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Debbie Harry em autobiografia que retrata a loucura da Nova Iorque dos anos 70

A vocalista da Blondie conta até um estupro que sofreu quando voltava de um show no CBGB

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Cadastrado por

José Teles

Publicado em 26/03/2020 às 23:29 | Atualizado em 27/03/2020 às 0:48
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Uma das melhores autobiografias do rock, Face it (2019, Harper/Collins), de Debbie Harry, da banda newwave nova-iorquina Blondie. Ela caiu de paraquedas no olho do furacão, Manhattan, no início dos anos 70, uma das épocas mais loucas de Nova Iorque. A lourinha, que também era da pá virada, conta tudo em detalhes, sem esconder os bons e péssimos momentos. Biografia só vale quando o próprio personagem vai fundo, não esconde nada, sem ódio e sem medo. A Blondie foi uma das bandas mais bem sucedidas do mundo entre final dos aos 70 e e medos dos 80.

 Um trecho do capítulo Born to be punk (Nascida pra ser punk)

“A gente estava feliz enquanto dava um rolê pelo Lower East Side (n- na época uma região barra pesada de NYC), de uma forma bem inocente, só querendo botar as coisas funcionando. Era sempre uma saída pra tocar no CBGB. Quando terminava, os músicos guardavam os instrumentos e saíam para rua, enveredando pela doçura da cidade, a noite transformando-se em dia. A brisa de Manhattan começando a soprar uma lufada de ar fresco. Uma noite, Chris (n- Stein, guitarrista da Blondie) invadimos uma bodega pra comer biscoitos com leite. Depois da bodega, esticamos mais dois quarteirões até o apartamento alugado por Chris.

Quando chegamos à porta naquela noite, um macho - nunca uso esta palavra, MS neste caso ela é bem apropriada – apareceu atrás da gente com uma faca. Ele era muito parecido com Jimi Hendrix, bem estiloso e cool. Vestia um sobretudo de couro. Seu olhar metálico, duro, muito sério. Queria dinheiro. O quê mais? Obviamente, alisamos depois dos biscoito e do leite. Chris estava com sua guitarra, uma Fender, em que ele fez uns chifres, ficou com forma de demônio. Tinha uma cor de mel bonita; A guitarra de Fred Smith (n-marido de Patti Smith), uma Gibson SG, vermelha escura, que Chris tinha pedido emprestada, estava no apartamento.

Jimi queria mais do que a gente possuía e insistiu em entrar no apartamento conosco. Pediu drogas.Chris disse que tinha um pouco de ácido no congelador. Mas este Jimi não era de ácido e ignorou a oferta. Walter, um amigo de Chris estava totalmente desmaiado na cama, e nosso convidado até que tentou tirar alguma coisa dele. Mas só perdeu tempo. Walter murmurou alguma coisa, e virou-se de lado.

Jimi usou uma velha meia-calça pra amarrar Chris ao suporte que segurava a cama, e usou um cachecol para amarrar meus pulsos nas costas. Então passou a procurar alguma coisa que valesse alguma coisa. Juntou as guitarras com a câmera de Chris, depois me desamarrou e me mandou abaixar as calças. Me comeu. Então disse, “Vá se limpar, e se foi. Jimi deixou o prédio (n-brinca com a frase que era dita depois dos shows de Elvis Presley).

E a gente se sentindo tão depois do show daquela noite. Uma deliciosa sensação de satisfação misturada com paquera. Então, pá! A adrenalina surgindo com uma faca na ponta. Não posso dizer que não senti um bocado de medo. Fico feliz que tenha acontecido na era pré-AIDS, ou teria pirado. No final, as guitarras roubadas me magoaram mais do que o estupro. A gente ficou sem equipamento. Chris tinha só um pequeno amplificador que captava a sirene da polícia e outros sons. Então, de repente outras bandas começaram a roubar nossos músicos. Olhando pro passado, parece absurdo que a gente tenha ficado famosos.

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