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One World e o Live AID: 35 anos separam os dois megaconcertos

O Live AID, sem publico conectado, foi visto por 1,9 bilhões

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José Teles

Publicado em 19/04/2020 às 17:06
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Teve quem achou chato o Live Aid, o megafestival beneficente acontecido em 1985, que arrecadou 36 milhões de dólares para as vítimas de uma das maiores secas que atingiu a África, sobretudo a Etiópia, no século 20. O igualmente beneficente One World: Together at Home, a megalive, apresentada nesse sábado, durante duas horas, no Youtube, e no Brasil, no Canal Multishow, foi entediante. Claro, apesar de merecer os maiores encômios, pelo que chamaram atenção para profissionais da saúde, que trabalham no fio da navalha, arriscando-se todos os dias para cuidar de pessoas contaminadas com a covid-19.
Arrecadaram-se 127,9 milhões de dólares com o evento, grana que vai ser distribuída, certamente, melhor do que a do Live Aid, que serviu até para o ditador da Etiópia comprar armas. Tire-se o desconto de que o pessoal estava em casa, sem puder contar com o aparato tecnológico com o qual se ampara no estúdio. Isto aliás, escancarou a fragilidade de muitos astros recentes. Suas músicas não se sustentam sozinhas sem a tecnologia que empregam quando gravam ou nos palcos.
Em 1985, as situações foram totalmente diferente. AIDS era o vírus temível da época, mas não se pegava com um simples aperto de mão, feito o coronavírus. Ganharia um superconcerto beneficente, em 1992, com o Queen à frente. O Live AID foi ideia do cantor Boy George, e organizado pelo irlandês Bob Gedolf, o escocês Midge Uri. Aconteceu Nos EUA e Inglaterra, nos estádios de Wembley, em Londres, e J.F Kennedy, na Filadélfia, na Pensilvânia. Foi transmitido em centenas de países, numa era em que só se conectavam tomadas, o Live AID foi visto por 1,9 bilhões de telespectadores mundo afora, bem mais do que a audiência do Onde World. A arrecadação foi de 36 milhões de dólares. Muito dinheiro, o equivalente hoje a 83 milhões de dólares (pela inflação americana).
O Live AID começou com um clipe da canção Do Tem Know It’s Christmas, realizado para arrecadar fundos para levar alimentos à Etiópia. As imagens mostradas na imprensa de pessoas morrendo de fome, sobretudo crianças eram chocantes. Lembravam o que aconteceu em Bangladesh, que ganhou um concerto beneficente, organizado por George Harrison, em 1971, que virou filme, disco, e arrecado 12 milhões de dólares. Bob Gedolf, hoje com um “Sir” antes do nome, que também esteve à frente da gravação da canção, da qual é co-autor com Midge Uri, e reuniu uma constelação de astros do Reino Unido e EUA Gedolf esperava arrecadar 70 mil libras, com o disquinho. Arrecadou oito milhões de libras.
O One World, organizado por Lady gaga, não tinha logística para ser dinâmico. Os artistas estavam em suas casas. Estrelas feito Beyoncé apenas falaram (durante um minutos e meio). Algumas performances se destacam, entre estas a da adolescente Billie Eilish, com o produtor, cantor, ator Finneas no teclado. Ela cantou Sunny, de 1966, uma canção pop que vem varando décadas, o que não acontecerá com a música de boa parte dos músicos que se apresentaram no World One. A de Billie Eilish, talvez não.
A audiência monstruosa do Live AID deve-se à popularidade dos nomes escalados. Ainda havia resquícios do rock épico dos anos 60 e 70, o Led Zeppelin, desfalcado, esteve lá, o Black Sabbath, The Who, Paul McCartney (cujos cinco minutos de Let it Be, tiveram dois inaudíveis por problemas técnicos). A geração da segunda década do século 21 é de nichos. Não sei ficou pregado de olho na telinha, do notebook, do celular, a TV. O fã de Kesha não devem ter visto os setentões dos Rolling Stones. Cada qual no seu quadrado sonoro. Os fãs de Anitta talvez tenham esperado pelos seus fugazes segundos de presença, e foram em busca de outras lives.
As lives estas, definitivamente, não serão as mesmas depois desta endemia. Embora a Internet esteja aí há tanto tempo, os músicos continuam a divulgar seus singles apelando para surrado clipe. Doravante os artistas e produtores vão repensar e aprender a explorar o potencial da live, fadada a substituir o DVD, sem sentido de existir, quando se tem tanta música, e áudio e com imagens em streaming.
O que uniu o Live AID com o One World foram os Rolling Stones, medalhões do tempo em que a TV inglesa em preto & branco. Eles fizeram um participação blasé, um playback sobre um regravação de You Can’t Get Always Want You Want It. Mick, Keith, Ronnie e Charlie, Todos com cara de, traduzindo o título da música, “Você não pode ter o que quiser”. E o que eles pareciam querer era pegar o beco, entornar umas e várias outras no pub que freqüentam. Charlie nem bateria montou.
O Live Aid foi menos chato, até pelas muitas falhas técnicas, prum programa visto em centenas de países. Equivale à apresentação dos Stones, no Live AID, a de outro medalhão, Bob Dylan, que adentrou o palco, o estádio J.F Kennedy, em Filadélfia, com Keith Richards e Ronnie Wood denotando claramente, pela maneira de falar que estavam altos. Mudou muito a música popular, e o mundo nestes 35 anos que separam a lombra do tédio. O que mais me chamou atenção no One World foi a decoração das salas do artistas. Geralmente com belos e confortáveis sofás, e cortinas elegantes, têm bom gosto.


 

 

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