Xuxa se expõe, com cuidado

LINHAS Em Memórias, apresentadora fala dos relacionamentos com Pelé e Senna, mas se abstém de revelar conflito com Marlene Mattos

CRISTINA PADIGLIONE
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CRISTINA PADIGLIONE
Publicado em 22/09/2020 às 6:00
BRUNNO RANGEL/GLOBO LIVROS
SEM SEGREDOS Não há nada nessas 272 páginas que já não se tenha ouvido Xuxa contar em outras ocasiões - FOTO: BRUNNO RANGEL/GLOBO LIVROS
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Convém não esperar da autobiografia Memórias, de Xuxa Meneghel, revelações inéditas ou uma celebridade disposta a acertar as contas com quem se aproveitou de sua ingenuidade e do potencial para faturar dinheiro.

Não há nada nessas 272 páginas que a gente já não tenha ouvido ela contar nem nomes aos bois quando relata episódios sobre pessoas que a magoaram. "Por que deveria? Já não basta o caráter delas?", questiona a autobiografada, em respostas sucintas enviadas por email, via assessoria de imprensa da editora.

No livro, Xuxa fala muito sobre bichos, Sasha, abusos na infância, o namoro com Ayrton Senna e antes, com Pelé, no início da carreira, relação que acabou, após seis anos. "Eu era traída loucamente."

O relato de sua trajetória se ocupa bastante da mãe, Alda, do período em que Xuxa esteve rompida com o pai, Luís Floriano. Conta ainda que, mesmo já namorando Luciano Szafir, pai de Sasha, chegou a pensar em fazer uma fertilização in vitro, o que não foi necessário. Szafir, segundo ela, resistia à ideia da paternidade sem casamento no papel, o que nunca foi seu objetivo.

Sobre a ex-fiel escudeira, Marlene Mattos, que a acompanhou desde a TV Manchete até a ascensão, na Globo, quase não há menções. "Marlene não queria mais trabalhar para crianças e a relação se desgastou muito. Cada uma seguiu para um lado e eu estreei, em 2002, o Xuxa no Mundo da Imaginação."

Questionada por que um relato superficial sobre Mattos, a apresentadora foi sucinta. "Falei no livro o que quis falar."

O que ela faria diferente? "Não falaria tanto e, principalmente, não acreditaria tanto nas pessoas. Se tivesse que voltar atrás, eu diria para mim, naquela época 'acredite menos, se doe menos, viva mais as oportunidades de beijar e de ser beijada, não deixe ninguém gritar com você e não deixe nenhuma pessoa dizer que você não é ninguém se ela não estiver por perto'."

Em suas respostas, Xuxa diz que já foi bem mais ingênua, mas ainda se considera assim e seguiu uma trajetória pouco racional na carreira. "Não tive estratégia porque minha ambição, em termos financeiros, era apenas a de ganhar dinheiro para comprar presentes para minha mãe. Mas a ambição de quem estava perto de mim era muito maior e a estratégia foi feita por essas pessoas com quem trabalhei."

"Posso dizer que não sou tão mole como era, mas estou longe de ser casca grossa."

Como alguém tão idolatrada por mais de uma geração, a apresentadora disse que não se sente refém de uma imagem ao relatar suas histórias e se mostrar como é. "Estou velha para me prender a uma imagem e madura o suficiente para saber que isso é tóxico."

Se hoje se dá ao luxo de aparecer no Instagram de cara lavada, de raspar a cabeça e dizer que nunca teve voz para cantar, mesmo vendendo milhões de discos, avisa que nunca foi diferente. "Sempre fui assim, mas nunca tive espaço para mostrar. Hoje, com as novas mídias, ficou mais fácil."

"Medo de decepcionar quem me ama eu sempre terei, mas é medo de decepcionar como pessoa (ser humano). Quero ser eu mesma e quem me ama de verdade me aceita do jeito que eu sou."

No livro, Xuxa conta mais uma vez sobre os abusos sexuais sofridos na infância, de amigos que frequentavam a casa dos pais e de um namorado de sua avó. Narra o efeito benéfico das denúncias, quando trouxe isso à tona pela primeira vez, no Fantástico, em 2012, provocando uma onda de denúncias de abuso.

"Falei para tentar contribuir para um mundo melhor para minha filha, para meus netos. Louco isso, mas foi só o que eu pensei naquele momento."

A repórter questiona se faltou contar muita coisa no livro ou que tipo de assunto sentiu necessidade de filtrar. "Tem coisas que eu não falei porque acho que não é o tempo certo, só isso. E nem cabe tudo o que aconteceu em uma vida em um livro."

A apresentadora revela então a ideia de registrar sua trajetória em outros meios. "Muitas partes da minha vida ainda podem ser exploradas no meu filme, no meu 'doc', mas tenha certeza que nem tudo estará lá. Por quê? Porque tem coisas que eu acho que não devo, como qualquer pessoa."

 

ROBERTO DE BIASI/AE
FAZER DIFERENTE "Não falaria tanto e, principalmente, não acreditaria tanto nas pessoas", diz Xuxa - FOTO:ROBERTO DE BIASI/AE
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NAMORO O piloto Ayrton Senna ao lado de Xuxa numa foto de 1990 - FOTO:EDU GARCIA/ESTADÃO CONTEÚDO

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