Música

Rico Dalasam investiga suas emoções em EP conciso e profundo

'Dolores Dala Guardião do Alívio' marca retorno do artista após período de reclusão

Márcio Bastos
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Márcio Bastos
Publicado em 15/06/2020 às 12:08 | Atualizado em 15/06/2020 às 13:21
DIVULGAÇÃO
CATARSE Uma maneira de purgar acontecimentos passados - FOTO: DIVULGAÇÃO

Trabalho que utiliza da concisão para tecer um relato intimista das emoções de seu intérprete, Dolores Dala Guardião do Alívio marca o retorno de Rico Dalasam após um período de reclusão, marcado também pelo descontentamento com as dinâmicas racistas da sociedade e refletidas também dentro da comunidade LGBT. No novo trabalho, Dalasam afirma ter buscado uma forma de transpor para o lúdico as experiências do real e reconfigurar os acontecimentos ocorridos em sua vida nos últimos três anos.

Em um post no seu Instagram, em outubro do ano passado, Dalasam explicou o motivo de não se sentir motivado a lançar novos trabalhos. "Já não tenho prazer suficiente para fazer ou lançar algo que eu sei só será legitimado se gays brancas assim decidirem... Essa opção não me contempla", escreveu. "Só tem poder de cancelar quem tem poder de eleger, e não tenho o menor desejo de lançar hits e ser eleito por quem vai ter poderes sobre mim a partir de então."

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O ponto do artista é certeiro: intérprete e compositor talentoso, Dalasam foi alvo de ataques virulentos nas redes sociais após abrir um processo contra Pabllo Vittar e o DJ Gorky em relação aos direitos autorais música Todo Dia, presente no primeiro álbum da drag queen. O assunto foi resolvido na justiça, mas as reações de internautas em relação a Dalasam só reforçam a importância do seu relato.

PLURAL

Ao longo de sua carreira, o artista tem produzido trabalhos ecléticos e com forte influência do hip hop, da música eletrônica, do funk e pop, como álbum Orgunga (2016) e o EP Balanga Raba (2017). Em Dolores Dala..., ele deixa as pistas de dança e abraça a introspecção e reflete sobre a complexidade dos relacionamentos.

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Ao longo dos 12 minutos do EP, Dalasam se mostra em seu estado mais vulnerável. Em Mudou Como?, o artista reflete sobre a angústia de um relacionamento abusivo. "Me sinto a janela cheia de adesivo/ Tentando ver paz num treteiro impulsivo/ Me julga e dá a sentença/ E com uma frase de amor me faz absolvido", canta.

A delicada Braille aborda as dinâmicas de um relacionamento inter-racial. A canção de amor é uma declaração sincera sem deixar de ser atravessada pelas questões sociais.

"Caro, menino branco/ Esse nosso encontro pede a lucidez/ De saber o lugar que me encontro/ E você, por sua vez/ Se é pra andar ao meu lado, saiba que/ Alguém foi senhor alguém foi escravo/ E, entre nós, esse espaço/ Pede alguns passos", entoa.

Sobre as novas composições, o artista entende que o EP "desenha um coração dentro de um corpo preto sul-americano pisando pelas primeiras vezes na vida adulta". Madura, a poética de Rico Dalasam traz a profusão de emoções do cotidiano em imagens singelas e, ao mesmo tempo, potentes, como na faixa Vividir, uma reflexão sobre as memórias e a construção de um outro futuro possível.

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RICO DALASAM - FOTO:SOUZA FOTOS/DIVULGAÇÃO

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