Com o tema A Insustentável Leveza da Fotografia, o Pequeno Encontro da Fotografia chega à sua sexta edição em formado digital, em decorrência da pandemia do novo coronavírus. De segunda (31) a sexta-feira (4), serão realizadas palestras, oficinas, leituras de portfólio, exposições, projeções e o Espaço do Livro, com participação de artistas e pesquisadores do Brasil e do exterior.
Além das restrições causadas pela covid-19, o que impossibilitou a realização do evento no Sítio Histórico de Olinda, este ano o encontro enfrentou dificuldades com o orçamento, já que não teve incentivo público, e foi viabilizado graças a uma campanha online, que ainda está aberta. O projeto é uma iniciativa dos fotógrafos Eduardo Queiroga, Maria Chaves e Mateus Sá.
"O Pequeno Encontro sempre teve uma preocupação muito grande com o aspecto formativo das nossas ações. Promovemos reflexão sobre o papel da imagem e de quem produz, circula e consome imagens. Procuramos fortalecer o intercâmbio de obras, saberes, pensamentos e ideias entre artistas, fotógrafas, fotógrafos, estudantes, professores, pesquisadores e curadores. Tudo isso não poderia ser parado, ser mais uma sequela desta pandemia, num país que tem sofrido e sofrerá perdas tão tristes, tão inumeráveis", explica Queiroga.
Para Maria, o novo formato trouxe como ganho a possibilidade de expandir o público, fortalecendo a rede de pessoas interessadas em pensar e discutir a imagem. "Inscreveram-se nas atividades pessoas do norte ao sul do país, como também de vários bairros e comunidades da nossa região metropolitana. Serão vários sotaques com uma linguagem em comum, a da fotografia", pontua.
Nesta edição, os produtores propõem uma discussão sobre aspectos filosóficos da fotografia, como as relações de poder que ela pode evidenciar, a construção de narrativas que potencializam, sua força na sociedade contemporânea e hiperconectada e seu papel enquanto arte e documento histórico.
"Uma chave interessante é pensarmos que além da dificuldade de se produzir certos tipos de fotografia no cenário da covid-19, que além de nos atingir como trabalhadores de uma das cadeias mais afetadas pelas necessidades de distanciamento, que tudo isso aumenta o contraste, torna mais visível vulnerabilidades antigas nossas como sociedade. A imagem da pandemia é uma imagem que aumenta a nitidez, satura as cores, exagera na resolução, traz detalhadamente as desigualdades sociais, para fazer uma metáfora com a fotografia. Para qual panorama queremos 'voltar'", indaga Eduardo.
Entre os participantes desta edição está o maranhense Joelington Rios, que conversa sobre sua produção na quarta (2), às 19h30, em palestra transmitida ao vivo pelas páginas do festival no Facebook e YouTube.
O artista visual de 22 anos, que cresceu no quilombo Jamary dos Pretos, em Turiaçu, atualmente vive no Rio de Janeiro, onde desenvolveu a série O Que Sustenta o Rio, que mescla imagens da capital fluminense com a de pessoas que a mantêm viva, mas que são socialmente excluídas.
"Trabalho com o conceito de Sustentador, que seria a camada de pessoas que circulam e trabalham pelo Rio, estabelecem uma relação de trânsito com o espaço, mas no final do dia voltam para os subúrbios e favelas e acabam não usufruindo a cidade. É um fluxo contínuo e violento de exclusão, que evidencia os contrastes por trás da ideia de Cidade Maravilhosa", aponta. "Durante a pandemia, esse processo ficou ainda mais evidente, com a classe trabalhadora tendo negado o direito de se preservar. O processo de sustentação nos mata."
Pouco antes da pandemia, Joelington passou um tempo em sua cidade natal, momento em que aproveitou para desenvolver novos trabalhos, em um processo também de reconexão com a fotografia, já que seus primeiros contatos com a linguagem se deram ainda no quilombo. Desse período, nasceram Entre Rios e Mocambos, que articula temas como fluxo dos corpos, natureza e raízes culturais.
Em suas obras, o fotógrafo trabalha com colagens e outras técnicas e linguagens artísticas, como a performance, a arte sonora, vídeo e outros campos das artes visuais. Fundador e curador do projeto @Fotografosnegros no Instagram, ele tem se dedicado à pesquisa durante a pandemia.
"Meu trabalho parte da observação do meu entorno, mas também das minhas vivências no quilombo, na minha relação com minha família. Trancado em casa, passei a fotografar a dinâmica da minha família, o crescimento da minha sobrinha. Tenho me colocado em um lugar de observação, tentando entender como irei me posicionar diante dessas transformações", conta.
PROGRAMAÇÃO
A abertura oficial do evento acontece na segunda-feira (31) às 19h30, através de transmissão ao vivo da roda de diálogo com tema Sobre Livros e Fotografias: As Dores e as Delícias de se Fazer Fotolivros. Participam dela a pesquisadora e autora Marina Feldhues (PE), os editores José Fujocka e Luciana Molisani, da Lovely House (SP), e os editores Lígia Fernandes e Valdemir Cunha, da Origem Editora (SP).
Na terça-feira (1), é realizada a primeira palestra, com o fotógrafo Pio Figueiroa (PE), que iniciou a carreira no fotojornalismo no Recife, onde nasceu, foi fundador do coletivo Cia de Foto (SP, 2003/2013) e atualmente faz parte do time de diretores da produtora audiovisual Piloto (SP).
Na quinta-feira (3), a palestra é com a fotógrafa Cristina De Middel (Espanha), que investiga a relação entre fotografia e verdade, com trabalhos que borram as divisões entre realidade e ficção.
Encerrando a programação, na sexta-feira (4), às 19h30, acontece uma transmissão ao vivo de um bate-papo no qual os idealizadores do Pequeno Encontro recebem alguns convidados.
Ao longo da semana, também serão realizadas atividades complementares, como oficinas ministradas elos fotógrafos Letícia Lampert (RS) e Miguel Chikaoka (SP). Ana Lira (PE) participa com uma edição especial do Programa Em Tempo, que orienta pessoas ou coletivos que estão desenvolvendo projetos artísticos.
A maior parte das atividades tem acesso gratuito e são oferecidas bolsas em parceria com projetos socioculturais, como o Coque Vive (PE), Mão na Lata (RJ), Favela em Foco (RJ), Cidade Invertida (SP), Foto Lata (MG), IJCPM (PE), FotoAtiva (PA) e Memaker (PE).
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