"Se te pareço noturna e imperfeita/ Olha-me de novo", escreveu a poeta, escritora e dramaturga Hilda Hilst nos versos que abrem a série de poemas Dez Chamamentos ao Amigo, publicada no livro Júbilo, Memória, Noviciado da Paixão, em 1974. "(...)Olha-me de novo. Com menos altivez./ E mais atento."
Nascida em 21 de abril de 1930, em Jaú, no interior de São Paulo, Hilda completaria 90 anos hoje se não fosse por uma grave infecção e seus problemas crônicos cardíacos que acarretaram na sua morte em 2004, aos 74 anos. Considerada uma das maiores autoras brasileira, sua vida e obra está sendo celebrada essa semana por algumas iniciativas do setor literário.
Hilda de fato pedia para ser mais vista e mais lida, se queixou durante anos abertamente da falta de reconhecimento que sofria por parte do grande público, apesar de ser elogiada pela crítica. Em 1989, aos 59 anos, ela decidiu que, em resposta a esse limitado alcance de sua obra, iria se despedir da “literatura séria”, marcada por livros de poesias como Roteiro do Silêncio, Ode Fragmentária ou Da Morte.Odes mínimas, entre muitos outros, e os famosos Fluxo-Floema, Qadós e, claro, A obscena senhora D, grandes representantes de sua prosa.
Inaugurou então a partir dos anos 90 sua fase pornográfica, nada deste soft porn que andou em voga décadas depois. Com os livros O caderno Rosa de Lori Lamby, Contos d’Escárnio – Textos Grotescos, Cartas de um Sedutor e Bufólicas (a tetralogia obcena), Hilda Hilst escancarou, com deboche e sarcasmo, uma literatura transgressora.
Se refazer o tempo, a mim, me fosse dado<br>Faria do meu rosto de parábola<br>Rede de mel, ofício de magia<br><br>E naquela encantada livraria<br>Onde os raros amigos me sorriam<br>Onde a meus olhos eras torre e trigo<br><br>Meu todo corajoso de Poesia<br>Te tomava. Aventurança, amigo,<br>Tão extremada e larga<br><br>E amavio contente o amor teria sido"<br>III Dez chamamentos ao amigo
Exposição virtual e e-books
Em 2015, o Itaú Cultural dedicou a 22° do seu programa Ocupação à escritora. A partir de hoje e até o fim desta semana, todo o conteúdo da exposição está disponível no site da instituição. Realizada em parceria com o Instituto Hilda Hilst (IHH) – organização sediada na Casa do Sol, chácara em Campinas onde a autora residiu e criou durante os seus últimos 38 anos de vida –, a Ocupação Hilda Hilst explora o vasto universo de textos, fotografias, desenhos, áudios, rascunhos e outras anotações em diários da escritora.
A publicação impressa, desdobramento da ocupação, também está disponível gratuitamente assim como vídeos gravados em 2015 sobre Hilda. José Castello, Humberto Werneck, Maria Bonomi e Alcir Pécora participam com leituras e análises.
Visitar digitalmente a Ocupação Hilda Hilst é um passeio por todas as fases de sua vida, com depoimentos de familiares, amigos e especialistas em sua obra. É possível também passear pelo rico acervo formado por fotografias de sua infância e trechos de entrevistas, além de se encantar com imagens detalhadas de seu universo particular e místico, a Casa do Sol, onde recebia visitas de suas grandes amigos Lygia Fagundes Telles e Caio Fernando Abreu, entre outros.
As celebrações dos 90 anos desta grande escritora também estão acontecendo através da disponibilização de ebooks gratuitos ou promoções de seus livros por algumas editoras nacionais. A Companhia das Letras liberou o download dos títulos Júbilo, Memória, Noviciado da Paixão e Trêz Vezes Hilda - Biografia, Correspondência e Poesia. Já a editora Nova Fronteira publicou na íntegra, em seu Instagram, a crônica O Espaço-Luz de Gisela Guimarães, escrita por Hilda, e anunciou uma promoção para o livro 132 Crônicas: Cascos & Carícias e Outros Escritos.
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