A cerca de 13 km do centro do Recife, em pleno bairro de Apipucos, se encontra um verdadeiro oásis, um refúgio do barulho, da poluição e de toda a agitação da cidade. Em meio aos pulos dos saguis e às pitangueiras – que resultariam no mais famoso conhaque do Estado –, se ergueu, em meados no século 18, a casa em que Gilberto e Madalena Freyre moraram por 43 anos e hoje abriga a Fundação Gilberto Freyre. “Tivemos a sorte de crescer nesse lugar bucólico. Meu pai gostava muito de andar no sítio, tirar fruta do pé. Todo dia ele fazia seu passeio”, rememora Sônia, filha do casal.
>> Os 120 de Gilberto Freyre são celebrados com lançamentos, seminários e concurso literário
O escritor tinha uma preocupação muito grande em saber de que maneira os 40 mil livros de seu acervo pessoal, documentos, objetos e fotografias que colecionou ao longo da vida poderiam servir a outros pesquisadores. “A Fundação é um ambiente de pesquisa, nasceu ainda com Gilberto Freyre em vida, ele participou do processo de constituição da criação. Ele percebeu que esse legado teria um direcionamento”, aponta seu neto e ex-gestor da instituição, Gilberto Freyre Neto.
Antes de se tornar seu local de trabalho, o casarão de número 320 da Rua Dois Irmãos representava para ele o lugar de muitas lembranças de sua infância, onde conviveu bastante com o avô. “Tivemos uma convivência muito interessante apesar da diferença de idade, quando eu tinha oito anos ele estava com 80. Tive a oportunidade de conviver com ele nesse momento de vida em que ele está realizado profissionalmente e pode se dedicar-se aos netos com uma atenção maior.”
Gastronomia
Muito além do conhaque de pitanga que produzia e oferecia aos seus convidados, Gilberto Freyre tinha um forte interesse na gastronomia e em como a alimentação – com um enorme foco na cultura açucareira – impactava as relações sociais.
“A comida, na obra de Freyre, aparece como elemento fundamental para a formação de caráter, mais até do que grandes fatos sociais. Ele era um grande glutão, se interessava com prazer nesta criação da cultura humana que é a gastronomia, valorizava da mais sofisticada à popular”, destaca o antropólogo e crítico gastronômico Bruno Albertim.
“Gilberto Freyre dizia que a arte dos doces de tabuleiro era uma das mais sofisticadas do mundo, além de ter o hábito de levar todos os grande intelectuais internacionais que vinham visitá-lo para comer nas feiras de ruas e para provar da cartola do restaurante Leite, como Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, entre outros.”
Segundo Sônia, o momento da refeição era, de fato, sagrado para o sociólogo. Ele fazia questão que fosse o momento do dia em que todos os familiares estivessem juntos. “Quem se atrasava levava uma bronca, mas todo mundo tinha que esperar a pessoa chegar para poder irmos à mesa”, conta com carinho.
Comentários