Celebrado neste sábado (18), em referência ao nascimento do escritor Monteiro Lobato, considerado o pai da literatura infantil brasileira, o Dia Nacional do Livro Infantil pode ser marcado por diversas atividades, mesmo em tempos de quarentena.
O pequeno Heitor, de 7 anos, por exemplo, comemorou nessa quinta-feira (16) um feito que o deixou orgulhoso: ter concluído um livro de 217 páginas. E este é só o começo da sua jornada literária: até o fim da quarentena o garoto quer ler mais cinco. O hábito da leitura não veio do nada, mas tem sido incentivado pelos pais, um bibliotecário e uma coordenadora pedagógica, desde que era bebê. É assim também com o filho mais novo do casal, Raul, de 1 aninho, que já aprende como manusear o livro. A família mostra como cultivar nas crianças o apreço pela leitura, tão fundamental no desenvolvimento cognitivo da criança.
Nathalia Pontes, especialista em Pesquisa e Desenvolvimento Educacional da PlayKids, plataforma global de conteúdo educativo para crianças, destaca a importância de estimular a leitura durante esse período de quarentena e da possibilidade de utilizar a literatura para transmitir um sentimento de conforto.
No ano passado, Heitor tinha a meta de ler um livro por semana, os quais lia com a ajuda da mãe. Agora, cursando o segundo ano do ensino fundamental, já consegue encarar sozinho a tarefa, e tem cumprido com o desafio.
Já com Raul, é a mãe Isabelle Sarnento, 36, quem lê as histórias. "As vezes boto Heitor para ler para ele", diz. A atividade constrói no bebê um vínculo com os livros. "Quando a gente coloca Raul no quarto, ele já vai direto na prateleira de livros", fala.
Segundo Nathalia Pontes, a participação dos pais neste momento de aprendizagem também se faz importante. "O conteúdo que é visto só pela criança ele tem um tipo de aprendizado, mas quando esse mesmo conteúdo é mediado, a gente tem aumentos de 50% a 60% na interpretação do conteúdo. A presença dos pais, não só ajuda na interiorização do conteúdo, como também aproxima e cria um vínculo emocional entre os pais e as crianças", diz a especialista.
Mesmo sendo novinho, o neném reconhece os livros. Isabelle reforça a importância de introduzir o objeto logo cedo na vida do bebê. "Tem gente que acha que criança só pode manusear o livro depois de alfabetizada. Mas desde a barriga que a mãe pode ler um livro. Desde pequeno ele pode aprender que não é um brinquedo, que não pode botar na boca, saber ler as imagens, aprender a passar a página", descreve. "Ler não é só decodificar as letras, é tudo isso", conclui.
Agora que a escola em que Heitor estuda e a mãe trabalha está de "férias", por causa do isolamento social, há uma oportunidade ainda maior para a prática. Como educadora, Isabelle aconselha a outros pais que incentivem o hábito. "Criança funciona muito com rotina. Se você puder, separe um dia da semana para parar, sentar junto e ler uma história", recomendou. "Se deixar a criança sem ter criado esse hábito, ela não vai ler sozinha."
A psicopedagoga e escritora Nathalia Pontes concorda que criar o habito é a melhor maneira de se estimular a leitura e evitar a preguiça. “O primeiro ponto é juntar isso com uma atividade prazerosa, já que quando se está em casa existem vários estímulos à disposição. Para se pegar um livro, é porque aquele livro é bacana, já que ele está competindo com o celular, com a TV, com o videogame e com outras coisas".
Para crianças que ainda não têm o costume de ler, a especialista indica o uso de livros em quadrinho. "Para crianças um pouco mais velhas, com seus 8 a 13 anos, que não tiveram contato com literatura, eu gosto de indicar quadrinhos. É uma linguagem fácil, ela se assemelha com os meios digitais. Quando ela vê o quadrinho dá um pouco mais de vontade de ler", explica.
Dar o exemplo aos mais novos é mais uma orientação. Na casa da família, os dois adultos leem bastante, o que Isabelle acredita ajudar. "Eles aprendem pelo exemplo. Você precisa gostar de ler", completou. Outro estímulo é o acesso fácil. "A gente sempre tem muitos livros à disposição."
Ao final da leitura, Nathalia indica um exercício de consciência para que a leitura não se torne uma obrigação, mas um momento de prazer. "Pergunte para a criança como você se sentiu depois de passar 20 minutos no Instagram, ou jogando videogame? Depois disso, você sugere outra atividade. Ao invés de passar esses 20 minutos no videogame, eu quero que você leia 20 minutos de algum quadrinho. Após esse tempo, peça para a criança contar o que sentiu depois do tempo de leitura", explica.
"É importante que seja uma construção, a criança tem que querer para que não seja somente uma coisa demandada, afinal, a leitura tem que ser uma coisa prazerosa e não uma obrigação", finaliza Nathalia.
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