A Música de 1966 (16) - O Folk Pop Sombrio dos Mamas and The Papas

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JC

Publicado em 18/07/2016 às 5:56 | Atualizado em 13/11/2023 às 16:45
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mamas and the papas red John Phillips, Cass Elliot, Denny Doherty and Michelle Phillips, a formação do Mama and the Papas, em 1966, quando gravou o primeiro, melhor, e mais bem sucedido álbum da banda, If You Can Believe Your Eyes And Ears, lançado pela Dunhill Records, do produtor Lou Adler, um dos tycoons da música pop da Califórnia nos anos 60. Duas faixas tornaram-se standards da década California Dreaming e Monday, Monday, ambas de John Phillips, ou Papa John, a demais são clássicos menores, mas ainda assim clássicos. The Mamas and the Papas epitomizou os lados claro e sombrio do rock da Costa Oeste, e da turma do Laurel Canyon, nos arredores de Los Angeles. O local é célebre pela quantidade de estrelas do rock, e do cinema, que abrigou nos anos 60 – Jim Morrison, Frank Zappa, os integrantes dos Byrds, dos Monkees, Joni Mitchel, Graham Nash, entre muitos outros. Um trecho de puro hedonismo em L.A. Glamuroso, e farto em excessos: de boa música, dramas e drogas. Rendeu livros e filmes. Os integrantes da Mamas and the Papas vinham de experiências com grupos menores até se encontrarem em Los Angeles. Com um repertório quase todo escrito por John Phillips, arquitetaram estilo próprio, invertendo a mão da tendência em voga. Em lugar de levar o folk pro rock, trouxeram o rock pro folk. As bem executadas harmonias, com contracantos e contrapontos, continuavam folk, porém a instrumentação foi atualizada. A temática não seguia linha de protesto político, nem social (com algumas exceções). Tinha ver com o cotidiano do grupo, muitas são confessionais. Além disso, davam roupagem diferente a hits do soul e rhythm & blues, a exemplo de The In Crowd (Dobie Gray, 1964), ou Dancing in the Streets (1963, Martha and the Vandellas), e Spanish Harlem (1960, Ben E.King). Reinterpretou também Beatles (I Call Your Name), mas o forte eram as canções autorais. John Phillips (1935/2001), não apenas foi o líder da banda, como um empreendedor que organizou o primeiro festival importante da década, o Monterrey Pop, em 1967. Prolifico, compunha hits para muita gente, e assina o hino do chamado verão do amor (o de 67), San Francisco (Be Sure To Wear Flowers in your Hair), lançada por Scott Mackenzie (ex-companheiro de Phillips no Three Journeyman. McKenzie integraria, anos mais tarde, uma das ultimas formação dos Mamas and the Papas). HITS E CONFLITOS If You Can Believe Your Eyes and Ears destacou além das grandes canções de John Phillips, a vocalista Mama Cass Elliot, afinada, suave, jazzy, uma das vozes marcantes dos anos 60, e do rock em geral. No entanto as harmonias vocais não condiziam com a harmonia interna do grupo. A cantora Michelle Phillips, casada com John Phllips, lourinha de ar belo e meigo, foi o principal pivô de conflitos dos conturbados Mamães e Papais. Depois de muitas escapadelas extraconjugais (que renderam alguns hits compostos pelo marido, como Go Where You Gonna Go, e I Saw Her Again), ainda em 1966, ele teve um caso com o vocalista Denis Doherty, o que levou Phillips a saca-la da banda. Michelle Phillips estaria de volta no disco seguinte. Chegariam a quatro álbuns, mas o grupo só se segurou até 1968. Desfez oficialmente em 1970. Michelle se tornou atriz menor em Hollywood, Mama Cass morreu de um infarto enquanto dormia, em 1974 (e não entalada com um pedaço de sanduíche, como reza a lenda). O canadense Denny Doherty faleceu, em consequência de um aneurisma, em 2007, em Ontario, Canadá. COM OS STONES John Phillips levou uma das mais atribuladas carreira solo entre as estrelas dos anos 60. Não emplacou mais hits, afundou-se nas drogas, vendeu direitos autorais para alimentar o vício. Conviveu com os Stones, principalmente Keith Richards na fase mais pesada do grupo inglês. A parceria com Keith Richards rendeu um ótimo e pouco conhecido álbum Pay, Pack, and Follow, produzido por Richards, que tem também a participação de Mick Jagger. Mick Taylor, Ron Wood e, claro, Keith Richards. O pop folk, geralmente ensolarado, que Phillips fez com os Mamas and the Papas, não bate com sua vida pessoal que inclui relacionamento amoroso com a filha Mackenzie Phillips (a garotinha rebelde de American Graffitti, de 1973, primeiro filme de George Lucas), detalhada por ela em sua autobiografia (de 2009). O caso durou dez anos, e foi consensual, afirma a moça, que também enfrentou sérios problemas com drogas.   John Phillips chegou ao fundo do poço. Foi preso por tráfico, escapou de uma pena de 45 anos de prisão. Viveu algum tempo na Inglaterra. Remontou o Mama and the Papas para turnês. Phillips submeteu-se a um transplante de fígado em 1992, mas continuou a beber. Morreu em 2001. Papa John, a autobiografia de Phillips não poderia ser mais reveladora. Ele não usa eufemismo, nem meia palavra. Vai a minúcias de uma das trajetórias mais hardcore da geração da paz e do amor. É leitura obrigatória para se entender que os tais anos dourados não foram tão dourados assim, e foram muito mais louco (no mau sentido), do que imaginam os new hippies. NO RECIFE No início dos anos 90, o Mamas and the Papas fez turnê brasileira, que chegou ao Recife. John Phillips, simpático e atencioso, era o único integrante da formação original. As vocalistas eram a filha, a citada Mackenzie Phillips, e Spanky McFarlane (da cena folk de L.A nos anos 60), e Scott McKenzie. Uma clara turnê caça níquel. A magia de 1966 há anos dissipara-se. Foi melancólico quando Scott McKenzie (falecido em 2012) cantou ”Se você for a San Francisco/não se esqueça de por flores em seus cabelos”.  Poucos testemunharam a passagem do Mamas and the Papas pelo Recife, que cantou para um pequeno público no Teatro Guararapes. Confiram The Mama and the Papas em Dream a Little Dream of Me: https://www.youtube.com/watch?v=ajwnmkEqYpo  

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