Já ouviu aquela frase "filho de peixe, peixinho é"? Pois bem, ela pode ser facilmente aplicada a Leo Linconl, hoje responsável por comandar o elã - cafés especiais. Um hábito antigo que o destino tratou de transformar em profissão é um dos principais motivos da existência do estabelecimento. Maria, sua avó, reservava os domingos para reuniões familiares. E é tentando resgatar as lembranças desses encontros que Leo se inspira e dá os primeiros passos em seu negócio, inaugurado no final de novembro do ano passado.
Nascido e criado em um ambiente culinário, Leo começou a trabalhar dentro de uma cozinha ainda criança, ajudando seu pai num restaurante. As obrigações, à época, lhe pareciam pesadas e incompatíveis com as brincadeiras da infância. Por outro lado, terminaram por influenciá-lo, e ajudá-lo, na trilha que se abriria no futuro.
Na memória estão o arroz branco, a galinha caipira guisada, o macarrão cozido com açafrão e servido com cebolinha, o cuscuz que levava tomates e cebolas cruas, o doce de mamão verde e o doce de banana. Comidas que ainda lhe ressoam alto.
RESSIGNIFICAR
"Movimento súbito, espontâneo; impulso. Emoção, calor, vivacidade". Todas essas definições são apresentadas quando se busca o significado da palavra elã no dicionário. De fato, nada poderia representar melhor a nova etapa na vida de Linconl, que dedicou 25 anos de sua jornada a uma área totalmente oposta à gastronomia. Durante muito tempo, ele trabalhou com comunicação, atuando no Ministério da Saúde, ONGs nacionais e internacionais e em projetos de pesquisa da Fiocruz. Mas queria e conseguiu mudar de carreira.
Se fôssemos dar o passo a passo de como surgiu o elã, começaríamos com o desejo de focar em outros serviços. Disso, veio a formação de barista e torra de café no Coffee Lab, também responsável por algumas inspirações. O que fazer depois de estudar? Juntar o dinheiro necessário. Enquanto isso, idealizar a proposta.
Esse foi o caminho percorrido por Leo. "O conceito vem também de um desejo louco de mudar o mundo. Mudar o que estiver ao nosso alcance", assume. O projeto passeia e se interliga com outros eixos da sociedade. A borra de café, que costuma ser descartada, é destinada para o fornecedor de cogumelos orgânicos. O consumo de água é totalmente consciente. Há a valorização da agricultura familiar e de pequenos produtores de café através da compra dos produtos. A população transexual também é amparada com a oferta de emprego, assim como jovens em busca da primeira oportunidade no mercado de trabalho.
A pandemia impossibilitou o elã de dar muito mais que os primeiros passos no ano de 2020. Os envolvidos sequer tiveram chance de desfrutar a sensação proporcionada pela inauguração. "Estamos tentando entender o que está acontecendo e o que pode acontecer ainda. Teve muito choro, aprendizado, erros, acertos e de um tudo aconteceu. Agora, vamos nos levantar devagar e reagir, um pouco contra a nossa vontade, porque de alguma forma estamos nos expondo também", admite Leo, referindo-se ao vírus que aterroriza o mundo.
Junto ao seu parceiro e à funcionária Jessica, que retornou recentemente ao ambiente físico, ele dá prosseguimento aos planos: o delivery segue funcionando e um take away deve começar em breve. Lucas e André, que também trabalham no elã, permanecem em isolamento social, uma vez que moram com pessoas consideradas vulneráveis ao vírus, mas continuam recebendo seus salários.
Leo frisa a importância de cada um que faz parte da família elã. Lucas, o gerente, lida com os fornecedores. Jéssica acolhe os clientes da casa, além de cuidar de toda a questão de biossegurança. André é o jovem aprendiz, auxiliando na cozinha e em outras demandas administrativas. O próprio Linconl fica com as compras, treinamento, cardápio e finalização de tudo.
A experiência que a área da saúde proporcionou para Leo dentro de projetos sociais lhe trouxe a ideia de implementar essas questões no elã. "A casa nasce com esse viés social e vamos abraçar mais causas, indo além de vender café e bolo", garante. Literatura, cinema, antirracismo, gênero, preconceito e cultura como um todo. Todos esses tópicos são abraçados pelo estabelecimento, que apresentou o projeto elã praia nos últimos dias.
A iniciativa tem como principal objetivo ajudar a vendedora Neide, que oferece seus produtos (caldeirada e aratu) em Boa Viagem e, devido à pandemia, está enfrentando dificuldades financeiras. "Vamos tentar incluir mais vendedores na sacola do elã praia. Temos também a Caixa Postal, que é o que conseguimos produzir nesse momento. As duas vendas estão disponíveis no nosso Instagram", alerta Leo.
Serviço: elã - cafés especiais — Rua João Ramos, número 252-A, Graças, Recife. A página no Instagram é a @elacafesespeciais
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