MEMÓRIA

De livros a cartas pessoais, acervo de Miguel Arraes é doado à Fundaj

A doação partiu da família do ex-governador e coincide com os 15 anos de sua morte

Valentine Herold
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Valentine Herold
Publicado em 12/08/2020 às 16:15 | Atualizado em 12/08/2020 às 17:02
ALEXANDRE SEVERO/ACERVO JC IMAGEM
PERFIL Não somente o homem público, mas o avô, pai, companheiro e amigo transparecem nesta coleção - FOTO: ALEXANDRE SEVERO/ACERVO JC IMAGEM

Há exatos 15 anos falecia Miguel Arraes, figura política pernambucana que marcou a história local e nacional na segunda metade do século 20. Se Arraes, o advogado, economista, ex-prefeito do Recife, ex-deputado estadual e federal e ex-governador de Pernambuco dispensa apresentações, há ainda uma curiosidade em relação a questões de sua vida privada.

Quais livros faziam parte de sua biblioteca? Com quem trocava correspondência durante os anos do exílio na Argélia, onde viveu de 1965 até a Anistia, em 1979? Quais peças de arte gostava de manter em casa? Pois no final deste mês de agosto tem início a transferência de 30 mil peças do acervo pessoal de Miguel Arraes para a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) e, após a catalogação e organização, o público poderá ter acesso aos documentos e objetos que fizeram parte da vida de Arraes.

A doação está sendo realizada pela família que, até então, mantinha tudo na Fundação Miguel Arraes, localizada na casa onde morou o ex-governador no bairro de Casa Forte. Dividir com os pernambucanos esse acervo está sendo um processo interessante e decisivo para os familiares.

"Existem muitas instituições e universidade no Brasil especializadas em acervos da história mais recente do País, mas achávamos que seria muito importante que ele continuasse em Pernambuco e a Fundaj possui uma equipe técnica muito profissional", conta José Almino, filho mais velho de Arraes.

"A sua biblioteca mesmo é muito versátil, tem livros de cunho político, claro, mas também muita filosofia e literatura. Além de um grande destaque para sua correspondência. Meu pai escrevia muito, mas era também um excelente datilógrafo. Foi funcionário público então na época fez curso de datilografia. E ele escrevia fazendo uso de papel carbono, o que garantiu cópias das cartas eu enviou. Normalmente costumamos conhecer um autor ou intelectual pela sua correspondência de forma passiva, a partir do que ele recebe, mas nesse caso também temos as cópias do que ele escreveu. Acho que o tem de mais curioso para o público é o acervo do exílio porque ele era seu próprio arquivista e bibliotecário. Ainda recebia ajuda de Magdalena na organização mas tem toda a parte dos papeis pessoais que incluem comunicação secreta até. Acredito que esse período de sua vida seja pouco explorada em termos de pesquisas acadêmicas, biografias. Muitos elementos que não foram contados estão nesse acervo."

Além dos grande número de cartas e dos livros, o acervo também é composto por fotografias,discos, quadros, manuscritos e outros objetos. Tudo ficará armazenado e disponível para consulta no Centro de Documentação e de Estudos da História Brasileira Rodrigo Mello Franco de Andrade (Cehibra), braço documental da Fundaj, em Apipucos.

 

DIVULGAÇÃO/ FUNDAJ
Além dos grande número de cartas e dos livros, o acervo também é composto por fotografias,discos, quadros, manuscritos e outros objetos - DIVULGAÇÃO/ FUNDAJ
DIVULGAÇÃO/ FUNDAJ
Além dos grande número de cartas e dos livros, o acervo também é composto por fotografias,discos, quadros, manuscritos e outros objetos - DIVULGAÇÃO/ FUNDAJ

"Ter e disponibilizar um acervo tão completo como o de Arraes é mais do que ver um retrato de corpo inteiro. Significa a possibilidade de tentar alcançar parte de sua alma, do seu pensamento e ação. Não somente do homem público. Do avô, do pai, do companheiro, do amigo. Enfim, as várias nuances da sua vida. A Fundação já se estende por mais de setenta anos, na salvaguarda da memória do Brasil, tão preconizada pelo seu patrono Joaquim Nabuco e pelo seu fundador Gilberto Freyre", ressalta a coordenadora do espaço, Albertina Malta.

Desde que Arraes faleceu, em 13 de agosto de 2005, aos 85 anos, este acervo estava sendo cuidado principalmente por Magdalena, sua viúva. "Faço questão de ressaltar a atuação e o carinho que Magdalena Arraes teve na conservação e organização de todos esses pertences. Ela cumpriu uma importante função para a historiografia", pontua o neto de Miguel Arraes e presidente da Fundaj, Antonio Campos. "Este acervo é um presente para a Fundação e vem para somar com os de outros três ex-governadores pernambucanos, de Manoel Borba, Eraldo Gueiros Leite e Moura Cavalcanti."

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