Entrevista

Coordenador do Restaurant Week fala sobre delivery solidário e novos formatos

Em entrevista ao Jornal do Commercio, Leo Barbosa, coordenador do RW em Pernambuco, conversou sobre novas estratégias da iniciativa e os impactos da pandemia

Flávia de Gusmão
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Flávia de Gusmão
Publicado em 21/05/2020 às 16:37 | Atualizado em 21/05/2020 às 16:37
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Leo Barbosa, coordenador do RW em Pernambuco - FOTO: Divulgação

Aguardado ansiosamente pelos adeptos da boa mesa, o Restaurant Week acontece este ano, até o dia 14 de junho, em cenário de distanciamento social. Ajustou-se, reformulando seu enunciado, passando a se chamar Restaurant Week Delivery Solidário.

Abrigados sob o mesmo guarda-chuva (o site restaurantweek.com.br), os restaurantes engajados lidam com seus clientes diretamente, através de seus sistemas de entrega, e, a cada semana, de acordo com o volume de vendas, despacham quentinhas para a população mais vulnerável. No mais, segue a fórmula: menu completo a preço vantajoso. O coordenador do RW em Pernambuco, Leo Barbosa, fala sobre as mudanças.

Confira a entrevista:

Jornal do Commercio – De que forma este cenário de pandemia afetou o festival?
Leo Barbosa – Percebo que este cenário afetou tanto de maneira negativa quanto positiva. Pelo lado dos clientes, há uma preocupação em diminuir custos, gastar menos. Vejo de forma positiva o incremento de uma edição delivery, possibilidade que havíamos detectado antes e, com a pandemia, sua implementação se fez extremamente necessária.

JC – O número de participantes em Pernambuco decresceu, comparado com outros anos. Que dificuldades encontrou e quais argumentos você utilizou para conseguir adesão?
Leo Barbosa – Sim, decresceu. Encontramos várias dificuldades, um clima de insegurança instalou-se no ar, nos restaurantes e nas cozinhas. Uma delas é o número de restaurantes com suas atividades suspensas, por questões estratégicas ligadas à diminuição de custos, mas, acima de tudo, por um posicionamento dos empresários em querer poupar suas equipes de uma exposição ao vírus, mantendo-as em casa. Outra, infelizmente, é a de que alguns estabelecimentos precisaram encerrar suas atividades.

Os argumentos usados para a adesão cabem para os estabelecimentos que resolveram tentar passar a pandemia com um funcionamento delivery, obedecendo as normas de segurança dentro das cozinhas e nas entregas. Adotamos uma política de não haver taxa de inscrição para os participantes e chegamos mesmo com o espírito de ajudá-los a passar por esta fase tão difícil.

JC – Em detalhes, como vai funcionar o delivery solidário?
Leo Barbosa – Trata-se de uma edição nacional, por isso o nome Restaurant Week Brasil Delivery Solidário. A ação está acontecendo, simultaneamente, em São Paulo, Rio de Janeiro, Campinas, Curitiba, Belo Horizonte, João Pessoa, Baixada Santista, Salvador e Pernambuco. Subimos as informações dos restaurantes participantes para o site nacional, com os menus e cada um com suas formas de atendimento e vendas para o cliente. Os valores dos menus diferem em cada cidade, de acordo com o posicionamento de cada praça gastronômica.

Mas, falando na mecânica do festival, o cliente entra no site, escolhe a edição da cidade/estado e tem acesso aos restaurantes, onde ele seleciona o seu menu e entra em contato com o local para solicitar seu pedido. Dentro dos valores dos menus já está incluso a produção de uma marmita solidária, feita pelo próprio restaurante. Ou seja, a campanha consiste em o cliente apoiar o segmento de restaurantes nesse momento difícil sabendo que, automaticamente, a cada menu comprado uma marmita é doada para alguém que se encontra em situação de alta vulnerabilidade.

Aqui em Pernambuco, temos duas faixas de valores de menus: de R$ 49,90 e R$ 54,90. A cada sete dias, os restaurantes produzem as marmitas, de acordo com as vendas, que serão coletadas por agentes do projeto Pernambuco Solidário Contra a Covid-19, que está atendendo, diariamente, moradores de rua em cinco pontos de apoio e cuidado.

JC – Pelo que vi, poucos restaurantes aceitam pagamento pelo app Iti, ainda há resistência a novas tecnologias?
Leo Barbosa – Sim, as novas tecnologias sempre parecem complicadas para um bom número de pessoas, mas a maioria delas vai se difundindo até chegar ao uso comum. Porém, do início do festival (dia 15/05) até agora, vem crescendo o número de aceitação.

Acredito que a experiência física de ir aos restaurantes terá uma diminuição de clientes, mas, por outro lado, as pesquisas já apontam o crescimento das vendas on-line no delivery, que inicialmente estava muito ligado ao fast-food mas passa a se direcionar para a chamada alta gastronomia. Ferramentas como o Iti e outras transacionadas 100% on-line crescerão exponencialmente. O Iti é um grande parceiro nesse momento porque viabiliza transações sem contato físico.

JC – Como você analisa o cenário gastronômico dentro desse contexto de abertura?
Leo Barbosa – Ir a restaurantes em grupos, maiores ou menores, sempre esteve ligado a confraternizações, encontros de amigos e fechamentos de negócios. Certamente, isso não irá se extinguir, mas, dentro do contexto da reabertura dos estabelecimentos, deve haver restrições a grandes grupos. Distanciamento entre mesas nos levará cada vez mais a procurar ambientes abertos e a utilizar novas tecnologias para pedidos em casa, principalmente para evitar transações físicas através de dinheiro ou cartões de crédito. Ou seja, bem vindo ao novo de novo.

JC – O formado do Restaurant Week, em vigor há 12 anos, já vem mostrando sinais de desgaste?
Leo Barbosa – Como todo modelo, precisa sempre se renovar, se atualizar, usar novas plataformas de vendas, ter apelos menos comerciais e mais humanos. Não acredito num festival apenas ligado a preços módicos, baixos, e, sim, a compromissos sociais, à valorização de insumos e ao modo de fazer. 

JC – Que tipo de feedback você tem recebido nesses anos, tanto positivos quanto negativos?
Leo Barbosa – Positivos: nosso festival gera fluxo, tráfego, ajuda no aquecimento da economia no setor, recruta novos adeptos à chamada alta gastronomia. Somos um festival que democratiza o acesso das pessoas a técnicas e formas de fazer, inspiradas nas cozinhas europeias e, ao mesmo tempo, inspirada nas origens africanas e indígenas. Convidamos o cliente a casas de qualidade através de preços mais acessíveis e novas experiências. A cada edição, tantos os clientes quanto os restaurantes participantes entram em uma campanha de ajuda a uma instituição social.

As negativas: passaram pelo nosso festival inúmeros restaurantes que, inicialmente, só visaram o lucro. Já não estão mais abertos. O consumidor entende quando um menu é feito de maneira honesta, desejando o ganho para o cliente, como também percebe quando o menu está aquém de suas expectativas.

Constatamos como nosso serviço, que vem melhorando, ainda é precário. Falo do atendimento, da cordialidade, da atenção para com os clientes, do conhecimento do cardápio que está vendendo, da falta de treinamento de equipes.

JC – Quais as orientações que vocês procuram passar para que os restaurantes engajados otimizem vendas?
Leo Barbosa – Inicialmente orientamos os estabelecimentos a criarem um menu Week à altura da qualidade do seu restaurante. Orientamos, também, através de um tema, que valorizem os insumos locais, fortalecendo uma identidade. É importante redobrar a qualidade e quantidade de profissionais na cozinha, assim como o foco no salão, na qualidade do atendimento e, em hipótese alguma, incorrer no erro de discriminar o cliente menu Week por achar que será uma mesa de ticket médio baixo. Isso é inadmissível.

Na comunicação, é indicado ao restaurante ativar sua assessoria de imprensa. No mundo digital, divulgar sua marca e menus através de suas mídias sociais com posts no feed, stories e lives, que aumentam sua visibilidade. A comunicação mudou bastante com a internet e muitos restaurantes ainda precisam se ajustar a essa realidade. Fazer um pré-atendimento nas filas e áreas de espera, possibilitando a venda de drinques e pequenas entradas e couverts, também é indicado, pois o seu cliente já está no seu restaurante.

JC – Como você tem mapeado as incertezas que vive o setor atualmente, o que tem ouvido por aí?
Leo Barbosa – Vários restaurantes já vinham sofrendo com uma crise econômica. Infelizmente, muitos já não tinham fôlego para passar pelo período da pandemia, que já se arrasta há mais de dois meses. Vários deles não tinham um trabalho de delivery implantado e com a contingência de profissionais, cozinha e entregadores, estão tendo dificuldades em criar essa estrutura emergencialmente. Ouvi de amigos que eles, de agora em diante, passarão a dar mais atenção ao delivery em seus restaurantes, para diminuir, assim, a dependência do cliente no salão. 

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