SOCIOLOGIA

Fundaj celebra os 120 anos de Gilberto Freyre com seminário nesta quarta (11) e quinta (12)

Debates e uma conferência fazem parte do seminário "Gilberto Freyre: 120 anos de Pioneirismo", que conta com presença de nomes como Mário Hélio Gomes, Fátima Quintas e Antônio Dimas

Valentine Herold
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Valentine Herold
Publicado em 11/03/2020 às 13:54
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Gilberto Freyre, em Apipucos, bairro onde construiu seu paraíso particular - FOTO: DIVULGAÇÃO

Dando continuidade aos eventos de celebração da efeméride dos 120 anos de Gilberto Freyre – que faria aniversário no próximo domingo (15) se vivo estivesse –, a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), órgão que o sociólogo e escritor ajudou a fundar, organiza nesta quarta (11) e quinta (12) um seminário com especialistas da obra freyriana. A programação é aberta ao público e acontece, nos dois dias, no período da tarde, a partir das 14h30, na Sala Calouste Gulbenkian, no campus Casa Forte, bairro da Zona Norte do Recife.

Após a abertura oficial, que conta com a presença do presidente da instituição, Antônio Campos, a mesa-redonda As Várias Faces de um Escritor tem início às 15h. Sob a coordenação do ensaísta Lucilo Varejão Neto, presidente da Academia Pernambucana de Letras (APL) recém-empossado, a mesa vai abordar a relação do sociólogo com a escrita literária em seu processo de pesquisa acadêmico-científica, bem como a diversidade de seus estudos serão analisadas por especialistas. Membros da APL, os escritores Alvacir Raposo, José Nivaldo Júnior e Lourival Holanda também dividem o debate com o gestor da Diretoria de Memória, Educação, Cultura e Arte (Dimeca) da Fundaj e autor do livro O Brasil de Gilberto Freyre – Uma Introdução à leitura de sua Obra, Mário Hélio Gomes.

Já na quinta-feira (12), Fátima Quintas coordena o debate Memória e Contemporaneidade, a partir das 14h30. Responsável pela curadoria do evento, a antropóloga reflete a longevidade da obra freyriana. “Uma das grandes façanhas de Gilberto, é que ele se prolonga. Os grandes escritores, aliás, têm essa virtude. Suas ideias ultrapassam seu tempo. O pensamento do sociólogo acerca do mundo é absolutamente atual”, destaca Quintas. Para o debate, ela recebe o secretário de Cultura de Pernambuco, Gilberto Freyre Neto, Antônio Campos e os professores Anco Márcio e André de Sena.

Conferência

A obra Brazil (Alfred A. Knopf, 1945), primeira publicada por Gilberto Freyre nos Estados Unidos, só seria adaptada ao seu País natal anos depois, com o título Interpretação do Brasil (José Olympio, 1947). Na contramão, seu título consagrado Casa-Grande & Senzala (1933) só seria traduzido para a língua inglesa em 1946 — 13 anos depois.

Os apontamentos feitos pelo professor Antonio Dimas, especialista em Literatura Brasileira da Universidade de São Paulo (USP), dão indício da relação do sociólogo com o país estrangeiro. É a partir desses fatos que o pesquisador construiu a conferência Gilberto Freyre nos EUA, que acontece às 17h, amanhã, logo após a mesa-redonda. Segundo Antonio Dimas, a vivência naquele lugar fora importante para o escritor decidir, por exemplo, dedicar-se à antropologia.

“Gilberto sai do Recife em 1918, aos 18 anos, para estudar nos EUA por quatro anos. Nos primeiros dois, fica em Wako, uma cidadezinha provinciana do Texas, cercada pelo racismo. Em seguida, no início dos anos 1920, muda para Nova Iorque, um centro migratório e extremamente cosmopolita. Nas duas passagens, convive com professores em Ciências Sociais de alto calibre e se encanta pela literatura inglesa”, revela o professor.

Ele conta, ainda, do grande acervo documental de correspondências do editor Alfred A. Knopf e de sua editora conservado pela Universidade do Texas. “Alfred A. Knopf foi um dos maiores editores daquela época. Quero mostrar a convivência do sociólogo com todo o circuito de intelectuais, escritores e editores, a exemplo da sua relação com o próprio Alfred, das disputas e brigas aos afagos e carinhos. O editor e a esposa Blanche Knopf são os responsáveis pela publicação dos títulos de Freyre, a partir da década de 1940 na língua inglesa”, destaca.

Estudioso das obras do sociólogo pernambucano, Dimas esteve no Texas para ministrar aulas quando soube do acervo. “A obra de Gilberto teve uma recepção rigorosamente acadêmica nos EUA. Professores importantes nas áreas de Ciências Sociais recomendam constantemente sua leitura, mas não em vão ou por acaso. É importante observar a atenção do próprio escritor para a tradução de sua obra na língua inglesa. Casa-Grande & Senzala já contava com tradução em francês, mas é em inglês que ela ganha ainda mais notoriedade. Gilberto sabia disso.”

Celebrações

As homenagens ao aniversário do sociólogo foram iniciadas pela Fundaj em dezembro do ano passado, com o Seminário Internacional Casa-Grande Severina: 120 anos Gilberto Freyre, 100 anos João Cabral de Melo Neto. O evento reuniu estudiosos e pesquisadores interessados na obra dos autores pernambucanos. Como resultado, a Editora Massangana publicou em fevereiro deste ano um título de mesmo nome, com ensaios e artigos escritos por nomes como Antonio Maura, Xico Sá, José Castello e outros.

Nos dias 25 e 26 de fevereiro, Freyre e sua obra também foram o centro do Congresso Internacional de Ciências e Humanas, promovido pela Universidade de Salamanca, na Espanha, em parceria com a Fundação Joaquim Nabuco. Com o tema A Obra de Gilberto Freyre nas Ciências Sociais e Humanas na contemporaneidade, o encontro discutiu a relação do pernambucano com o país europeu e as relações entre o Brasil e a Espanha, explorada pelo sociólogo que desenvolveu o conceito hispanotropicologia. O evento contou com a produção do diretor da Dimeca, Mário Hélio Gomes.

Seminário Gilberto Freyre: 120 anos de Pioneirismo - Hoje e amanhã, a partir das 14h30. Na Fundação Joaquim Nabuco,, Sala Calouste Gulbenkian, Campus Gilberto Freyre (Av. Dezessete de Agosto, 2187 - Casa Forte, Recife). Aberto ao público.

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