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Toquinho cita prisões da Lava Jato em disco de inéditas

Maria Rita participa do álbum, que tem vários cobras do instrumental brasileiro

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José Teles

Publicado em 09/11/2020 às 15:49 | Atualizado em 09/11/2020 às 16:33
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Em 8 de novembro de 2018, no Entretenimento UOL, numa entrevista de a Alba Santadreu, Toquinho provocou surpresa ao adentrar na política, um tema que não é muito comum ele abordar: “Acredito que agora o Brasil está nas mãos de pessoas que são incorruptíveis. Não vejo o juiz Sergio Moro como corrupto, nem Jair Bolsonaro. Isso é segurança total de não corrupção”, com a polarização em grau máximo, os comentários no site sobre a declaração a favor de Jair Bolsonaro e Sérgio Moro foram acalorados.
Na semana que passou, quase dois anos depois, em entrevista ao portal mineiro O Tempo, Toquinho garante que seus elogios a Bolsonaro foram fake news: “De uma maldade enorme. Não falei do Bolsonaro, falei do Sergio Moro. Naquela época, ele era uma pessoa acima de qualquer suspeita”, esclareceu Toquinho, acrescentando que nem Bolsonaro nem Lula têm seu apoio.
O tema volta à baila porque Toquinho está lançando um disco de inéditas, o primeiro em onze anos, A Arte de Viver (Deckdisc), mais uma dobradinha com Paulo César Pinheiro (fizeram um álbum juntos em 2005, Mosaico), um repertório quase inteiro de sambas, aberto com a faixa que dá título ao disco, e que se assemelha à música da parceria com Vinicius de Moraes, não apenas na linha melódica bastante radiofônica. Como também na letra, que filosofa sobre a vida, assim como em várias composições de Toquinho e Vinicius, entre elas Cotidiano nº2, do álbum São Demais Os Perigos Desta Vida (1971): “A vida é um mistério/pra gente aprender/pois não tem critério/e quem leva a sério/começa a morrer”
Um disco de convidados especiais, feito Maria Rita, no diálogo de Papo Final, em que o homem tenta uma volta, e a mulher permanece irredutível, uma das boas faixas do álbum, em que é prestada uma homenagem a Baden Powell (em setembro completaram-se vinte anos da sua morte), com citações de Samba da Benção” e Deixa (parceria de Baden com Vinicius). Nas faixas Roda da Sorte e Rainha e Rei, participação de Camilla Faustina, que canta com Toquinho há quatro anos. O bandolinista Hamilton de Holanda está em Amor Pequeno. Até Paulo César Pinheiro faz uma participação vocal em Tudo de Novo, o que não é muito do seu feitio.
PARTICIPAÇÕES
A produção é de Rafael Ramos, com participação de alguns dos melhores instrumentistas da MPB: o contrabaixista Jorge Hélder, Paulo 7 Cordas, o percussionista Thiago da Serrinha, o trombonista Marlon Sette, o flautista e saxofonista Felipe Pinaud, e Apollo 9, tocando vários instrumentos (Harmonium, Saltério, Harpsichord, Cravo e Percussão), este, sobretudo torna a sonoridade a novidade neste disco de um compositor que é fiel ao estilo que forjou no final dos anos 60. Até então ele era considerado um dos mais talentosos de uma nova geração de violonistas surgida na geração pós-bossa nova. Seu LP de estreia, aliás, chama-se A Bossa do Toquinho (1966).
Com capa assinada por Elifas Andreatto, A Arte de Viver não é servir surpresas, mas oferece alguns biscoitos finos ao longo dos quase 30 minutos. Amor Pequeno é um destes, colorido pelo preciso bandolim de Hamilton de Holanda. Mão de Orfeu volta aos sambas no estilo Vinicius/Toquinho, em que a segunda parte é refrão, daqueles que levam a plateia a cantar juntos. Boa parte do disco é assim.
Toquinho em uma faixa incursiona pela política, ratificando que continua acreditando no ex-juíz Sérgio Moro, num sambão chamado Fato Novo, mas que poderia ter um “Operação Lava Jato no título, lembrando que o letrista é Paulo César Pinheiro: “Quanta noticia/ a cada instante tem um fato novo dando no jornal/olha a policia/levando o povo que manda em Brasília lá para a federal/mas que delicia/ há quanto tempo não se via isso na capital/só tem réu confesso/com muito processo/enchendo o Supremo Tribunal/só falta o congresso/entrar em recesso/por causa da ficha criminal”. No mais A Arte de Viver é um disco regular, não tem um faixa que se destaque, aquela que chega com perfil de que vai entrar para a lista clássicos da MPB.



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