Motivacional

Katy Perry canta sobre superação e redescoberta da felicidade no álbum 'Smile'

Álbum chega às plataformas digitais um dia após o anúncio do nascimento da primeira filha da cantora, Daisy

Márcio Bastos
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Márcio Bastos
Publicado em 28/08/2020 às 14:21
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APRENDIZADO Artista superou adversidades como uma depressão - FOTO: DIVULGAÇÃO
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Após um período conturbado, que culminou em um diagnóstico de depressão Katy Perry voltou a sorrir. A recém-encontrada felicidade e os ensinamentos derivados da dor são os grandes temas de Smile, seu sexto álbum, lançado nesta sexta-feira (28). O disco chega em um momento emblemático para a estadunidense, que esta semana deu à luz sua primeira filha, Daisy, fruto de seu relacionamento com o ator Orlando Bloom.

Uma das cantoras mais bem-sucedidas da última década, Katy Perry viu seu sucesso declinar rapidamente após o lançamento do disco Witness (2017). O trabalho chegou ao público alguns meses após a eleição que que alçou Donald Trump à presidência. Apoiadora de Hilary Clinton, Perry foi ativa na campanha e afirmou que seu trabalho seria mais denso, permeado por questões pessoais, e refletiria as angústias políticas do momento.

Chained To The Rhythm, primeira música de divulgação do Witness, parecia cumprir essa promessa, levando para as pistas reflexões sobre a ilusão do sonho americano. Nas performances ao vivo, a cantora também reforçava, munida das superproduções do pop, sua preocupação em discutir questões como a política discriminatória contra imigrantes e a intolerância racial. 

A ultradireita esperneou, mas reduzir a performance mediana do disco nas paradas a esse fato é reducionista. Entre os erros de estratégia de Katy está o segundo single, Bon Appétit, uma faixa dançante e sexual que surfava na ascensão do trap e na popularidade do trio Migos. Os rappers, no entanto, eram alvo de protestos por parte da comunidade LGBT, grande parte da base de fãs da cantora, em decorrência de composições homofóbicas. 

Daí para a frente, tudo parecia um pouco desesperado, como uma espécie de reality show promovido com ela no Youtube, com os fãs acompanhando sua rotina em uma casa cheia de câmeras. Quando o disco foi lançado, ficou claro que a empolgação política de Perry ficou mais no discurso e não foi transposta para as canções. O que não seria um problema necessariamente, se grande parte da campanha não tivesse se ancorado justamente nessa questão.

A briga com Taylor Swift - que no ábum de Perry resultou na canção Swish Swish e, no da "inimiga", Bad Blood -, também não ajudava: a narrativa de duas mulheres diminuindo uma a outra, muito alimentada pela mídia, soava como um retrocesso em meio às conquistas do feminismo (recentemente, as artistas fizeram as pazes e trocaram afagos em clipe e redes sociais). 

Witness acabou prejudicado tanto pela propaganda de sua criadora quanto por um problema crônico na cultura pop. Como acontece com praticamente toda cantora pop, especialmente as que passam dos 30 anos, Katy virou uma espécie de saco de pancadas geral e tudo que ela fazia ou lançava era alvo de escrutínio por parte da crítica e do grande público. Nada do que ela lançava emplacava como seus trabalhos anteriores.

Ela conta que a má recepção do álbum foi um baque. Para alguém que estava acostumada a transformar tudo que toca em ouro (seu disco, Teenage Dream, lançado em 2010, foi um dos mais bem-sucedidos da década em termos de singles, colocando cinco canções no primeiro lugar da parada americana, feito antes só atingido por Michael Jackson), foi como perder a validação pela qual tanto lutou.

Naquele mesmo ano, ela acabou o relacionamento de quase um ano com Orlando Bloom e se se focou ainda mais na carreia. Durante a turnê para promover o disco, Perry foi diagnosticada com depressão. Em entrevistas recentes, ela contou que passou a questionar a validade da sua música e de suas escolhas e, ao começar o tratamento para a doença, se sentia envergonhada, como se fosse uma contradição alguém que escreveu um hino motivacional como Firework estar enfrentando o problema de saúde.

RECOMEÇO

Ao focar sua recuperação, Perry começou, aos poucos, a retomar o gosto pela criação. Ela conta que o processo de concepção de Smile foi também de autoconhecimento e, a partir dele, começou a desenvolver uma outra relação com a sua carreira, que passou a ter menos ênfase do que a vida pessoal.

"(Esse disco) Me tirou desse ciclo de ser uma pop star desesperada, sedenta, que sentia que tinha que ser primeiro lugar o tempo todo", disse em entrevista com Howard Stern. "Agora eu sinto que posso criar e ter outras camadas como artista e também como ser humano."

Smile é marcado por um discurso otimista, quase de autoajuda, proferido por alguém que reforça para si e também prega para os outros a importância de cuidar do próprio bem-estar, ressignificando as dores, como fica explícito na ótima faixa-título. 

A questão permeia basicamente todas as canções do disco, como Cry About It Later e Teary Eyes, ambas sobre lidar com os problemas (ou esquecê-los) na pista de dança.

Never Really Over, Not The End of The World, Daisies e Resilient também pregam a força interior e a importância de não desistir diante das adversidades. Reside aí, inclusive, um dos problemas do álbum: ainda que as canções sejam cativantes e reafirmem a capacidade de Katy em criar refrões pegajosos, como um todo a temática se torna repetitiva.

O disco ganha quando explora outros aspectos, como em Harleys in Hawaii, que evoca os melhores momentos do início da carreira da cantora, mesclando romance e hedonismo com melodias e batidas hipnotizantes. Em Champagne Problems e Tucked, também pontos altos do disco, ela entra na onda de homenagens à disco music.

Com Smile, Katy joga seguro e parece, de fato, estar tranquila em trabalhar para seu nicho, tanto em termos de sonoridade quanto de temática. O álbum já chega soando um pouco datado, parecido demais com faixas dos outros discos da cantora, mas ao mesmo tempo parece um parte necessária do processo de alguém que após experienciar o lado brilhante e também o sombrio da indústria, está pronta para voltar a se divertir fazendo música.

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Katy Perry afirmou que disco é resultado de um intenso processo de autoanálise após período de depressão - FOTO:DIVULGAÇÃO

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