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Sharon Jones & The Dap-Kings no segundo disco póstumo da cantora

O álbum reúne gravações raras da cantora, feitas para diversos projetos, parte do repetório é inédito

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José Teles

Publicado em 28/10/2020 às 17:13 | Atualizado em 16/11/2023 às 15:47
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Mais um disco póstumo de Sharon Jones & The Dap-Kings, uma destas histórias musicais que parecem sair do cinema, e são apropriadas para um roteiro. Sharon Jones era uma agente penitenciária que largou a profissão para ser cantora. Philip Lehman e Gabriel Roth formaram o grupo Soul Providers para cantar soul e rhythm and blues dos anos 60, uma banda cover retrô. Escutaram Sharon Jones cantar e a convidaram para entrar no grupo. Ela gravou alguns vocais para eles, que entraram nos discos do Soul Providers, lançamento que não decolaram.
Sharon Jones imaginava que iria ser cantora de barzinho até o final da vida. Foi quando Lehman e Roth desfizeram a parceria. O segundo formou o selo Daptone, e retomou o Dap-Kings. Convocaram Sharon Jones para gravar com ele o álbum Dap Dippin' with Sharon Jones and the Dap-Kings, de 2002. Por esta época, o grupo estava na Espanha. As revistas especializadas em soul dispensaram muitos elogios e espaço ao disco.
Embora tenha uma trajetória modesta nas paradas, Sharon Jones and the Dap-Kings tornaram-se cultuados. O grupo, é certo, emulava os grandes do soul, Sly Stone, Otis Redding, o som da Stax/Volt, mas o fazia com feeling, tornando-o mais do que uma mera banda cover. Isto foi o que atraiu o produtor Mark Ronson, quando foi trabalhar no álbum Back to Black, de Amy Winehouse, no qual imprimiu o som retrô da Motown. Sharon Jones, ficou de fora, mas o Dap-Kings toca em seis faixas do álbum de Amy, e fez a turnê do disco com ela.

RARIDADES
O trabalho com a cantora inglesa, chamou mais atenção para o Sharon Jones & The Dap-Kings, os dois discos que lançaram em 2010, e 2014. No entanto, Sharon Jones já lutava contra um câncer, perdeu a luta em 2016 (foi feito um documentário desta fase da vida dela e do grupo). A Daptone lançou nesta semana mais um disco póstumo de Sharon Jones, Just Dropped In to See What Condition My Rendition Was In (título de um acanção de Kenny Rogers). Na verdade uma compilação de músicas gravadas ao longo de vinte anos de carreira. Parte continuava inédita, a exemplo de Signed, Sealed, Delivered I’m Yours, lançada por Stevie Wonder em 1970 (que Sharon gravou para um comercial, mas não foi usada).
Mas o disco inteiro tem sabor de inédito. Sharon Jones & The Dap-Kings recriam as canções a ponto de tornarem algumas irreconhecíveis, como é o caso de This Land Is Your Land, de Woody Guthrie, quase um hino americano, que só dá pra reconhecer pela letra. O folk virou jazz de New Orleans. Take me With U, de Prince, acaba sendo só o ponto de partida para se criar uma nova canção. Sharon e a banda recuperavam também o espírito do soul dos anos 60. Cantores como Otis Redding tinham como objetivo, principalmente, o entretenimento. Here I am Baby, originalmente das Marvalettes, e Little by Little, de Dusty Springfield, com Sharon Jones & The Dap-Kings são puro deleite, assim como é o álbum.

 

 

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