Com um repertório robusto e capaz de criar paralelos que vão de Beyoncé a Superman, passando por filósofos da Grécia Antiga e teóricos da semiótica, o pernambucano Thiago Guimarães une sua paixão por quadrinhos, cinema, séries e história para criar conteúdos instigantes, marcados por um humor aguçado e que provocam o espectador sem, no entanto, menosprezá-lo. Os vídeos publicados no Ora Thiago, seu canal no Youtube, têm conquistado cada vez mais admiradores (atualmente são quase 13 mil inscritos) e reforçam que cultura pop é um assunto sério, mas longe de ser sisudo.
O interesse por produtos da cultura pop acompanha Thiago desde a infância. Além de consumi-los, o recifense sempre se interessou pelas possibilidades que aquelas narrativas continham para pensar os mais variados assuntos. Formado em Rádio e TV pela Universidade Federal de Pernambuco, ele chegou a cogitar seguir a carreira acadêmica para se debruçar com mais profundidade nesses assuntos, mas sua trajetória profissional acabou levando-o para outros espaços. Há cerca de dez anos, ele se mudou para São Paulo, cidade onde ainda reside, e passou a trabalhar com criação de conteúdo para marcas.
“Apesar de produzir conteúdo para os outros, tinha essa frustração de querer criar uma coisa minha, com a qual eu tivesse uma relação afetiva. Eu tinha esse conflito entre estudar cultura pop, audiovisual e, ao mesmo tempo, querer colocar a mão na massa. Foi então que eu descobri nos últimos anos que poderia unir as duas coisas”, explica Thiago. “Sempre assisti muita coisa no Youtube e percebi que tinha um nicho de pessoas que falavam sobre cultura pop em análises com mais nuances, mais contextualizadas em termos de política; que exploram a relação das histórias dessas obras com o mundo real, e esse tipo de conteúdo me entusiasma muito.”.
Antes de iniciar o canal, Thiago, com um nome de usuário inconfundivelmente pernambucano (@oraporra), já fazia sucesso no Twitter com seu humor sagaz. Ele acredita que essa experiência na rede social ajudou na consolidação do canal por já trazer uma base de seguidores interessados em suas observações.
Os primeiros vídeos, publicados há pouco mais de um ano, foram feitos na cara e na coragem, com investimentos próprios, e a parceria do amigo Renan Joele, responsável pelas imagens. Só a partir do segundo mês, Thiago começou a receber patrocínio dos espectadores através de plataformas de patrocínio coletivo como Padrim. Além de Renan, ele atualmente conta também com a colaboração da editora Bruna Gabriel, responsável pela pré-montagem dos vídeos. A finalização fica por conta do próprio Thiago.
“Só faço vídeo se for sobre algo que me desperta paixão. O meu grande exemplo da importância de seguir essa diretriz foi quando fiz o vídeo sobre o filme Vingadores: Ultimato. Eu fiz porque achei que era importante, mas não rendeu grandes coisas, não me moveu. Gostei do filme, me diverti, mas não merecia uma análise. É um aprendizado”, explica. “Para mim é muito importante a questão da hipertextualidade, de um olhar que também passa pela semiótica, pela linguística e pela história. Nunca falo de uma coisa só; busco histórias que se conectam com o assunto porque é o meu jeito de pensar naturalmente. Sempre parto do pressuposto que a obra em análise tem que se conectar com a vida real, com o que a gente acredita ser real ou não. Às vezes dá um medo de ser cancelado porque são opiniões polêmicas (risos)”, conta.
Além dos vídeos com recortes temáticos, Thiago costuma publicar também o Hora da Ora, no qual responde perguntas enviadas pela sua audiência. É uma forma, explica, de produzir conteúdo enquanto elabora o roteiro dos próximos vídeos. Atualmente, ele publica um vídeo por semana, às terça-feiras, por volta das 16h.
E VAMOS DE ANÁLISE
Nos últimos meses, sua produção tem ficado mais robusta, com maior aprofundamento nos assuntos, a exemplo dos vídeos sobre as disputas de narrativas que polarizam as análises de produtos culturais, a representação de personagens mulheres nos quadrinhos e no cinema, e as formas como situações extremas, como uma pandemia, escancaram problemas enraizados na sociedade. Este último tema, inclusive, com recorte no coronavírus, deverá voltar a ser abordado em um próximo vídeo.
“Venho refletindo sobre como ficar confinado em casa muda nossa relação com o tempo e como essa sensação também é um privilégio. Para as pessoas que moram na periferia, por exemplo, ficar em casa tem outras implicações, não há acesso aos mesmos recursos e facilidades tecnológicas, financeiras. Para quem está marginalizado, a angústia é outra, são várias questões, que passam por desigualdades econômicas, direitos trabalhistas”, pontua. “Historicamente, quem produz filmes são pessoas de um certo recorte social privilegiado, meu palpite é que veremos muitas obras abordando a questão do tempo como construção social”.
Sobre seus planos para o futuro, Thiago aponta que, em um mundo ideal, ele deseja ter mais tempo para se dedicar às pesquisas e elaboração dos roteiros. No momento, ele tem buscado soluções para driblar as adversidades impostas pela pandemia do novo coronavírus à produção dos vídeos, como improvisar um novo cenário, utilizar outros equipamentos para a gravação, como o celular, e produzir mais vídeos com voice-over (locução). "Hoje, na medida do possível, eu consigo viver do meu conteúdo. É uma experimentação e uma constante busca para aprimorar uma linguagem que seja minha", enfatiza.
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