O cantor e compositor norte-americano John Legend, de 41 anos, participou do programa da Rede Globo, Conversa com Bial, desta quinta-feira (9). No bate-papo, temas como família, música, racismo e pandemia foram discutidos. Além disso, o artista, que é um ativista bastante atuante, falou bastante sobre suas impressões a respeito da política estadunidense e teceu críticas à postura do atual presidente dos EUA, Donald Trump.
No início da entrevista, Pedro Bial questionou sobre o surgimento de seu nome artístico John "Legend", "lenda" em português. Segundo o astro, um amigo bastante próximo dele começou a chamá-lo desta forma e o apelido se popularizou. Um tempo depois John foi convencido por amigos, entre eles Kanye West, a usar "Legend" como nome artístico. "A ideia foi de um amigo chamado J. Ivy, ele é um poeta e é de Chicago como Kanye [West]. J. Ivy começou a me chamar de "legend", ele achava que o meu som era como o dos artistas que ouvíamos na adolescência, como um antigo artista de soul. (...) Fiquei conhecido pelo meu grupo de amigos como "John Legend" e o apelido acabou virando nome artístico", explicou.
Multitalentos, o artista começou a tocar piano aos quatro anos e iniciou suas composições por volta dos sete. O termo "lenda" combina bastante com John que, aos 41 anos, já faz parte de um seleto grupo de artistas, o EGOT. A sigla remete aos quatro principais prêmios entregues nos Estados Unidos, o Emmy, o Grammy, o Oscar e o Tony. John Legend é uma das 15 pessoas em toda a história que já ganhou cada um deles.
"Temos quatro academias principais nos EUA que concedem prêmios. Temos a Academia da Televisão, que premia com o Emmy. Temos a Academia da Indústria Fonográfica, que premia com o Grammy. Temos a academia do cinema, que premia com o Oscar. E temos os musicais da Broadway, que são premiados com o Tony. Eu já recebi cada um dos prêmios, Emmy, Grammy, Oscar e Tony. Só 15 pessoas na história do mundo ganharam os 4 prêmios e eu faço parte deste clube, e é muito bom fazer parte disso", comentou.
Na entrevista, que foi realizada por vídeo-conferência, era possível escutar o filho mais novo de John, Milles, cantarolando ao fundo. Em quarentena desde o início da pandemia do coronavírus, John garante que o ponto positivo deste momento têm sido poder passar um tempo a mais com a família. "É muito legal passar um tempo com meus filhos. O momento tem sido ótimo para nossa família. É óbvio que muitas tragédias aconteceram na quarentena, mas acho que um aspecto positivo é ter tempo para família".
A esposa de Legend, Chrissy Teigen, é modelo e grande influenciadora nas redes sociais. Segundo John, ele não poderia ter outra pessoa melhor para passar este tempo de confinamento. "Ela é muito engraçada, me faz rir o tempo inteiro. Ela faz o twitter inteiro rir também mas tenho a vantagem de ter o humor dela o tempo inteiro e foi um dos motivos de eu me apaixonar. Ela também é muito criativa e ótima com nossos filhos para inventar coisas divertidas para eles fazerem, ela enche nossa vida de alegria, não imagino ninguém melhor que ela para passar a quarentena", falou.
Durante a conversa, John contou sobre o quão próxima a covid-19 chegou de sua família. Um tio, primo de seu pai, acabou falecendo por conta da doença. "Nossa família perdeu um primo da geração do meu pai. Meu pai tem 70 anos e ele tinha mais ou menos a mesma idade. Nós o perdemos e a esposa dele está doente. O filho dele, com quem estudei, também está doente. Isso afetou nossa família e nos deixou preocupados", relatou o artista.
A pandemia do coronavírus já infectou 3.165.058 pessoas nos Estados Unidos. Destas, 135.094 morreram até o momento. Para John Legend, Donald Trump, atual presidente dos EUA, não tem sido um bom líder e têm agravado o estado pandêmico do país. O artista chegou a comparar a gestão norte-americana com a gestão brasileira.
"Nem os Estados Unidos nem o Brasil reagiram bem à pandemia e eu acho que isso está ligado diretamente ao fato de que precisamos de uma liderança melhor aqui nos Estados Unidos. Não posso falar sobre a política brasileira porque não a conheço muito bem mas sei que seu líder segue o estilo de Donald Trump e Donald Trump não é um bom exemplo de líder. Acho que os dois países sofrem com a falta de uma boa liderança durante a pandemia."
Apoiador assumido de Joe Biden, que disputa a presidência dos EUA com Trump, John tem esperança de que o político democrata vença as eleições de novembro deste ano. "Acho que ele tem condições de vencer. O povo viu a catástrofe dos quatro anos de Trump e as pessoas querem alguém que lidere com empatia, com maturidade, altruísmo e com amor pelo país. Acho que Biden é essa pessoa", contou.
Num momento de extrema instabilidade política, econômica, social e sanitária não só nos Estados Unidos, mas em todo o mundo, John lançou o disco intitulado "Bigger Love" [amor maior, em português]. O álbum teve o objetivo de ser leve e ao mesmo tempo conduzir as pessoas a enxergarem amor nas atitudes cotidianas. Questionado por Bial se o atual momento de crise não fez com que John repensasse sobre a estréia do disco, o artista respondeu que precisava, principalmente no atual momento, lançar algo que trouxesse o amor como mensagem central.
"Pensamos nisso, no que estava acontecendo no mundo, o que estava acontecendo nos EUA, os protestos nas ruas. Vimos muitas imagens de tristeza e indignação e eu pensei que seria bom lançar esse tipo de música agora, achei que as pessoas precisavam de alegria, de amor e de conexão humana. Acho que esse disco pode despertar isso."
O artista ressaltou que acredita no amor como algo presente em todas as esferas da vida humana. Muito mais do que apenas no sentido romântico, para John, o amor deve ser a razão de acreditar e lutar por dias melhores.
"O amor está muito presente na nossa vida. Falamos muito do amor romântico e do amor pela família, mas acho que o amor deve nos motivar na política também. O amor deve ser a razão de acreditarmos que a vida de todos é valiosa e importante. É a razão de acreditarmos que quando vemos alguém perder uma pessoa especial por causa da violência policial, ou outra razão injusta, nós devemos sofrer com aquela pessoa e sentir empatia", explicou.
Legend acredita que a pandemia foi capaz de evidenciar ainda mais toda a raiva, o medo, a preocupação e a ansiedade que as pessoas vêm passando nos Estados Unidos. Para ele, o coronavírus, o desemprego em grande escala e a morte brutal de George Floyd foram o estopim para desencadear um explosão no país, alimentada pela má gestão de Trump. "As pessoas têm o direito de ficar bravas e ofendidas e demonstrar isso nas ruas. Isso tudo numa gestão de um presidente que quando vê uma fogueira não quer apagá-la, mas sim jogar gasolina. Trump fez carreira sendo preconceituoso e dividindo pessoas por raça, religião e outros fatos."
Sobre os protestos de Black Live Matters, desencadeados pela morte de George Floyd, o artista e ativista têm esperança de que este movimento multirracial, multigeracional e multinacional traga uma mudança verdadeira. John acrescentou também que o olhar para o futuro deve conter esperança e atitude. "Ter esperança não é fechar os olhos e dizer que tudo vai ficar bem. Esperança é saber que podemos fazer algo melhor e realmente fazer. Esperança é acreditar que nosso trabalho não é em vão. Pensar num futuro melhor não é em vão".
Para o futuro de seu país, o artista espera intensa transformação. "Que seja mais pacífico, inteligente e acolhedor. Mais justo. Espero que seja assim, mas como eu disse, não basta apenas ter esperança, a esperança precisa nos dar incentivo para causarmos essas mudanças", completou.
Com saudade do público, mas ciente de que sua volta aos palcos no Brasil só ocorrerá num momento seguro, John se declarou para os fãs brasileiros e finalizou a entrevista com uma performance especial de "Bigger Love", música principal de seu novo álbum.
Assista ao clipe de "Bigger Love", de John Legend, gravado durante a quarentena com a família:
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