Artes visuais

Pequeno Encontro de Fotografia discute a imagem em tempos de pandemia

Evento online reúne profissionais na área de 31 de agosto a 4 de setembro

Márcio Bastos
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Márcio Bastos
Publicado em 31/08/2020 às 9:00
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'Entre Rios e Mocambos' é uma série desenvolvida por Joelington Rios no quilombo em que nasceu, no Maranhão - FOTO: DIVULGAÇÃO
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Com o tema A Insustentável Leveza da Fotografia, o Pequeno Encontro da Fotografia chega à sua sexta edição em formado digital, em decorrência da pandemia do novo coronavírus. De segunda (31) a sexta-feira (4), serão realizadas palestras, oficinas, leituras de portfólio, exposições, projeções e o Espaço do Livro, com participação de artistas e pesquisadores do Brasil e do exterior.

Além das restrições causadas pela covid-19, o que impossibilitou a realização do evento no Sítio Histórico de Olinda, este ano o encontro enfrentou dificuldades com o orçamento, já que não teve incentivo público, e foi viabilizado graças a uma campanha online, que ainda está aberta. O projeto é uma iniciativa dos fotógrafos Eduardo Queiroga, Maria Chaves e Mateus Sá.

"O Pequeno Encontro sempre teve uma preocupação muito grande com o aspecto formativo das nossas ações. Promovemos reflexão sobre o papel da imagem e de quem produz, circula e consome imagens. Procuramos fortalecer o intercâmbio de obras, saberes, pensamentos e ideias entre artistas, fotógrafas, fotógrafos, estudantes, professores, pesquisadores e curadores. Tudo isso não poderia ser parado, ser mais uma sequela desta pandemia, num país que tem sofrido e sofrerá perdas tão tristes, tão inumeráveis", explica Queiroga.

RAY MORAIS/DIVULGAÇÃO
Eduardo Queiroga, Maria Chaves e Mateus Sá, coordenadores do Pequeno Encontro de Fotografia - RAY MORAIS/DIVULGAÇÃO

Para Maria, o novo formato trouxe como ganho a possibilidade de expandir o público, fortalecendo a rede de pessoas interessadas em pensar e discutir a imagem. "Inscreveram-se nas atividades pessoas do norte ao sul do país, como também de vários bairros e comunidades da nossa região metropolitana. Serão vários sotaques com uma linguagem em comum, a da fotografia", pontua.

Nesta edição, os produtores propõem uma discussão sobre aspectos filosóficos da fotografia, como as relações de poder que ela pode evidenciar, a construção de narrativas que potencializam, sua força na sociedade contemporânea e hiperconectada e seu papel enquanto arte e documento histórico.

"Uma chave interessante é pensarmos que além da dificuldade de se produzir certos tipos de fotografia no cenário da covid-19, que além de nos atingir como trabalhadores de uma das cadeias mais afetadas pelas necessidades de distanciamento, que tudo isso aumenta o contraste, torna mais visível vulnerabilidades antigas nossas como sociedade. A imagem da pandemia é uma imagem que aumenta a nitidez, satura as cores, exagera na resolução, traz detalhadamente as desigualdades sociais, para fazer uma metáfora com a fotografia. Para qual panorama queremos 'voltar'", indaga Eduardo.

Entre os participantes desta edição está o maranhense Joelington Rios, que conversa sobre sua produção na quarta (2), às 19h30, em palestra transmitida ao vivo pelas páginas do festival no Facebook e YouTube.

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SABERES Joelington Rios (MA) ministra uma palestra sobre seu processo criativo - DIVULGAÇÃO

O artista visual de 22 anos, que cresceu no quilombo Jamary dos Pretos, em Turiaçu, atualmente vive no Rio de Janeiro, onde desenvolveu a série O Que Sustenta o Rio, que mescla imagens da capital fluminense com a de pessoas que a mantêm viva, mas que são socialmente excluídas.

"Trabalho com o conceito de Sustentador, que seria a camada de pessoas que circulam e trabalham pelo Rio, estabelecem uma relação de trânsito com o espaço, mas no final do dia voltam para os subúrbios e favelas e acabam não usufruindo a cidade. É um fluxo contínuo e violento de exclusão, que evidencia os contrastes por trás da ideia de Cidade Maravilhosa", aponta. "Durante a pandemia, esse processo ficou ainda mais evidente, com a classe trabalhadora tendo negado o direito de se preservar. O processo de sustentação nos mata."

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OLHAR Série O Que Sustenta o Rio discute disparidades sociais e pertencimento, questionando o rótulo de "Cidade Maravilhosa" - JOELINGTON RIOS/DIVULGAÇÃO

Pouco antes da pandemia, Joelington passou um tempo em sua cidade natal, momento em que aproveitou para desenvolver novos trabalhos, em um processo também de reconexão com a fotografia, já que seus primeiros contatos com a linguagem se deram ainda no quilombo. Desse período, nasceram Entre Rios e Mocambos, que articula temas como fluxo dos corpos, natureza e raízes culturais.

Em suas obras, o fotógrafo trabalha com colagens e outras técnicas e linguagens artísticas, como a performance, a arte sonora, vídeo e outros campos das artes visuais. Fundador e curador do projeto @Fotografosnegros no Instagram, ele tem se dedicado à pesquisa durante a pandemia.

"Meu trabalho parte da observação do meu entorno, mas também das minhas vivências no quilombo, na minha relação com minha família. Trancado em casa, passei a fotografar a dinâmica da minha família, o crescimento da minha sobrinha. Tenho me colocado em um lugar de observação, tentando entender como irei me posicionar diante dessas transformações", conta.

PROGRAMAÇÃO

A abertura oficial do evento acontece na segunda-feira (31) às 19h30, através de transmissão ao vivo da roda de diálogo com tema Sobre Livros e Fotografias: As Dores e as Delícias de se Fazer Fotolivros. Participam dela a pesquisadora e autora Marina Feldhues (PE), os editores José Fujocka e Luciana Molisani, da Lovely House (SP), e os editores Lígia Fernandes e Valdemir Cunha, da Origem Editora (SP).

Na terça-feira (1), é realizada a primeira palestra, com o fotógrafo Pio Figueiroa (PE), que iniciou a carreira no fotojornalismo no Recife, onde nasceu, foi fundador do coletivo Cia de Foto (SP, 2003/2013) e atualmente faz parte do time de diretores da produtora audiovisual Piloto (SP).

CRISTINA DE MIDDEL/DIVULGAÇÃO
Fotógrafa espanhola Cristina de Middel é uma das palestrantes do Pequeno Encontro de Fotografia 2020 - CRISTINA DE MIDDEL/DIVULGAÇÃO

Na quinta-feira (3), a palestra é com a fotógrafa Cristina De Middel (Espanha), que investiga a relação entre fotografia e verdade, com trabalhos que borram as divisões entre realidade e ficção.

Encerrando a programação, na sexta-feira (4), às 19h30, acontece uma transmissão ao vivo de um bate-papo no qual os idealizadores do Pequeno Encontro recebem alguns convidados.

Ao longo da semana, também serão realizadas atividades complementares, como oficinas ministradas elos fotógrafos Letícia Lampert (RS) e Miguel Chikaoka (SP). Ana Lira (PE) participa com uma edição especial do Programa Em Tempo, que orienta pessoas ou coletivos que estão desenvolvendo projetos artísticos.

A maior parte das atividades tem acesso gratuito e são oferecidas bolsas em parceria com projetos socioculturais, como o Coque Vive (PE), Mão na Lata (RJ), Favela em Foco (RJ), Cidade Invertida (SP), Foto Lata (MG), IJCPM (PE), FotoAtiva (PA) e Memaker (PE).

 

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