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Irmão no palco com irmão é sinal de confusão

Tanto faz no rock quanto no baião, Luiz Gonzaga e Zé Gonzaga não se davam bem

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Cadastrado por

José Teles

Publicado em 29/05/2020 às 12:28 | Atualizado em 29/05/2020 às 18:42
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Nesta sexta-feira, pelo twitter, Liam Gallagher parabenizou o irmão Noel, pela passagem dos seus 53 anos. Até aí nada de mais. Irmãos costumam proceder assim. Não os Gallagher, a dupla que criou a Oasis, uma das bandas inglesa mais badaladas dos anos 90. Os dois não se falam desde 2008, quando fizeram uma turbulenta turnê pelos Estados Unidos. No meio de um show, em Los Angeles, Liam Gallagher agrediu o irmão Noel com uma pandeirada na cabeça. As brigas entre os dois foram tão constantes enquanto estavam na mesma banda, que rendeu até um bootleg. Um single, com duas faixas, se músicas, apenas de xingações mútuas. Mas os irmãos Gallagher não foram pioneiros em refregas entre irmãos, e apenas ratificam que, quanto mais próximo o parentesco mas os desentendimentos.
E não precisa ir à Inglaterra para constatar o fato. Luiz Gonzaga e Zé Gonzaga não se davam, a ponto de Gonzagão tentar impedir que o irmão usasse o “Gonzaga” no nome artístico. Chamava-se José Januário Gonzaga do Nascimento. Nove anos mais novo do que Gonzagão, fazia-lhe pirraças que irmãos caçulas costumam fazer. Uma delas, no Recife, em 1953. Foram contratados para cantar na capital pernambucana. Luiz na Radio Jornal do Commercio, Zé na Rádio Clube de Pernambuco. O show de Gonzagão era fechado para pagantes. O de Zé Gonzaga aberto ao público, bancado pelo patrocinador. Foi apresentado e transmitido numa pracinha quase em frente à Rádio Jornal.
Extrovertido, mulherengo, farrista, e esbanjador, quando a carreira pegou, logo Zé Gonzaga passeava pelo Rio de carrão. Enturmado, Zé Gonzaga fez parte de uma caravana capitaneada por Assis Chateaubriand à Paris, tornando-se o pioneiro em levar o forró à Europa. Gonzagão foi convidado mas não fechou contrato. O irmão foi em eu lugar. Foi também para Buenos Aires. Viviam alfinetando-se um ao outro pela imprensa, mas de vez em quando partiam para a briga. Uma delas aconteceu no Centro do Rio, na calçada da Mayrink Veiga. Luiz e Zé se engalfinharam. Briga feita. Juntou gente. Durou o suficiente para Santana, a mãe deles, ser avisada e vir do Méier, Zona Norte carioca, para separar os filhos.
Brigavam menos porque não compartilhavam o mesmo palco, ao contrário de, por exemplo, Dave e Ray Davies, irmãos que integravam os Kinks, um dos mais elogiados grupos ingleses da década de 60. No auge da chamada invasão britânica, quando as bandas da Inglaterra tomaram conta dos EUA, e de lá, do resto do planeta. No auge da “invasão” Em 1965, na primeira turnê dos Kinks, pelos EUA, logo no início de um show, Dave reclamou de Ray Davies que estava completamente chapado, e dormiu debruçado numa caixa de som. O baterista Mick Avory, entendeu que os xingamentos eram dirigidos a ele, e agrediu Dave com um prato da bateria.
Foram tantas as brigas dos Kinks nessa turnê que o grupo foi proibido de entrar nos EUA durante quatro anos. O que explica ser uma das bandas mais populares na Inglaterra e ignorada fora dela. Os irmãos continuaram a brigar na terra natal, no entanto, ainda hoje, setentões, continuam a tocar juntos. Neste caso a briga esteve a favor da criatividade. Sem a preocupação de fazer sucesso nos Estado Unidos, os Kinks fizeram alguns dos discos mais refinados do pop britânicos na década de 60, entre uma e outra confusão entre os irmãos Davies.
SERTANEJOS
Nunca foi muito bem explicada o motivo para Luciano se recusar a ir para o palco com o irmão Zezé di Camargo, em 2011, no Teatro Guaíra, em Curitiba. Houve um quiproquó no camarim pouco antes do show. Zezé apareceu sozinho, disse que Luciano tinha ido embora e começou a cantar, sem que os fãs entendessem o que estaria acontecendo. Vinte minutos depois Luciano surgiu e continuaram em dupla. Mas desde então, os dois irmãos, segundo garantem pessoas, que convivem no círculo pessoal dos sertanejos, eles mal se falam.
OS FOGERTY
Tom e John Fogerty, irmãos de classe média baixa, da periferia de São Francisco, integraram a banda mais bem sucedida do final dos anos 60, a Creedence Clearwater Revival, passaram pro cima dos Beatles, com quem se comparavam por unir qualidade a popularidade. A diferença era que nos Beatles três integrantes eram compositores talentos e ótimos cantores, até o baterista embora em menor quantidade, saia-se bem. E o melhor: ninguém era da mesma família. Já no CCR o John do grupo fazia tudo. Era o cantor, guitarra solo e compositor. O irmãos Tom nunca se conformou em ser mandado pelo caçula. Em 1971, depois de muito quebra-de-braço com o irmão, saiu da banda, para uma carreira solo que não decolou. Morreu de AIDS, em consequência de uma transfusão. John Fogerty é hoje um dos mitos da música americana.
Enfim é raro juntar-se irmãos num banda e eles continuarem juntos. Isto vai dos escoceses da Jesus & Mary Chain, aos americanos/holandeses da Van Halen, e ainda Duane e Allman, d aAllman Brothers. O grupo de irmãos mais famosos dos anos 60, os Beach Boys, davam-se bem, à medida em que todos compreendenssem com os, digamos, parafusos a menos do líder Brian Wilson. Mas o primo Mike Love não concordava, e daí surgiu um racha, que perdura até hoje.
Os irmãos Gallagher ainda continuam insuperáveis. Chegaram a brigar numa coletiva, para gáudio de jornalistas e fotógrafos. O relacionamento entre os dois vai além do show bizz é algo que a psicanálise talvez explique. Decididamente irmãos não devem ser estar na mesma banda. Nos Jacksons, por exemplo, Germaine, o mais velho, implicava com o irmão novo e imensamente mais talentoso, Michael. As brigas fraternas não pouparam nem os Everly Brothers, em fotos, e personificação do sonho americano.
Don e Phil Everly formaram a dupla mais influente da primeira fase do rock and roll. Bob Dylan, Beatles, Simon & Garfunkel, The Byrds, The Hollies, Os Vips, da Jovem Guarda, muita gente se espelhou nas harmonias vocais dos irmãos, que anteciparam o country rock em uma década. De 1956 a 1964, os Everly Brother foram uma máquinas de hits. No entanto a harmonia entre os dois parava nos vocais. mais de 15 anos de brigas, até que em 1973, num show em Buena Park, na Califórnia Don Everly bêbado, começou a errar a letra de um dos hits do duo, Cathy’s Clown. Phil quebrou um violão na cabeça dele, e foi embora, encerrando mais de vinte anos de desarmonia na vida real, e harmonias sublimes nos palcos e discos.

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