Música

Fabio Brazza lança o álbum 'Isso Não é um Disco de Rap'

Quinto disco do paulista conta com convidados como Péricles, Luccas Carlos e Srta. Paola

Márcio Bastos
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Márcio Bastos
Publicado em 31/07/2020 às 16:57
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REFERÊNCIAS Brazza traz influências da poesia, da pintura e de gêneros como o samba - FOTO: DIVULGAÇÃO
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O músico Fabio Brazza lançou este mês seu quinto álbum, Isso Não é um Disco de Rap, trabalho que traz participações de Péricles, Luccas Carlos, Hélio Bentes, Srta. Paola, Sant, entre outros. Com composições que refletem suas experiências nos últimos anos e a realidade ao seu redor, ele explora seu arcabouço de referências variadas, que passeiam por vários gêneros musicais e outras linguagens artísticas, como literatura e artes visuais.

Resultado de um processo de profunda reflexão, o álbum é, segundo Brazza, sua obra mais pessoal. Composto por 12 faixas, constrói uma narrativa sobre os altos e baixos de alguém tentando se encontrar em meio ao caos interno e externo.

"Desde que iniciei esse projeto, minha vida teve inúmeras reviravoltas, e entre depressão e pandemia, minha arte foi posta em cheque, mas jamais minha vontade de me expressar e renascer. De repente não escrevia tentando achar a rima mais foda, mas o sentimento mais verdadeiro (...) Cada rima foi um gole de vida, um respiro em meio ao caos. Isso não é um disco de rap, é minha prescrição médica em forma de rima", escreveu em suas redes sociais.

 
 
 
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Saiu meu 5° álbum "ISSO NÃO É UM DISCO DE RAP"! Desde que iniciei esse projeto, minha vida teve inúmeras reviravoltas e entre depressão e pandemia minha arte foi posta em cheque, mas jamais minha vontade de me expressar e renascer. De repente não escrevia tentando achar a rima mais foda, mas o sentimento mais verdadeiro. Sim, coube a eles a missão de me guiarem nessa jornada na frente das palavras. Já não escrevia para os outros, mas pra mim. Cada rima foi um gole de vida, um respiro em meio ao caos. Isso não é um disco de Rap, é minha prescrição médica em forma de rima, é meu coração derramado em cada track, é o relato mais sincero de quem eu fui ou deixei de ser no decorrer dessa viagem. O título e a capa do álbum foram baseados na obra do artista surrealista Rene Magritte, e assim como seu quadro "Isso não é um cachimbo", quero dizer que isso é apenas uma representação de um disco de rap, já que nem álbum físico terá. Ou seja, ele só existirá como conceito na imaginação de cada um, que pode interpreta-lo como quiser. Mas Magritte também dizia que "tudo que a gente vê esconde algo". Bom, esse álbum não pode ser visto além da sua representação imagética, mas pode ser ouvido, sentido, e por trás de cada linha habita o mundo impenetrável do poeta, que tenta materializar ideias e emoções com palavras. Nos meus últimos álbuns eu era o idealista querendo mudar o mundo, nesse, é o artista tentando mudar a si. Mas quem vive da arte sabe, que ela não resiste a ideia de ser feita para si. Existe um anseio humano de gritar algo que esta trancafiado nas masmorras do pensamento, de libertar um pássaro do cárcere da alma, para que ele ganhe asas no peito de outro sonhador e não faça do nosso coração sua mortalha. Obrigado a todos que me ajudaram e acreditaram em mim, quando nem eu mesmo acreditava. Talvez a arte pra mim seja isso, minha tentativa de dar sentido a vida.Que me faz crer não só que posso ser maior, mas que também posso inspirar alguém a se-lo. A poesia é só um meio pra que a mensagem chegue, pra que a justiça ganhe voz, o amor renasça e o sonho desabroche! Deu pra entender? ISSO NÃO É UM DISCO DE RAP!

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Tanto a capa quanto o título do álbum fazem referência à clássica obra do surrealista belga René Magritte. "Esse álbum não pode ser visto além da sua representação imagética, mas pode ser ouvido, sentido, e por trás de cada linha habita o mundo impenetrável do poeta, que tenta materializar ideias e emoções com palavras", explicou.

Essa documentação das experiências nas músicas registram momentos importantes da vida de Brazza nos últimos anos. Em Centauros, ele relata sua desilusão com a arte por conta da depressão. "A cada som me cobro por mais sabedoria/ Mas nesse mundo sem sentido, porque minha música faria?/ Seria muita utopia viver de poesia/ Num país, onde pra cada 3 farmácias que abre, fecha uma livraria?", afirma em Centauros, com participação de Sant.

Em Só Uma Noite, parceria com Péricles, ele compartilha as dores do fim de um relacionamento longo. "Lembra, você queria se casar e eu tive que optar entre te seguir ou ir pra onde o Hip-Hop está/ E eu não virei um popstar, mas calma/ Meu som não toca na rádio, toca na alma".

Seu processo de enfrentamento dos problemas emocionais é tema de faixas como Boto Fé, Inquilino da Dor e Toda Gratidão. Brazza também reforça seu diálogo com o samba em Plágio, com participação da cantora e compositora Srta. Paola. A relação do artista com o ritmo é antiga e ele chegou a escrever o samba-enredo da Dragões da Real em 2018.

Outro momento de destaque do álbum é Armados de Poesia, parceria com o rapper Vulto. A canção é um manifesto sobre a potência transformadora do rap e da educação - e uma crítica às injustiças perpetuadas pelos sistemas político e financeiro.

"O mano com dinheiro fala mal da favela/ Como se o crime fosse só no Vidigal e na Rocinha/Mas apoia o deputado que é fechado com a milícia/ E ama ir no baile funk zoar e cheirar farinha/ E eu fico me  perguntando de onde essa droga vem/ Se até no jatinho do governo já tinha? (...) Rap é tudo o que o sistema não queria/ O povo armado de poesia", dispara.


Literatura

Além de músico, Fabio Brazza, também é escritor. Neto do poeta Ronaldo Azeredo, ele tem dois dois livros publicados, Pensamento Invertido (2018) e O Anel de Giges (2019).

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