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Filho de Flávio Migliaccio vai processar polícia do Rio por vazamento de fotos

Em carta aberta, Marcelo Migliaccio reclamou das imagens de seu pai morto veiculadas publicamente

Robson Gomes
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Publicado em 05/05/2020 às 20:48 | Atualizado em 05/05/2020 às 20:48
TV GLOBO/DIVULGAÇÃO
INTIMIDADE Filho do artista é um dos roteiristas de Flávio Migliaccio, O Brasileiro em Cena - FOTO: TV GLOBO/DIVULGAÇÃO

Marcelo Migliaccio, filho do ator Flávio Migliaccio, de 85 anos, veio a público através de suas redes sociais nesta terça-feira (5) para declarar que entrará com um processo contra o Estado do Rio de Janeiro por veicular imagens de seu pai encontrado morto na última segunda-feira (4), em seu seu sítio em Rio Bonito.

>> Morre o ator Flávio Migliaccio, aos 85 anos

De acordo com Marcelo, as fotos foram tiradas por dois agentes da Polícia Militar e divulgadas na web pelos mesmos. "Quanto aos policiais militares que fotografaram com celular a cena mórbida no quarto do sítio e colocaram a imagem em redes sociais, o Estado do Rio de Janeiro responderá judicialmente por ter pessoas assim a representá-lo", escreveu.

À agência Folhapress, o advogado da família, Sylvio Guerra, explicou que o Estado terá que responder pelas acusações de violação ao direito de imagem e vilipêndio a cadáver, previsto no art. 212 do Código Penal: "Esses policiais carregam a bandeira do Estado em suas fardas. Além de vilipêndio de cadáver, elencado no Código Penal, buscaremos em face do Estado, danos causados pela absurda, abusiva e mórbida divulgação da foto de meu Cliente Flávio Migliaccio, já falecido, violando sua imagem , o luto da família, amigos e fãs".

A assessoria do Secretaria de Estado de Polícia Militar afirmou à agência que "o comandante do 35º BPM (Itaboraí) instaurou um procedimento apuratório para analisar o caso". Sylvio Guerra ainda declarou que caso a indenização seja reconhecida pela Justiça, o dinheiro será doado pela família de Flávio Migliaccio.

LEIA A CARTA DE MARCELO NA ÍNTEGRA:

"Eu sabia que o meu pai era muito querido pelo Brasil inteiro. O que eu não fazia ideia era do quanto eu tinha amigos, pessoas que ontem e hoje se preocuparam em me dirigir palavras de consolo, de otimismo e de resignação. Ex-colegas de trabalho, das escolas, da faculdade, dos bairros onde morei e muita gente que sequer conheço pessoalmente. Essa é a melhor parte desse capítulo.

Meu pai fez o que fez à nossa revelia. Pegou um táxi e foi para o sítio enquanto eu cuidava da minha mãe no último domingo. Sem nos avisar, sem se despedir. Ele sempre me dizia que não aguentava mais viver num mundo como esse e sentir seu corpo deteriorar-se rápida e irreversivelmente pela idade avançada. Pouco escutava e enxergava. "Daqui para frente só vai piorar", ele me dizia enquanto eu buscava todos os argumentos possíveis para lhe mostrar que ainda havia muita coisa boa reservada para ele. Como o prêmio de melhor ator de televisão de 2019, que incrivelmente ele ganhou aos 84 anos de idade. Ou como ver no cinema o documentário sobre sua vida e sua carreira que estamos preparando para breve.

Mas meu pai tinha uma inteligência enorme e era difícil demovê-lo de alguma coisa em que acreditasse. Infelizmente, ele agora é para nós só uma imensa saudade e lembranças maravilhosas. Lembranças de alguém que me ensinou o que é amar um ofício. Alguém que me mostrou a magia da criatividade. Me fez ver que a maior prova de amor que se pode dar a uma pessoa é respeitar suas convicções, suas decisões, seu jeito de ser e de não ser.

Por isso hoje respeito o ato de extrema coragem que meu pai teve na madrugada de ontem, fazendo o que acreditava ser a única coisa a fazer. Tentei impedir de todas as formas, sofro agora, e sofrerei para sempre, por não ter conseguido, mas entendo sua decisão.

Agradeço de coração a todos que me enviaram mensagens. Fizeram um bem enorme a mim e a ele, onde quer que ele esteja nos esperando.

PS: Quanto aos policiais militares que fotografaram com celular a cena mórbida no quarto do sítio e colocaram a imagem em redes sociais, o estado do Rio de Janeiro responderá judicialmente por ter pessoas assim a representá-lo."

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