Sem suspeitar do que estava por vir, São José da Coroa Grande anunciava uma série de investimentos no início deste ano. A ideia era fazer a cidade mais ao Sul do Litoral de Pernambuco deixar de ser apenas uma rota de passagem entre destinos consagrados, como Tamandaré e Maragogi. A pandemia jogou água na fervura, mas não conseguiu arrefecer os planos. Pelo contrário. A retomada da economia fez novos empreendimentos surgirem e outros mais tradicionais se renovarem para corresponder, com infraestrutura turística, ao que a natureza já se encarregou em erguer com capricho.
Uma das joias que despontam na região é a praia de Gravatá, até pouco tempo quase escondida dos visitantes. Somente em 2019, o lugar ganhou um acesso público por terra, a partir do km 14 da PE-60. Cerca de 2,3 km de um total de 7,5 km já estão prontos e a previsão é de que a obra seja concluída em junho do próximo ano, segundo a Secretaria de Turismo do município. Com a estrada, chegam também empreendimentos imobiliários e clubes de praia, que servem de base para um dia despretensioso à beira-mar ou para passeios aos bancos de areia e piscinas naturais repletas de vida marinha a apenas 800 metros da costa.
O mais novo deles é o Antônio, que leva o nome do chef de cozinha famoso em São José por ter ajudado a lançar diversos restaurantes. A generosa culinária praieira promete ser o maior chamariz do espaço, com destaque para o Peixe à Bromélia, guarnecido por dourado, atum ou cavala, camarão e lagosta, com legumes, pimentões coloridos, pirão, batata frita e arroz especial da casa.
A poucos metros do Antônio, está o Pé na Areia Beach Club, que reabriu no início de dezembro repaginado, com a entrada da Catamaran Tours na sociedade. O receptivo contou com investimento de R$ 1 milhão e agrega bar, restaurante, redário, parquinho infantil, gazebos privativos para até 10 pessoas, banheiros climatizados e toda a comodidade para o visitante passar o dia, das 9h às 17h. O valor do Day use varia de R$ 15 a R$ 25, a depender do dia da semana.
"A partir de conversas com os fundadores do espaço, vimos uma oportunidade incrível de expandirmos os negócios na região. O lugar e a infraestrutura são maravilhosos e nós entramos no projeto para dar um gás com toda a nossa expertise em passeios e em gestão de restaurantes e receptivos. Há dois meses iniciamos algumas reformas físicas e a implantação de novos passeios, de cardápio novo e de treinamento da equipe", explica Juliana Britto, diretora da Catamaran Tours, que mantém estrutura semelhante em Maria Farinha, no Litoral Norte, e no Recife.
O clube é ainda ponto de partida para passeios náuticos e de buggy por trilhas ecológicas da região. Os roteiros custam a partir de R$ 60.
A área de praia mais próxima ao Centro de São José também conta com novidades nesta temporada. Entre elas, o receptivo Miráculo, que abriga seis ambientes, todos com vista para o mar, em uma área de 4.200 m2. Além de bar e restaurante, há redário e lounges mais intimistas para grupos. Lojas de conveniência, esportes náuticos e moda praia serão inaugurados em breve. No cardápio, o destaque vai para as moquecas, como a de Camarão, bem servida e suculenta, como manda a receita clássica. Depois de comer e beber, com a brisa gostosa que sopra da praia, as redes espalhadas pelo clube fazem todo sentido. O espaço funciona a partir das 9h e também abre para o jantar.
Vizinho ao Miráculo, também entre a pista e a praia, está o Restaurante Calamares, praticamente uma instituição de São José da Coroa Grande. Fundado em 1984, o Calamares recebe uma clientela fiel que visita o Litoral Sul ou está a caminho de Alagoas e busca por um padrão de qualidade garantido.
O cardápio variado inclui desde moquecas, sinfonia marítima e um inigualável arroz de polvo até picanha na chapa. Mas é o Rolinho Pernambucano (massa de tapioca com gergelim, cream cheese e teriyaki) que faz os comensais suspirarem. Abre às 11h e também funciona no jantar.
Conforto é bom, mas imbatíveis mesmo em São José continuam sendo as águas morninhas e transparentes dos seus sete quilômetros de faixa litorânea.
EM BUSCA DE SUA MAJESTADE
Navegar é preciso em São José da Coroa Grande, seja para nadar com os peixinhos ou para descobrir curiosidades como a origem do nome da cidade. Até abril de 1962, o município pertencia à cidade vizinha de Barreiros e se chamava apenas São José, em referência ao santo padroeiro local. E a coroa grande? Basta se aproximar das piscinas naturais para matar a charada: a denominação é inspirada nas enormes croas, bancos de areia, que emergem nas marés baixas.
Foram os primeiros habitantes da região, os índios Caetés, que batizaram o lugar de “Puirassu”: “coroa grande” em tupi-guarani. Com a emancipação da cidade, finalmente o São José e a Coroa Grande se uniram.
De acordo com o porte das formações, é possível fazer a visita em jangadas, lanchas e até catamarãs. Três delas são as mais visitadas. A Prainha, chamada assim pela extensão, é a que costuma receber mais gente. É comum ver por lá grupos de amigos que levam cooler com bebidas e até espreguiçadeiras para passar parte do dia, como se estivessem mesmo à beira da praia.
Já a Lagoa Azul e Areinha, essa última de frente para a praia de Gravatá, são mais reservadas e impressionam pela cor e transparência da água. Como o fluxo de turistas ali é menor, não raro você pode ter a piscina de águas mornas todinha pra você. Um luxo! E que sai super em conta comparado a destinos badalados.
Os passeios custam a partir de R$ 40 e costumam durar entre duas e três horas, com paradas em três pontos.
MERGULHO NA BARREIRA DE CORAIS
Em algum momento da evolução, devemos ter perdido as nadadeiras e a capacidade de respirar sozinhos dentro d’água. Sim, o ser humano bem poderia ter vindo dos peixes. É o que se pensa ao mergulhar em paz, completamente adaptado ao equipamento, a ponto de esquecer que ele existe e se sentir parte do ambiente marinho.
Um dos lugares do mundo que proporcionam essa emoção única é a barreira de corais de 185 quilômetros que vai do Litoral Sul de Pernambuco ao Norte de Alagoas. No meio do caminho, em São José da Coroa Grande, a experiência se torna ainda mais especial, pela exclusividade. Só recentemente o mergulho com cilindro passou a ser oferecido nos arrecifes da região em 18 pontos mapeados até agora, o suficiente para garantir que você não cruze com outros mergulhadores, a não ser que queira.
Se observadas da superfície as piscinas naturais de São José já exibem uma profusão de vida, abaixo da linha d’água o santuário marinho revela-se uma festa, animada por peixes multicoloridos e até de dorso néon. Em todo o paredão, são quase 200 espécies. Sem falar nos corais de nomes e formatos inusitados, como boi, fogo e cérebro. Aqui e ali, cobras d’água, lagostas e arraias atravessam o caminho. Animais maiores, como tartarugas, não costumam adentrar os arrecifes nessa área.
De dia, a incidência de luz e a transparência do mar encorajam a percorrer as grutas coralíneas, em busca de outros seres entocados na barreira. Para isso, é preciso um mínimo de experiência certificada e um instrutor que inspire confiança e segurança. Nesse quesito, Alexandro Galindo (99118- 0350) é dos melhores com quem já tive a oportunidade de mergulhar.
Desde setembro, com a retomada do turismo em Pernambuco, ele conduz passeios de batismo, como é chamado o mergulho para iniciantes, e também fornece toda a estrutura para mergulhadores autônomos, além de cursos, através da @Loucos_Por_Mergulho.
No primeiro caso, o programa dura duas horas e meia, incluindo tempo de instrução, adaptação na água e 30 minutos submerso a uma profundidade de até oito metros. Os horários mudam segundo a maré, indo de duas horas antes a duas horas após o ponto mínimo. Um diferencial é que também há batismo à noite. Custa R$ 180, com fotos e vídeo. Já para credenciados, o preço é de R$ 300, com duas caídas, dois cilindros e todo o equipamento necessário.
As saídas são feitas em parceria com o catamarã @AmazôniaAzulTur, que também oferece passeios para as piscinas naturais e bancos de areia em uma embarcação de duplo deck, com vista panorâmica. O percurso inclui duas paradas e tem duração de duas horas e meia. Custa R$ 40 por pessoa.
No caso da rota do pôr do sol, das 15h às 17h30, ainda há o plus da música ao vivo. A partir de janeiro, estão previstos luaus a bordo. Na pandemia, a embarcação reduziu a capacidade de 60 para 40 pessoas. No caso do mergulho, a higienização já rigorosa dos equipamentos agora é reforçada com spray de álcool 70, para garantir diversão com responsabilidade.
ADRENALINA GARANTIDA
Os roteiros de barco são os mais procurados, mas por terra a adrenalina também é garantida em São José da Coroa Grande nos passeios de quadriciclo e buggy. Ambos levam a mirantes no entorno da Praia de Gravatá. A diferença é que no primeiro você mesmo é o piloto. O percurso de 12 quilômetros é feito em cerca de uma hora. Pela @Quadriciclo_SaoJose_Oficial, custa R$ 140 por veículo para até duas pessoas.
Além de testemunhar do alto os encantos e o crescimento da região, o visitante se diverte com a parada na Ponte do Amor. A passagem de madeira, assim batizada por ser ponto de encontro de enamorados, cruza o Rio Una e adentra o mangue em um cenário bucólico.
De buggy (entre R$ 150 e R$ 240), o roteiro costuma incluir a vila caiçara de Várzea do Una, com direito a visita ao museu que conta a história do lugar através de cartas náuticas, mapas, artefatos de trabalho de pescadores e canavieiros, além de réplicas em miniatura de embarcações e de uma locomotiva real. Algumas trilhas levam ainda, à Pedra Grande, na Fazenda São Francisco.
A tranquilidade vista de cima contrasta com o passado colonial efervescente daquelas paragens. Por meio de vagões puxados por locomotiva, a Central Açucareira Barreiros, no município vizinho, despachava a maior parte da produção de cana da Zona da Mata Sul até o Porto da Vila de Gravatá, de onde era escoado em barcaças por aquelas águas até o Recife, para seguir viagem ao Rio de Janeiro.
Apenas com profissionais credenciados o visitante tem acesso ao lugar. Do alto da colina, descortina-se uma visão panorâmica do vale, que reúne em 360 graus o caudaloso Rio Una em seu traçado rumo ao mar, o verde dos coqueirais, os bancos de areia e pequenas ilhas fluviais.
No fim do dia, o passeio termina na foz do Una de frente para a Ilha da Fantasia, na verdade um banco de areia chamado assim pela população local porque eventualmente fica encoberto. Real é a beleza do pôr do sol ali.
HOSPEDAGEM
À beira-mar, bem em frente a várias piscinas naturais, a Pousada Vivenda Oriente é a melhor opção de hospedagem em São José da Coroa Grande, uma vez que o destino ainda não dispõe de grandes hotéis. Com duas piscinas (adulto e infantil) e uma área externa espaçosa, a Vivenda tem capacidade para receber 60 hóspedes, em 23 apartamentos, dois deles com banheira de hidromassagem.
Além do atendimento personalizado, a gastronomia é um dos diferenciais da pousada. O deleite vai do café da manhã, bem servido de delícias regionais, ao almoço e jantar estrelados pelos frutos do mar, como o delicioso Peixe à Moda da Vivenda, composto de filé de pescada amarela, risoto e legumes.
Para relaxar depois de um dia de atividades na praia, também há serviço de SPA. Em dezembro, as diárias variam de R$ 360 a R$ 585 para o quarto duplo.
Na entrada da cidade, a Villa Goyá é outra alternativa. Recém-reformada, a pousada tem quartos amplos, piscina interna e dois restaurantes, que servem de delícias regionais a pratos típicos goianos, como a Panelinha Villa Goyá, mistura apetitosa de arroz, carnes, bacon, queijo e banana-da-terra.
A diária parte de R$ 200 (duplo). Nos fins de semana, o pacote inclui meia pensão e ainda conta com 10% de desconto.
VIDA NOTURNA
Como em qualquer cidade pequena, a vida noturna de São José da Coroa Grande se resume ao centrinho em torno da bucólica Igreja Matriz de São José. Por ali estão algumas das opções para jantar à noite. Caso da Pizzaria Cia. da Macaxeira, onde a especialidade, como o nome entrega, são as pizzas com massas feitas à base de mandioca.
Agora em um espaço mais amplo, a casa ganhou decoração “instagramável”, que remonta à matéria-prima principal da casa. No cardápio, há 30 sabores disponíveis, com destaque para a de carne de sol e pimenta biquinho, com molho de tomate, cebola, azeitona e orégano.
Para uma refeição mais informal, a cidade conta agora com uma praça de alimentação a céu aberto, com diversas opções de lanches rápidos e comida de rua.
Na sobremesa, aposte nos sabores inusitados da Gelatom Sorvetes Artesanais, que incluem de pitomba a macaíba (!).
Já o fim de noite pode ser no novo Carioca’s Bar, boteco moderninho inspirado no Rio de Janeiro, cidade de origem do proprietário, que promove programação musical nos fins de semana.
Comentários