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os Rolling Stones lançam duas canções inéditas, mas prestam?

Grupo desarquiva músicas antigas para incensar novo edição do álbum Goat's Head Soup

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José Teles

Publicado em 24/07/2020 às 23:05
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“Talvez haja um elemento da roupa nova do imperador no gosto musical. Achamos que alguma coisa é boa porque nos disseram que era boa. Quando alguma coisa vira moda, a gente passa a lhe dar valor quando, na verdade, ela é apenas moda. Alguma música passa no teste do tempo, outras não. Por que temos discos do Color me Badd, MC Hammer em nossas prateleiras? Porque a gente achava que era boa na época, já que todo mundo tinha um disco deles.”
O trecho acima foi pinçado do livro Fui dado descarga no sanitário do seu coração – As 100 piores canções já feitas, do australiano Colin Bowles. O livro, de 2008, não tem tradução em português. Mas vai na ferida. Costuma-se gostar de muitas músicas sem nem atentar se elas realmente valem à pena. Claro, há as inquestionavelmente boas. Na primeira audição, se sabe que vão entrar para o play-list de nossas vidas. As peças de divulgação, divulgadas por canais de TV, hoje pelas mídias sociais, contribuem para a aceitação da canção.
Nas plataformas digitais está circulando duas músicas inéditas dos Rolling Stones. Uma delas, Scarlet, tem como “isca” a participação de Jimmy Page, do Led Zeppelin. O grupo estava gravando no mesmo estúdio em que os Stones também gravavam. Page ficou com eles, e acabou tocando nesta música, que foi arquivada. “Com uma textura de guitarra em camadas, Scarlet é tão contagiante e ousada quanto tudo o que a banda selecionou para essa consagrada era, uma verdadeira preciosidade para qualquer fã devoto de The Rolling Stones”, escreve-se no release, na mensagem do e-mail da gravadora.
Bem, release é pra isso, pra fazer o leitor comprar o peixe que estão vendendo. Se Scarlet fosse gravada por uma banda menos famosa, seria considerada muito mais ou menos. Scarlet nem é ousada nem tão contagiante quanto as boas músicas dos Stones “nesta consagrada era” (ainda do release). Consagrados certamente eram nessa era. Sem a sombra dos Beatles, os Stones desde Stick Fingers passaram a fazer a música sem tentar criar truques sônicos que George Martin e o quarteto tiravam da cartola.
Voltou-se para o blues, rhythm & blues estilizado que apanharam dos músicos negros americanos. Nunca foram de muita ousadia em discos. Até porque o único álbum ousado da banda, Her Satanic Majesties Request não apenas é o pior da fase autoral dos Stones, como também de todos os álbuns conceituais produzidos na cola do Sgt Pepper’s. E quem anda afirmando isto pelas redes sociais, em comentários disseminados na Internet, são os próprios glimmer twins, Mick Jagger & Keith Richards.
Goat’s Head Soup é o Rolling Stone livre dos anos 60, e da sombra dos Beatles. As música têm acordes básicos, menos blueseiras e mais puxadas pro hard rock, som limpo, ao contrário do álbum anterior Exile on Main Street. Criss Cross, outra inédita liberada, é um pouco melhor do que Scarlet, mas feito esta daria no máximo um olvidável lado B de uma boa música dos Stones.
A edição de luxo de Goat’s Head Soup chega em setembro às lojas, físicas e virtuais. A edição física de luxo trará quatro LPs, quatro CDs, uma enormidade de demos, takes alternativos, e inevitáveis penduricalhos, fotos, pôsteres. É pra fã, endinheirado. Estas caixas de um único disco eram interessantes quando as gravadoras passaram a produzi-las, pela novidade. Atualmente, importa a pesquisadores, ou a quem pretenda escrever sobre o tema, e aos fãs. Faixas extras adicionadas a um álbum, sobretudo um clássico, como Goat’s Head Soup inquestionavelmente é, geralmente uma deturpam a obra. O que vem a mais, além do repertório geralmente é o lixo, o que sobrou. Além do que o fã do artista já a conhece de discos bootlegs.


Em 1973
A crítica do disco na revista Rolling Stones (em agosto de 1973), assinada por Bud Scoppa, é longa (afinal era um álbum da maior banda de rock and roll do planeta). O texto fica meio em cima do muro. Ao mesmo tempo em que se elogia três baladas, entre elas Angie, que hoje soa extremamente xaroposa, cheia de rimas óbvias, Scoppa descarta algumas faixas, como “canções secundárias", no popular “enchimento de linguiça”, as faixas Hide Your Love, Dancing with Mr. D, Doo Doo Doo Doo Doo (Heartbreaker), Silver Train. Ainda mais secundárias são as inéditas que estão sendo utilizadas como chamariz para divulgar o álbum.

 

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