Tony Allen num tributo aos 70 anos da "volta" de Art Blakey à África

Publicado em 18/06/2017 às 23:28
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Art Blakey era conhecido entre os colegas bateristas, como “Thunder” (“Trovão”), o que diz muito do seu estilo, foi um dos responsáveis pelo hard bop, ou seja, o be bop com trovões. A ida à África, em 1947, foi primordial para o desenvolvimento de sua música. Embora ele tenha se convertido ao islamismo antes da viagem, adotado o nome de Abdullah Ibn Buhaina, e se aprofundado  na cultura africana, mas até aí era so a teoria. Há 70 anos, Art Blakey passou uma temporada de mais de um ano na África, principalmente em Gana (ainda colônia inglesa, tornou-se independente em 1957) e na Nigéria. Blakey sempre negou que o motivo da viagem à África foi pela musica. Queria conhecer ao continente de onde vieram seus bisavós (o baterista  nasceu em 1919), em busca de sua identidade (foi abandonado pelo pai, e perdeu a mãe quando criança). No entanto, Art Blakey sempre negou a influência da música africana no seu estilo, embora se aponte que foi depois da África que ele mudou até a forma de tocar. Passou, por exemplo, a apoiar o cotovelo sobre o tom-tom para mudar o timbre, como fazem os tocadores de tambores em Gana. Blakey também não via a África no jazz, para ele fruto de uma sociedade formada por várias raças. Mais ou menos o que outro jazzmen, Oliver Nelson constatou quando foi ao continente em 1969. Oliver surpreendeu-se porque os músicos africanos tinham dificuldade, ou não conseguiam, chegar à "blue note", um acorde próprio do blues. Então se deu conta de que o blues vinha da experiência do africano no cativeiro, em outras terras, não do africano livre.   Na percussão, particularmente, Art Blakey afirmava que os músicos africanos eram muito mais desenvolvidos ritmicamente do que os americanos que por sua vez, iam além na harmonicamente. Mas não apenas Art Blakey foi influenciado pelos percussionistas africanos (é claro isto, em seus discos dos anos 50, e 60, um deles intitulado The African Beat, de 1962), sobretudo de Gana, já que passou alguns meses no país, como influenciou músicos africanos. O nigeriano Tony Allen foi um destes. Allen, que criou com Fela Kuti a mescla de high-life com jazz batizada de afrobeat, vê claramente a influência da percussão de Gana na bateria de Art Blakey, sua maior, e confessa, influência. Os 70 anos da ida de Art Blakey à África é lembrado por Tony Allen, talvez o mais cultuado baterista da atualidade, no disco A Tribute to Art Blakey and the Jazz Messengers. Allen toca quatro temas de Blakey, Moanin’, Night in Tunisia, Politely e The Drum Thunder Suite. Allen, acompanhado por um hepteto, gravou o disco em Paris, onde mora, com produção de Vincent Taurelle, que trabalhou com ele no álbum anterior, Film of life. A grande influência de Blakey em Allen é o uso simultâneo de braços e pernas, como se fossem membros independentes, tocando em compassos diferentes. No entanto têm estilos diferentes. Tony Allen não bate forte, faz mais uso de pratos, e de sutilezas, o contraponto às longas improvisações de Fela Kuti e da AFrica 70, ou mesmo dos Koola Lobitos, o grupo formado por Fela e Allen, nos anos 60, que desaguaria no afrobeat. Tony Allen toca Art Blakey à sua maneira, o álbum poderia ter sido iniciado por The Drum Thunder Suite. No original de Art Blakey e os Messengers, de 1958, o tema é uma orgia percussiva, que o baterista soando como uma orquestra de tambores. Enquanto Blakey dispara raios e trovões, Tony Allen é como uma chuvarada, intensa, porém de ritmo cadenciado, com o baixo em destaque. Só a melodia permanece. A melhor faixa é o standard Night in Tunisia, com Tony Allen se aproximando mais do afrobeat, a bateria em contraponto com o baixo, o piano tocando um riff, enquanto trompetes entram com uma das melodias mais facilmente identificáveis do jazz. Moanin’, o tema, abre o disco, e a capa do álbum homônimo é reproduzida com uma foto de Tony Allen na bateria, e arte que lembra os discos da Blue Note dos anos 50. Politely, tema de 1960, é a quarta faixa do disco. Em ambas as versões o piano é o instrumento à frente, mas com Tony Allen o baixo tem, mais uma vez, papel de protagonista. O selo Blue Note também está estampado na capa de A Tribute to Art Blakey and the Jazz Messengers, que tem o defeito de ser um EP, com apenas 24 minutos de música. Confiram Tony Allen e grupo no áudio de Politely: https://www.youtube.com/watch?v=zINzk3gWmJw

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