Contar histórias é uma paixão e uma vocação para Rafael Primot. Seja na escrita, na atuação, direção ou na correria da produção, ele se dedica a dar vida a narrativas que têm em comum o interesse pela complexidade das relações humanas. Sua prolífica obra transita entre o teatro, o cinema e a literatura com fluidez, colocando essas linguagens em diálogo, como mostram Gata Velha Ainda Mia, Todo Clichê do Amor e Uma Vida Boa, textos que compõem o recém-lançado livro Trilogia Primot (Giostri Editora).
Como entusiasta da dramaturgia e de roteiros cinematográficos, Rafael conhece a dificuldade de se encontrar publicações de autores brasileiros contemporâneos. O cenário vem mudando nos últimos anos, especialmente com pequenas editoras e coletivos, mas a maior parte dos artistas ainda sofre para ter acesso a esses textos.
Por isso, ele buscou reunir no livro três dramaturgias que possibilitem a artistas montagens práticas, com poucos atores em cena. Das obras reunidas, Gata Velha Ainda Mia e Todo Clichê do Amor foram adaptadas para o cinema em longas dirigidos por Primot.
“Comecei a escrever e dirigir para me dar oportunidades melhor como ator, que é meu grande barato. O processo de construção de personagem é muito gostoso”, conta. “Como também tenho uma cabeça de produtor, senti a necessidade de reunir essas obras que são de montagem mais simples, com poucos atores, práticas de levar aos palcos. Quando revisitei os textos, reorganizei muita coisa a partir da experiência com o audiovisual, que é mais direta. Então, eles estão mais enxutos”.
O olhar múltiplo para as linguagens artísticas faz com que Rafael Primot não pense a construção de suas obras de forma segmentada, interessando-o, também, como audiovisual, teatro e literatura podem dialogar entre si. Formado em cinema, ele afirma ter expandido seu olhar para a sétima arte a partir das experiências nos palcos.
“Gosto de trazer esse olhar do cinema para o teatro e vice-versa. Hoje, quando escrevo para teatro, acabo pensando também como ficaria aquela história no cinema, por exemplo. Vários diretores de cinema, como Bergman, têm essa referência do teatro e isso me interessa muito”, reflete. “Eu fui formado por Antunes Filho e com ele aprendi mais sobre cinema do que na faculdade. Quando trabalhamos juntos, ele estava em uma fase muito humanista, naturalista, realista; queria ouvir histórias de gente. Ele ajudou a moldar meu olhar sobre o ser humano e essa preocupação com os conflitos dos personagens é o que conduz meu trabalho”
PROJETOS
Rafael Primot precisou adiar vários projetos por conta do novo coronavírus, como a produção de Chuva Negra, colaboração com o Canal Brasil, escrita e protagonizada por ele, mas espera retomar as atividades da série assim que for decretado o fim do isolamento social. Como ator, ele também está escalado para uma novela que deve ser gravada ainda este ano, mas sobre a qual ainda não pode dar detalhes. Ele também trabalha em um novo texto para o teatro, chamado Habitat, e prepara o lançamento de um livro de crônicas.
“A realidade sempre foi complicada para os trabalhadores da cultura. Neste momento, tudo se torna mais difícil e incerto. Ou as pessoas vão ficar com muito medo de ir ao teatro e passaremos por tempos difíceis ou é possível que elas estejam sedentas para sair de casa, ver gente, ouvir histórias sobre os seres humanos”, pontua.“Prefiro ser otimista e achar que vamos superar isso e que nós, como artistas, vamos estar abertos para novas experiências, novas formas de estar junto do público, seja com lives, plataformas online. De repente surge uma nova linguagem. E também espero que isso ajude a sociedade a pensar uma outra organização, sem esse sistema capitalista absurdo em que a gente vive. Nossa maneira de viver tem que ser revista”.
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