SÉRIE

Pernambucanos lançam série documental sobre vivências nas comunidades

Realizada por Natara Ney e Gilvan Barreto, 'Novo Mundo' entrevista 16 personalidade, entre artistas, políticos, ativistas e líderes religiosos, que expõem suas vivências sobre violência, racismo e desigualdade; projeto está disponível no YouTube

Rostand Tiago
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Rostand Tiago
Publicado em 01/04/2020 às 15:45 | Atualizado em 01/04/2020 às 15:47
GILVAN BARRETO/DIVULGAÇÃO
MÔNICA FRANCISCO, DEPUTADA E PASTORA, É A PRIMEIRA ENTREVISTADA DA SÉRIE - FOTO: GILVAN BARRETO/DIVULGAÇÃO

Olhando nos seus olhos, a pastora e deputada estadual Mônica Francisco fala de sua vida, por consequência, falando de todas as estruturas que vão atacar uma mulher negra e periférica quando ela deseja ocupar uma posição de autoridade. E este é apenas um dos dos dezesseis encontros olho no olho que a série documental Novo Mundo, realizada pelos pernambucanos Natara Ney e Gilvan Barreto, trará semanalmente ao YouTube. Apoiado pelo edital Rumos, o projeto entrevistou nomes entre políticos, líderes religiosos, artistas, comunicadores e ativistas, perpassando uma série de vivências dentro das periferias do Brasil. As conversas também serviram de inspiração para um curta-metragem de ficção.

Aqui temos um projeto fruto de uma parceria entre dois profissionais de currículos distintos, mas de desejos aliados. Gilvan tem uma reconhecida trajetória na fotografia, multimeios e no documentário, com intensas investigações sobre violência, aparatos de opressão e ditadura. Já Natara carrega uma bagagem no audiovisual principalmente voltada na área de montagem, com destaque para documentários musicais. É vencedora da categoria no Grande Prêmio Brasil de Cinema por seu trabalho em Divinas Divas, de Leandra Leal. Ela foi convidada inicialmente por Gilvan para montar o projeto, mas a troca de ideias logo deu outra dimensão a parceria.

“O projeto inicialmente falava sobre desmatamento, do pau-brasil, que acabou e deu lugar as florestas de eucalipto, que sua madeira é usada nos caixões mais baratos para enterrar a população pobre. Fomos conversando sobre como essa é uma violência que não vem de agora e não acabou, perpassando a história, o nascimento, diferentes classes e chega no estado. Começamos a cair nesse lugar, de onde chega a violência, de um discurso genocida. Na hora que você entra em um baile com mil pessoas e chega atirando, você está literalmente não se importando com qualquer uma das vidas que estejam ali”, relata Natara, em entrevista por telefone.

Com essa diretrizes mais claras, a dupla começou a construir o leque das vozes. O objetivo era que essa escolha não fosse pautada pela voz científica, os especialistas de sempre que, "com todo direito", são as mais costumeiras nesse tipo de entrevista. O primordial eram as vivências, seja a daqueles que descobriram por pesquisa, mas também os personagens os quais já tinham um afeto especial por parte dos realizadores. "Buscamos essas pessoas que acrescentariam não só pelo conhecimento científico ou histórico, mas do conhecimento que vem muito da questão do sentimento, que não só estudou aquilo, mas sabe aquilo na pele", explica Natara.

Os entrevistados já disponíveis são a deputada estadual e pastora Mônica Francisco e o Pastor Henrique Vieira. Vem por aí: Mãe Meninazinha, iyalorixá; Dofono de Omulu, babalorixá, músico e agente cultural; Ruth Mariana, atriz refugiada de Angola; Eliana Souza, educadora e ativista social; Tainá de Paula, arquiteta e urbanista; Ana Clara Telles, Mestra em Relações Internacionais, especialista em Análise de Políticas Públicas; Jacqueline Muniz, antropóloga, cientista política, professora e especialista em segurança pública;Gizele Martins, jornalista, integrante do Fórum de Juventude; MC Martina, poetisa, rapper, produtora; Jessica Souto, compositora, produtora; Aline Ribeiro, jornalista e produtora audiovisual; Mohana Uchôa, atriz pernambucana protagonista do filme Novo Mundo; Sol Miranda, atriz e preparadora de elenco; e Bruna da Silva, ativista pelos direitos humanos e mãe de Marcos Vinícius, estudante morto aos 14 anos pela polícia na Maré.

Vozes ligadas a religião vêm abrindo os trabalhos, uma esfera que Natara vê como essencial para estar no projeto. "Gilvan é ateu e eu tenho minha base religiosa na Umbanda. Na minha infância em Ouro Preto (Olinda), eu viva em igreja católica, evangélica, centro espírita, terreiro e criei essa ideia de religiões serem espaços de respeito. Mas, quando saí do lugar que nasci, fui vendo que não é sempre assim, que as religiões são usadas como escudo para o certo e errado e percebi que isso é muito antigo. Aí vem uma questão básica do preconceito e o resultado é que no ano passado, mais de 200 terreiros no Rio de Janeiro foram atacados. A gente precisava falar disso, de voltar a entender as religiões como espaço de respeito e pertencimento" elabora Ney.

GILVAN BARRETO/DIVULGAÇÃO
A ATRIZ MOHANA UCHÔA DÁ SEU DEPOIMENTO E TAMBÉM PROTAGONIZA CURTA-METRAGEM - GILVAN BARRETO/DIVULGAÇÃO

E a partir desse mosaico de vivências, foi construído o curta-metragem, filmado em Paraty (RJ) e já finalizado. Protagonizado por Mohana Uchôa e narrado por Zezé Motta, a produção transforma os depoimentos em uma voz única, girando em torno de uma protagonista que se encontra em um lugar que é dito como um paraíso, mas sua jornada mostra que trata-se de um espaço construído com base no sofrimento de muita gente.

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A ATRIZ MOHANA UCHÔA DÁ SEU DEPOIMENTO E TAMBÉM PROTAGONIZA CURTA-METRAGEM - FOTO:GILVAN BARRETO/DIVULGAÇÃO

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