Setor cultural recebe ajuda

EXEMPLOS Impressiona o valor de 1,57 bilhão de libras anunciado pelo primeiro-ministro britânico. Outros países também socorrem

ALEX MARSHALL
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ALEX MARSHALL
Publicado em 20/07/2020 às 6:00
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PROTEÇÃO Injeção de recursos vai garantir que grupos artísticos e casas de espetáculo possam se manter - FOTO: ANDREW TESTA/THE NEW YORK TIMES
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LONDRES - O setor artístico da Grã-Bretanha, fechado em grande parte desde março por causa da pandemia e desde então alertado para um colapso iminente, está recebendo uma espécie de tábua de salvação por meio do que o primeiro-ministro Boris Johnson descreveu como um pacote de resgate "referência mundial" para as instituições culturais e de preservação do patrimônio. As organizações receberão 1,57 bilhão de libras, cerca de US$ 2 bilhões, informou o Ministério da Cultura.

Johnson disse em um comunicado que o dinheiro "vai ajudar a proteger o setor para as gerações futuras, garantindo que grupos artísticos e casas de espetáculos em todo o Reino Unido possam se manter à tona e apoiar seus funcionários enquanto suas portas permanecem fechadas e as cortinas, baixadas".

"O dinheiro será destinado a uma variedade de beneficiários, incluindo estabelecimentos que realizam shows em porões e museus britânicos", ele acrescentou, embora não tenha fornecido os detalhes. Os museus na Inglaterra já foram autorizados a reabrir, mas ainda não se sabe quando será permitida a reabertura de teatros e casas de show.

Embora a afirmação de Johnson de que o resgate é "referência mundial" condiga com sua tendência à hipérbole e com seus discursos contundentes, o montante está em pé de igualdade com os pacotes de ajuda destinados ao setor artístico nas maiores nações da Europa.

O Parlamento alemão aprovou um fundo de um bilhão de euros (cerca de US$ 1,13 bilhão) para que seu setor cultural volte a funcionar, com base no já generoso apoio financeiro das legislaturas regionais. Muitos teatros alemães são financiados pelo Estado e recebem de 70% a 80% de sua renda do governo, em comparação com os cerca de 20% a 30% da Grã-Bretanha.

O Ministério da Cultura da França divulgou em um comunicado que havia se comprometido a liberar cinco bilhões de euros para o setor, embora grande parte desse dinheiro incluísse benefícios relacionados ao desemprego e iniciativas de manutenção do emprego que não faziam parte dos pacotes britânico e alemão.

Os países menores também prometeram dinheiro ao setor. Os Países Baixos se comprometeram com 600 milhões de euros para proteger sua vida cultural, escreveu o porta-voz do Ministério da Cultura por e-mail. Isso inclui um alívio no aluguel, no caso dos museus, e medidas para ajudar artistas independentes, informou ele.

O pacote britânico foi recebido com surpresa pelo setor teatral do país, que vinha organizando, havia semanas, uma campanha liderada por celebridades, na tentativa de obter apoio para os teatros — que anunciavam demissões em massa. Na sexta-feira, o Teatro Nacional de Londres avisou 400 funcionários de que eles perderão o emprego em agosto.

Depois do anúncio, James Graham, o dramaturgo de Ink, que trabalhou ativamente na campanha para a criação de um pacote de resgate, escreveu no Twitter: "Não me incomodo em admitir quanto chorei ao receber essa notícia que parecia tão impossível."

Nicholas Hytner, diretor e ex-chefe do Teatro Nacional, escreveu em um e-mail que a verba de 1,57 bilhão de euros era "um plano muito melhor do que qualquer um poderia esperar. É claro que há muito trabalho pela frente e perguntas a fazer sobre a rapidez com que os fundos serão distribuídos, como eles podem chegar aos artistas que necessitam de apoio e em quanto tempo poderemos nos conectar com o público, que estamos tão desesperados para servir".

Adrian Vinken, diretor executivo do Teatro Royal em Plymouth, na Inglaterra, afirmou que "seria mesquinho não receber bem a notícia, isso parece muito dinheiro. O problema é que o diabo mora sempre nos detalhes".

O pacote de resgate é um reconhecimento de que muitas casas de espetáculo não conseguem lucrar com as medidas de distanciamento social em vigor, disse Philip Bernays, diretor-executivo do Teatro Royal, de Newscastle, outra instituição que anunciou demissões.

Oliver Dowden, secretário nacional da Cultura, declarou à BBC que permitir que os teatros reabram sem distanciamento social "é algo que está longe de acontecer".

Nas mídias sociais, alguns profissionais de teatro freelancers expressaram preocupação com o fato de que o auxílio parecia não beneficiar os artistas independentes, alguns dos quais não conseguiam receber o seguro-desemprego desde março por causa das peculiaridades no sistema do país.

"Odeio parecer cínica, mas ainda estou tentando entender como o pacote do governo ajudará diretamente freelancers e independentes", escreveu Liz Barker, técnica de iluminação e som, no Twitter.

O UK Theater, um estabelecimento comercial, afirmou que estava intervindo para socorrer os profissionais do teatro que estavam desempregados, dando início a um fundo para prover um auxílio único de mil libras para os mais necessitados.

A Netflix contribuiu com 500 mil libras para o fundo, disse Anne Mensah, vice-presidente de séries originais da empresa, em reconhecimento ao "canal de talentos criativos" que a indústria fornece à gigante do streaming.

Em outra entrevista à BBC, perguntaram a Dowden se a contribuição da Netflix foi constrangedora para seu governo. "Sei que existem dificuldades para algumas pessoas do setor artístico, e a maioria delas receberá ajuda agora", observou ele.

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