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Wilson Pickett numa retrospectiva de hits e raridades

Uma coletânea feita sob medida para afastar o tédio no confinamento

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Cadastrado por

José Teles

Publicado em 28/04/2020 às 13:15 | Atualizado em 28/04/2020 às 17:53
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O filme chamou-se no Brasil Loucos Pela Fama, é de 1991, e o original intitula-se The Commitments, dirigido por Alan Parker. Um daqueles filmes que se tornam campeões de bilheteria quando os produtores investiram nele apostando no talento do diretor e quase certos recuperariam os botaram e ainda tirariam ainda algum lucro. Com orçamento curto, atores irlandeses jovens e desconhecidos, Loucos pela Fama não apenas foi extremamente lucrativo, como teve as melhores críticas e acabou como um musical bem sucedido na Broadway.
A história lembra a de That Things You Do (no Brasil, The Wonders - O Sonho Não Acabou, dirigido por Tom Hanks, em 1996, com atores jovens, e roteiro parecido. Ambos têm como tema uma banda, o primeiro de música pop, o segundo de soul. A primeira é americana, a segunda irlandesa. Ambas as bandas se acabam por problemas internas. The Commitments tem um repertório de soul dos anos 60, da Stax, com destaque para hits de Wilson Pickett, que chegou a fazer sucesso até 1974, quando a música disco foi sendo formatada, alicerçada pelo soul, mas sem comprometimento. A era de Aquarius já ia longe. O único movimento que interessava a turma da disco music era o dos quadris.
Assim como muitos outros soulmen, de sua época, a exemplo de Bill Withers, que acabaria deixando a carreira, Wilson Pickett gastou tudo que ganhou na época das vacas gordas. Agora é ralar, cantar para pouca gente, em casas pequenas, pelo interior, em outros países onde não teria ido no auge. Ganhava pouco, bebia muito, e se envolvia em confusões. Numa delas, ia tocar com os Isley Brother, desentendeu-se com dois do grupo, e deu dois tiros na porta do quarto onde estes se encontravam. Não por acaso, um dos epítetos de Pickett era “Wicked” (Malvadeza).
Ele esteve no Brasil uma vez, em 1972, para cantar no Festival Internacional da Canção, ainda continuava a fazer sucesso mundo afora, mas era pouco conhecido por aqui. Alguma coisa lhe desagradou no Rio, o que não era difícil de acontecer.Foi embora dizendo que não voltaria mais ao país. Sua música foi bastante tocada por aqui, e ele cultuado entre os descolados dos anos 90, por causa de The Commitments, estranhamente, ouvia-se mais Wilson Pickett pela trilha do filme, dublada pelo grupo fictícia, e gravada por músicos de estúdio.

Entre 1965, e 1969, Wilson Picket lançou uma série de canções acrescentando vários clássicos ao soul, por algum tempo dividindo atenções com James Brown. Mustang Sally, Ninety Nine and a Half (Won't Do), Land of 1000 Dances, If You Need, Everybody Needs Somebody to Love (estas duas gravadas pelos Rolling Stones em 1965), I'm a Midnight Mover, e a mais famosas de suas composições In The Midnight Hour
BOX
Pegando gancho nos 55 anos de In The Midnight Hour, chega às plataformas digitais, Wilson Pickett – Hits and Rarities. Ao longo de uma carreira de mais de 50 anos, ele esteve meia centena de vezes nas paradas, várias vezes nos primeiros e segundos lugares. Parte destes hits estão nesta compilação, raridades feito I Found Love part1 (a versão part2 está no álbum In the Midnight Hour.
Uma coletânea para se conhecer melhor a obra de um artista cuja obra é seminal. Em meados dos anos 50, como integrantes dos Falcons, ele contribuiu para a formação do soul, trazendo a música gospel para o pop. O soul de Wilson Pickett também foi esteio para o funk dos anos 70. Wilson Pickett faleceu em 2006, no ostracismo, com pouco dinheiro. Ganhou e gastou ainda mais. Porém quem mais faturou com sua música foram as gravadoras pelas quais passou. O explosivo soulman viva para o momento, teve vida difícil, no Alabama, onde nasceu. Desentendimentos com a mãe o levou a Detroit, onde morava o pai.
Uma vez numa entrevista revelou que não tinha estudado, e estava muito velho para voltar à escola Cometia algumas gafes que se tornaram folclóricas. Fez uma versão antológica de Hey Jude, com Duane Allman na guitarra, no estúdio da Stax, em Memphis. Quando terminou um take comentou que não entendia o que tinha a música a ver com judeu. Hey Jude ele achava que era Hey Jew (jew = judeu).


IN THE MIDNIGHT HOUR
Uma das músicas que epitomizam a soul music, e uma das mais importantes das canções mais tocadas do século 20, tem dois acordes (na gravação Steve Cropper, o guitarrista) faz algumas variações, mas até o final a música ampara-se nos dois acordes. Cropper conta que estava com Pickett no quarto de um Holiday Inn, e se lembrou de um trecho de música que o cantor assoviava. Pediu pra ele cantar, e foi acompanhando coma guitarra. Dois acordes eram mais que suficientes. As canções de Pickett levam o mínimo de acordes, o que importa é o groove, o balanço.
A música foi arranjada em estúdio, a energia do soulman impulsionando os músicos, basicamente a banda Booker T and the MGs, um dos mais azeitados conjuntos (e aí vale a palavra), dos anos 60, e da história da música popular da década. Booker T, no órgão, Steve Cropper, na guitarra, Donald “Duck” Dunn, no baixo, e Al Jackson na bateria. Com um naipe de metais.
In the Midnight Hour escalou rapidinho as paradas americanas e inglesas. Tocou mundo afora, foi copiada ene vezes, tornou Wilson Pickett um rival do soulman nº 1 James Brown. Mais tarde, na vacas magras, o cantor se queixaria de que deu as parcerias a Steve Cropper, que administrava a carreira melhor e deve ter estar ganhando dinheiro até hoje com In The Midnight Hour que, apenas nos EUA, mas de 150 regravações.

 

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