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Lo Tom ignora resiliência em grandes canções de lamúrias

Coberto de elogios, o grupo, ainda pouco conhecido, é o azarão de 2020 no rock

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José Teles

Publicado em 19/09/2020 às 12:03 | Atualizado em 19/09/2020 às 12:10
Crítica
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A capinha provocativa, um cãozinho morto, meio para o humor negro, passa a impressão de que a música de LP2, segundo disco da Lo Tom, seja de punk rock, com letras que detonam todas as instituições. Até que detonam, mas a banda é uma grata surpresa. Quem proclama que o rock morreu e que guitarras já eram, precisa escutar este álbum.
A Lo Tom é um quarteto formado por integrantes de um emaranhado de bandas pouco conhecidas da Califórnia. Oito bandas, pra ser mais preciso. David Bazan (Pedro the Lion e Headphones) é o líder. O grupo surpreende porque a música que faz passa por longe do que se convencionou chamar de indie, para ser ouvido por um número reduzido de pessoas. O primeiro disco da Lo Tom até tinha um pouco deste conceito. Mas a de LP2 é grandiosa, pra banda que lota estádios. Não soa como de uma bandinha que não se leva a sério, e que precisou apelar para uma vaquinha a fim de viabilizar a gravação do disco.
Start Payin’ tem alguma coisa de Nirvana com Neil Young, e tem a temática que permeia as oito canções do álbum: de perrengue total, de tentar sair dele, e constatar a impossibilidade de uma saída. Em Outta Here, pede-se para que alguém, por favor, tire-o desta situação, numa canção, que lembra o U2 dos primeiros discos. Aí é que vai se entendendo o cachorro morto da capinha. Resiliência, expressão da moda, não cabe neste. As letras, no entanto, não são de um perdedor, mas de quem entende que não há mais saídas. Numa das canções, In A Van, o cara quer vender o que tem e morar numa van.
“Não encontrei janela alguma/tomei uns drinques/menos pelo sabor/mais pelo alívio que dão”, canta Bazan em No Margin of Error. Não parece ser o disco para se escutar numa época de astral tão baixo, mas poucos lançamentos em 2020 receberam tantos elogios quanto este inusitado pequeno grande álbum da Lo Tom. Isto pela música sem pretensão de um cara que uns anos atrás ficou conhecido pelas Room Tour (Turnê no Quarto), tocando na casa de alguém, para um públicos de 30 pessoas. Se a Lo Tom não emplacar desta vez, David Bazan, que já entrou nos 40, pode vender o que tem e comprar uma van.

 

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