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Florescendo: Quarentena favorece aceitação de cabelos naturais

Da progressiva para o cacheado; do tingido para o branco; isolamento incentiva transição capilar

Maria Lígia Barros
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Maria Lígia Barros
Publicado em 09/06/2020 às 17:13 | Atualizado em 09/06/2020 às 18:06
CORTESIA
O período foi decisivo para a arquiteta Fernanda Castro e para a social media Beatriz Câmara - FOTO: CORTESIA

Em meio à loucura da pandemia do novo coronavírus, há quem se encontrou, durante o período em confinamento, no caminho da aceitação. Dentro de casa, longe das pressões sociais, foi possível lançar para si mesmo um olhar de acolhimento e nutrir partes antes negligenciadas.

Foi nesse processo que a social media Beatriz Câmara, de 25 anos, resolveu abandonar de vez as escovas progressivas e assumir o cabelo cacheado. "Estou tentando me ver com mais carinho, me aceitar”, fala. “A quarentena afastou a gente da cobrança daquele padrão. Eu voltei a ser quem eu sempre fui, me aceitar do jeito que eu sou. Foi positivo nesse aspecto para mim”, conta.

Não é a primeira vez que ela passa pela transição capilar. “Há um ano, ele era todo natural e estava quase na cintura. Mas, por problema de autoestima, voltei a fazer química”, lembra. “Quando a gente entrou na quarentena, passei a me questionar esses motivos, e questionar minha aceitação pessoal pelo cabelo também. Resolvi que não ia mais alisar”, relata.

Dessa vez, comprometida com a decisão, cortou a maior parte do cabelo que continha química - o que, na terminologia de quem passa pela transição capilar, chama-se ‘big chop’ (grande corte, em tradução livre). “Quero que ele cresça natural. Quero cuidar do meu cabelo como forma de amor próprio”, define.

O processo não é de todo fácil. “Como você está em isolamento, fica tudo na lupa. Minha autoestima fica numa montanha russa, tem dia que eu acordo e acho (o novo corte) massa, e tem dia que acho péssimo”, revela.

Mesmo assim, é um projeto que estabeleceu para si: “A gente é condicionada a viver num padrão estético social, então você faz loucuras, deixa de ser você. Estipulei isso como um objetivo de vida: me soltar das amarras sociais do cabelo liso e começar a me aceitar. Sair da escravidão da chapinha. Eu não quero mais isso na minha vida.”

O período também foi decisivo para a arquiteta Fernanda Castro, 38, que escolheu abraçar os brancos. Quando descobriu que estava grávida, em fevereiro de 2019, teve que deixar de tingir os fios. "Resisti muito até a amamentação. Quando eu parei de amamentar, uma semana antes da quarentena, decidi que não queria mais isso”, fala.

As medidas de distanciamento social a fizeram ter certeza. “Tive mais tempo de parar e olhar para mim. Eu não podia pintar porque não podia sair de casa para isso, e não levo muito jeito para fazer sozinha. Daí fez com que a decisão se tornasse mais forte e eu decidisse que realmente não ia pintar mais e ia manter isso."

Assim como no caso do cabelo cacheado, a pressão social contrária aos cabelos brancos também foi uma barreira que Fernanda precisou enfrentar. “Todas as pessoas que eu pedia opinião diziam: ‘não faça isso, vai lhe envelhecer’. Eu tinha bastante medo. Mas acho que o fato de eu ter que conviver com eles foi o poder definitivo de decisão”, conta.

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O cabeleireiro Abraão Pacheco, do Salão Ronnie Cabeleireiros, em Olinda, no Grande Recife, concorda que o momento favorece o movimento de aceitação. “Você fica trancado de casa, se percebe melhor como indivíduo, e acaba que você não se vislumbra mais com essas maquiagens. Tem quem não se enxerga mais naquele visual. Para o cabelo, às vezes, é mais uma construção social do que na realidade algo que você realmente queira”, comenta.

“No caso do cabelo cacheado, dizem que o liso vai dar facilidade, mas a gente sabe que não é. É o ideal de beleza caucasiana, que é incubado na estética, mesmo brasileira. Já o cabelo branco, é a mentalidade totalmente machista de que a mulher não pode envelhecer, que tem que ser eternamente jovem”, opina.

Ele encoraja: “Se você estiver com vontade de fazer, faça. Não caia nas armadilhas do marketing das mídias, que às vezes elas são sorrateiras para fazer você voltar a um ciclo vicioso de químicas. Se é uma coisa que você quer, tenha coragem, porque o resultado final vale muito a pena.”

Cuidados

Para quem for passar pela transição, tanto dos brancos quanto dos cacheados, a principal dica do especialista é a paciência. “Todos os dois infelizmente não existem formas de você retirar as químicas do cabelo definitivamente”, resume.

Em casa, a sugestão é manter os cuidados para continuar com o cabelo saudável.

Os grisalhos pedem atenção à hidratação. “Não é porque você deixou o pintar o cabelo que não precisa tratar. Enquanto a tinta estiver no cabelo, ela vai precisar de cuidado. Fazer as rotinas capilares de hidratação, principalmente agora que você não está repondo pigmento, para não ficar desbotado”, explica Abraão.

Já as madeixas que estão com progressiva necessitam de produtos voltados para a reestruturação. “Você está com aquela maquiagem de que está liso mas, na realidade, a fibra está destruída pela química.”

Alguns tratamentos no salão podem tornar a transição mais fácil. “No cabelo branco, você consegue fazer algumas maquiagens num processo de descoloração para tirar marca do crescimento da tinta, que incomoda algumas mulheres”, detalha. Os cabelos com progressiva tendem a precisar mais do corte. “Se o cabelo não estiver muito liso, existem efeitos de corte que dá para conseguir poupar tamanho”.

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