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JS O Mão de Ouro mistura Beethoven e brega-funk em remixes de sinfonias

JS, ícone do brega-funk, produziu dois remixes da 5º e 9º Sinfonia de Beethoven, nas comemorações dos 250 anos do compositor

João Rêgo
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João Rêgo
Publicado em 18/08/2020 às 17:15
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JS, O Mão de Ouro produziu remixes da 5º e 8º sinfonias de Beethoven - FOTO: Divulgação

Em 1770, nascia Ludwig van Beethoven. Na virada do século, ele já era reconhecido como o maior no que fazia – o que, aliás, até agora não mudou. O seu legado perdura como um dos pilares fundamentais da música ocidental.

Talvez seja por isso que toda data redonda que o envolva (do nascimento à morte) se tornou a deixa perfeita para movimentações do mundo da música. Em 2020, por exemplo, é celebrado seus 250 anos.

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Com a pandemia do coronavírus, as homenagens foram forçadas a abraçar o mundo digital. A Orquestra Sinfônica Brasileira comemorou 80 anos com cinco concertos inspirados na obra do alemão. Todos músicos nas suas respectivas casas e conectados online.

A principal mudança, no entanto, talvez tenha sido a oportunidade de descentralizar as reverências em certos públicos, palcos e concertos. Foi pensando nisso que a Warner Music Brasil convidou o produtor JS O Mão de Ouro para realizar lançamentos celebrativos.

JS, ícone do brega-funk, produziu dois remixes da 5º e 9º Sinfonia de Beethoven. A primeira lançada em julho, e a segunda recentemente nas plataformas digitais.

“Eu vejo que a junção da música clássica com a música popular é boa para os dois lados. Fazer a obra do Beethoven chegar em pessoas mais pobres é abrir um novo caminho pelo qual a criança pode seguir. Ela pode se interessar em estudar violino, por exemplo, e se tornar uma grande artista do nosso país”, diz Jonathan Santos, o JS, responsável pelo hit Tudo Ok, a música mais ouvida do Spotify no carnaval deste ano.

“E, no meu caso, juntar a música popular com a música clássica é fazer o meu trabalho romper barreiras e quebrar preconceitos. Posso mostrar para outros públicos o potencial que o brega-funk tem”, diz.

Criado em Jardim Paulista Baixo, na Região Metropolitana do Recife, JS conta que acessar a música clássica não era algo comum. Quando o contato acontecia, era feito através de comerciais da TV ou filmes e séries que usavam pedaços das sinfonias.

Um fenômeno que indica, entre outras coisas, um maior trabalho para o produtor. JS teve que subverter as estruturas das sinfonias – com notas pensadas a partir de emoções específicas. Sampleou, picotou e inseriu outros sons no processo.

“Quando eu recebi os arquivos das sinfonias, eu fiquei muito honrado. Tem uma questão de respeito com a obra – as duas sinfonias são conhecidas pelo mundo inteiro. Eu precisava ter muito cuidado para não perder a identidade do Beethoven na música e, ao mesmo tempo, colocar a minha. Foi um processo longo, ouvi dezenas de vezes e marquei as partes que, de alguma forma, eu já conhecia, que eram famosas. E inseri as batidas do funk para deixá-la dançante”, diz.

O trabalho é próximo ao que vinha fazendo a dupla Shevchenko & Elloco com as conhecidas Tributo do Michael Jackson, Passinho do Ameno e Coronavírus (Cardi B). Uma espécie de encaixe do sample sobre a base de batidas do brega-funk.

Nos remixes de JS a ideia parece ser outra. O produtor mais aglutina sons do que tenta emulá-los. Até pelo caráter mais instrumental da composição base, o remix soa mais orgânico e imprevisível com o material.

“A minha ideia foi pegar as partes mais famosas das sinfonias e encaixá-las na batida de latinha do brega funk. Quero fazer com que as pessoas percebam que estão ouvindo Beethoven e fiquem surpresas. Além da música ser bem contagiante, essa surpresa também vai fazer elas dançarem”, conta JS, que ficou conhecido pelo uso de beats metálicos e estridentes, inspirados nas panelas da sua avó.

Ele explica também que é um processo de decupagem do essencial. O remix é sobre Beethoven, a sonoridade se distancia do original, mas no final a assinatura autoral é do JS O Mão de Ouro.

“Você tem que deixar a identidade da música original e colocar a sua – sem perder a mão tanto de um lado quanto do outro. Tem que perceber quais partes da primeira música são essenciais e não podem faltar, para, assim, colocar a sua batida. Foi assim que eu comecei, porque é um ótimo exercício para aprender a mexer nos programas. Com o tempo, você vai produzindo as suas músicas autorais e vai criando o seu próprio trabalho”, diz.

De 2018 para 2020, JS O Mão de Ouro talvez seja o mais prolífico produtor de brega-funk do país. A escolha para participar do projeto não é ao acaso.

“Acho muito legal as pessoas estarem valorizando mais o DJ e o produtor. Acredito que o sucesso da música eletrônica no Brasil fez as pessoas repararem mais no nosso trabalho. Agora, podemos ser artistas como são os cantores”, diz o produtor, que é um dos nomes envolvidos na parceria entre a Som Livre e a Los Pantchos, uma das maiores players de funk do mercado.

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