Há 18 anos o jornalista Ricardo Mello e o cartunista Samuca uniram seus versos e ilustrações pela primeira vez. De lá para cá se aventuraram tanto no universo da literatura infantil quanto da poesia adulta, com seus quatro volumes da série Hai Kados. Uma parceria que, se for levado em conta as quase duas décadas, não poderia ser resumida em apenas um haicai, mas sim numa coletânea de rimas. Por isso eles continuam produzindo, escrevendo e ilustrando juntos e lançam, nesta sexta-feira (3) o projeto Rima Anima.
Através do site www.rimanima.com, os leitores podem acessar digitalmente e gratuitamente os livros Primeiros Hai Kados, Hai Kados e Poeminhas Volume 4 (infantil). Além das obras, o objetivo da dupla pernambucana é alimentar semanalmente o projeto com haicais e ilustrações inéditas, como forma de democratizar o acesso à literatura durante este período de distanciamento social e de reverberar o impulso criativo estimulado pelo confinamento.
"Queremos que a arte seja uma companhia neste momento e que ela aproxime as pessoas. O próprio título do projeto traz essa ideia da arte, da poesia, como meio de animar a gente, de nos emocionar, fazer refletir. E o haicai é muito interessante porque ele carrega esse potencial numa forma muito simples e em apenas três versos. Ele transmite muito em poucas palavras", explica Ricardo.
E o atual contexto provocado pela pandemia do novo Coronavírus não só despertou no autor e ilustrador a vontade de compartilhar gratuitamente de com fácil acesso como também vem pautando suas próprias produção artísticas. A convivência em casa com os familiares, as atitudes da sociedade em relação ao vírus, o impacto das novas rotinas são temáticas que vêm mobilizando as reflexões de Ricardo e Samuca. "Certamente estamos bastante mobilizados pelo que vivemos atualmente. Os acontecimentos fazem isso com a gente, uma vontade de produzir e falar sobre, dividir com as pessoas", pontua o escritor.
Sobre o formato escolhido, Ricardo aponta ainda que a decisão também se deu por provocações a respeito do papel da tecnologia da vida das crianças. Muito se debate a respeito do limite de tempo e do tipo de conteúdo consumido pelo público infantil no YouTube, jogos onlines, então eles perceberam que havia ainda espaço para um projeto que se propõe a levar arte e poesia nessa dinâmica já estabelecida e que pudesse se firmar como um respiro. O intuito é que não apenas pais, irmãos ou avós leiam com seus filhos os Poeminhas, mas que até professores e escolas possam acessar e fazer uso desse conteúdo com os alunos.
"As crianças são os leitores mais francos, mais sinceros. Se bate uma dúvida, elas vão e perguntam em medo de questionar. É um desafio entrar nesse universo com o qual você convive, mas que não é mais o seu. Eu tenho quatro filhos, dois já são adultos e tenho duas filhas crianças e todos foram ou são fontes de inspiração para o que escrevo. As situações vividas, as perguntas. Muitos dos poemas são diretamente influenciados por essa convivência e é incrível porque é sempre uma relação única, curiosa, lúdica. Minha filha mais velha tem 25 anos e a mais nova 3, mas eu percebo que muitas situações se repetem através das gerações. É uma fonte inesgotável de aprendizado", relata Ricardo.
Tanto os livros adultos quanto os infantis da dupla poderiam ser sintetizados para quem nunca os leu com os versos do hai cai De Novo, do Poeminhas. "Nem duvide, pode crer/ Nunca é uma só vez/ Quanto mais viu, mais quer ver."
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