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Norah Jones mescla pop jazz com o amargo do blues

Novo disco da cantora é o mais requintado entre os sete que já lançou

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José Teles

Publicado em 22/06/2020 às 19:53 | Atualizado em 22/06/2020 às 19:53
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Geralmente o artista grava pela primeira vez esperando ser bafejado pelo sucesso. Mesmo nesses tempos em que o sucesso reduz-se a nichos. Melhor esperar que ele venha aos poucos, e que não seja tão retumbante. Um grande sucesso em inicio de carreira pode estigmatizar um artista pela vida afora. A cantora americana Norah Jones, filha do citarrista indiano Ravi Shankar, estreou, em 2002, com um disco, Come Away With Me, que vendeu 23 milhões de cópias, emplacou três grandes hits, e ganhou cinco dos oito Grammy a que foi indicado.
Adjetivada, pejorativamente, como intérprete de jazz de coquetel, que foi, aliás, sua ocupação antes de ser bafejada pelo sucesso, Norah Jones distanciou-se do estilo. Dá uma guinada de 180 graus em Pick Me Up Off The Floor que está circulando nas plataformas digitais. Embora continue no limiar do pop e do jazz, as canções do novo álbum são menos assoviáveis, embora continuem belas, mas não tão doces.
How I Weep (Como soluço) a faixa que abre o disco, tem perdas, dores, como temas, como se reflexo do tempo em que vivemos, mas é de antes de ser decretada a pandemia. Difícil não acreditar que este seja mais um álbum da trilha da covid-19. Há também faixas com o título de I’m Alive (Estou Viva) e It Hurts Me To Be Alone (Magoa-me estar sozinha). Heartbroken, Day After (Coração Partido, O Dia Seguinte). São canções inspiradas em algo que lhe aconteceu, que a cantora não detalha, mas que parecem criadas sob medida para o atual estado de coisas que se vive no planeta, o blues This Life é uma constatação do, como se diz, novo normal: “Esta vida como a conhecemos/Esta vida como a conhecemos acabou/Alguns podem correr/mas não se esconderão”
Ela trabalha neste disco como músicos que não são afeitos a fazer concessões, a exemplo, de Jeff Tweedy do Wilco, ou Brian Blade (baterista super requisitado), músicos que, se radicalizar, costumavam estender sua música até a borda do despenhadeiro. Norah acrescenta sonoridade e atuais, algumas coisa de hip hop e da música dos anos 70. You Pick Me Off the Floor, não é um disco com o intuito de confirmar que Norah Jones trilha searas distantes da lounge music. Pelo contrário ele continua no jazz de coquetel, porém desenvolveu o estilo, levando-o além do mero diletantismo, como acontece na melodia diferente de Were You Watching? Esta claramente dirigida a um ex. Uma das grandes canções do álbum, um belo diálogo de piano e cordas em estilo folk. As canções estão bem balanceadas de forma que não predomine em sequência as mais melancólicas. Algumas são pura sofrência, feito a balada country Stumble on My Way. O disco é sem dúvidas resultado das colaborações de Norah Jones com músicos dos mais diversos escaninhos, Foo Fighters, Herbie Hancock, Outkast, e, sobretudo de trabalhar mais assiduamente com Jeff Tweedy. Norah continua a fazer grandes canções radiofônicas, porém mais sofisticadas, inclusive na forma de interpretar. A voz também continua suave, mas com inflexões que surpreendem. Pick me up off the Floor é o menos previsível e melhor dos sete álbuns de Norah Jones.

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