que já conta com uma bibliografia considerável. Houve um tempo em que as escolas desfilavam cantando sambas que não morriam na passarela, como sucesso efêmero do Carnaval baiano. Muitos se tornaram clássicos do gênero e foram tocados no Brasil inteiro, alguns no exterior.  Numa época em que o povo não estava com o gosto embotado pelo brega, por uma música que é um fim em si mesma, e não vai além de quem a gravou, o rádio tocava, e o povo cantava, sambas-enredo de letras longas, como a Aquarela brasileira, de Silas de Oliveira (1916/1972), feita para o Império Serrano, em 1964. O samba, composto para a Império Serrano, ficou em segundo lugar , perdendo para o hoje esquecido O segundo casamento de Dom. Pedro I, enredo da Portela, mas o tempo lhe faria justiça. Regravado por, entre outros, Martinho da Vila, Elza Soares, Dudu Nobre, e Zeca Pagodinho. O autor conta a inteira história do samba de Silas de Oliveira, contextualiza o enredo, e lembra que quem popularizou Aquarela brasileira foi o próprio Martinho da Vila, num LP conceitual, Maravilha de cenário, de 1975. Marcelo de Mello, jornalista de O Globo, e jurado do Estandarte de Ouro, conta os bastidores de cada um desses sambas, porém só entraram composições feitas até 1993, antes das escolas se transformarem, como ele aponta no livro, Superescolas S.A. Esta música chata, em ritmo de marcha, em que se tornou o samba enredo, ou samba de enredo, já foi um dos trunfos das escolas, dos compositores e de gravadoras. Estrelas da MPB faziam sucesso com eles, como foi o caso de Caetano Veloso com É hoje ("Diga, espelho meu/se há na avenida/alguém mais feliz que eu?"), de Didi e Mestrinhom composta para a União da Ilha, em 1982. Muita gente acha que a composição é de Caetano. Aliás, o Didi “era o advogado e procurador da República Gustavo Adolpho de Carvalho Baeta Neves”. Alguns sambas têm curiosidades, como acontece com Os sertões, da Em cima da hora, de 1976, de Edeor de Paula. Foi o enredo de um desfile desastrado para escola que, devido à chuva, só conseguiu botar na avenida apenas o abre-alas. Chegou-se a duvidar que Edeor houvesse realmente feito a letra do samba. Ele estudou apenas até o equivalente hoje ao oitavo ano da escola fundamental, e foi a primeira vez que leu o livro de Euclides da Cunha. Tomou até a ousadia de mudar a clássica frase do livro "O sertanejo é antes de tudo um forte", por "O sertanejo é forte" para se encaixar na métrica da letra. O samba foi composto em 17 dias. O enredo do meu samba é outro modo de contar a história das escolas de samba, de como elas, e o que os enredos, foram, e o seu papel secundário neste espetáculo, inegavelmente grandioso mas sem alma, que a TV Globo transmite para todo o país, sem se perguntar se o telespectador de Pixoxó do Miririm, nos confins de algum estado nordestino tem interesse em assistir ao desfile carnavalesco da Marquês de Sapucaí. Confiram Aquarela Brasileira, de Silas de Oliveira: https://www.youtube.com/watch?v=PbHE0N_siAs    

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