Investigação

Disponível no YouTube, documentário investiga caminhos do cigarro contrabandeado no Brasil

'Cigarro do Crime' se divide pelo Paraguai e Brasil para explorar a complexa rede de contrabando que abastece o mercado de cigarro ilegal no país

Rostand Tiago
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Rostand Tiago
Publicado em 18/05/2020 às 10:27 | Atualizado em 18/05/2020 às 10:27
Vice/FNCP/Divulgação
'Cigarro do Crime' está disponível gratuitamente no YouTube - FOTO: Vice/FNCP/Divulgação

Já está disponível gratuitamente em canal no YouTube do Fórum Nacional Contra a Pirataria o documentário Cigarro do Crime, dirigido por João Wainer e conduzido pela jornalista Débora Lopes. Em cerca de 40 minutos, a produção encara os caminhos percorridos pelo cigarro trazido ilegalmente do Paraguai para o Brasil em uma rede muito mais complexa do que se costuma acreditar, envolvendo minúcias tributárias e perseguições cinematográficas. A investigação passa por diversas localidades dos dois países e escuta parlamentares, autoridades, contrabandistas e consumidores finais. O documentário é uma produção do Vice para o Fórum Nacional de Combate à Pirataria e Ilegalidade.

Entendendo que o cigarro paraguaio é amplamente difundido no país, sobretudo por conta do preço muito abaixo do mercado, a jornalista Débora Lopes vai atrás de conversas que buscam dar conta de como essa rede consegue tal dimensão. O cigarro ilegal corresponde a mais da metade do consumo no país. O caráter lícito do produto em si acaba por minimizar a compreensão sobre mecanismos ilegais, e até violentos, de sua existência. Desvelar isso é um dos pontos de partida do projeto.

"A gente entende que o contrabando de cigarro, por ser uma droga legalizada, seja uma coisa menor. E talvez até tenha menos violência envolvida quando comparado com outras drogas, mas ainda tem. E
as perdas são grandes, principalmente em relação ao sistema de saúde, com a perda da arrecadação do imposto que é justamente direcionado para o combate e o tratamento de complicações decorrentes do tabagismo", afirma João Wainer. Segundo especialistas ouvidos pela produção, a lucratividade ilegal do cigarro já se tornou uma das queridinhas pelo tráfico e pelas milícias.

No Paraguai, principalmente por parte dos produtores cigarreiros, há uma série de mecanismos que a indústria bilionária consegue ativar para ter certa tranquilidade nos negócios. É válido ressaltar que um dos
maiores nomes desse segmento é Horacio Cartes, que além da produção de cigarros, também se aventurou pela política e foi presidente do Paraguai entre 2013 e 2018. Pelas bandas de lá, foram ouvidos parlamentares e autoridades locais que ilustram o histórico da atividade e seu agigantamento. Mas é na região da fronteira que a ação acontece, com o jogo de gato e rato praticado em água e terra pela polícia e os contrabandistas.

É notável pensar no tempo em que tudo isso foi investigado e organizado no documentário. Os planejamentos começaram na virada do ano e o filme já está pronto em menos de seis meses. Wainer destaca que a equipe grande e experiente no assunto foi essencial para que tudo pudesse ser feito com
tal eficiência, com uma verdadeira rede de jornalistas que fizeram as conexões possíveis para se chegar aonde queriam.

"Era uma equipe realmente grande e entendida do assunto, espalhada por diversos lugares. Contamos com o premiado Mauri Koning, que trabalhou anos na fronteira investigando o contrabando. No lado do Paraguai, tivemos Federico Filártiga, que passou por grandes veículos de lá e agora trabalha com jornalismo independente. E, por aqui, tivemos o Josmar Jozino, especialista na cobertura do crime organizado", explica João, que coordenou o trabalho dos jornalistas ao lado da também jornalista Gabriela Pessoa. Foram esses nomes que facilitaram a construção de pontes nos dois países, dando uma pluralidade de vozes ao filme.

Vice/FNCP/Divulgação
Carga de cigarro apreendida na fronteira - Vice/FNCP/Divulgação
 

Dessas pontes, a mais difícil foi a estabelecida com os contrabandistas, dos dois lados da fronteira. Com as identidades preservadas, eles falam sobre suas histórias e percepções sobre o que fazem, mas os caminhos para chegar neles é complicado. Trata-se de um processo de investigação que não permite grande planejamento e demanda improviso e tensão.

"Contrabandista não tem assessoria de imprensa, então tem que se construir uma relação de confiança. É algo que teve que ser feito em pouco tempo, não era possível ser planejado na pré-produção. Tínhamos que ser honestos e claros no que estávamos propondo e esperar que eles fossem com nossa cara", relata Wainer. "Teve momentos que a gente não sabia para onde tava indo, pegamos um carro com um cara que acabamos de conhecer. Sempre há medo e um pouco de incerteza", conclui o diretor.

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Carga de cigarro apreendida na fronteira - FOTO:Vice/FNCP/Divulgação

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