Artes cênicas

Teatros públicos e privados ainda não definiram programação de retorno em Pernambuco

Incertezas a respeito da viabilidade das apresentações estão entre as principais dúvidas do setor

Márcio Bastos
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Márcio Bastos
Publicado em 25/09/2020 às 8:38 | Atualizado em 29/09/2020 às 9:24
Andréa Rêgo Barros/PCR
PREPARO Assim como outros equipamentos geridos pela Prefeitura do Recife, o Teatro de Santa Isabel só deve reabrir em meados de outubro - FOTO: Andréa Rêgo Barros/PCR

O anúncio da reabertura dos teatros em Pernambuco, apesar de encarado com um pouco de otimismo (afinal, as atividades presenciais estão paralisadas desde março), também não significou uma luz no fim do túnel para o setor. Afinal, a cadeia de artes cênicas, em sua maior parte, sofre com falta de incentivos, de pautas e até de uma presença robusta de público e a pandemia explicitou as fragilidades do mercado.

De acordo com as normas de segurança divulgadas pelo Governo do Estado, os teatros e espaços de apresentação cultural só podem operar com 30% da sua capacidade ou, no máximo, um público de 100 pessoas.

Para equipamentos mantidos pelo poder público, o impacto não chega a ser tão grande, pois há o aparato estatal para garantir a manutenção e viabilidade financeira dos espaços, como os teatros Luiz Mendonça e Santa Isabel (570 lugares), de maior porte, Barreto Júnior e Apolo e Hermilo Borba Filho, geridos pela Prefeitura do Recife. 

Em nota, a PCR afirmou que irá retomar as atividades nos seus teatros a partir de 15 de outubro, tempo em que já terão suas instalações adequadas para atender os protocolos de funcionamento e segurança sanitária. A formatação das programações desses espaços já está em formatação, mas não foram revelados maiores detalhes.

O mesmo procedimento está sendo adotado pela Fundarpe, que informou, também através de nota, que aguarda a publicação do protocolo de reabertura que trata de cinemas e teatros para adotar as recomendações sanitárias no Teatro Arraial. A expectativa também é reabrir até a segunda quinzena de outubro. 

O Teatro Guararapes, que tem cerca de 2400 lugares, é gerido pela Secretaria de Turismo e é palco de peças de grande porte, entre elas muitos musicais, que são produções mais custosas, e shows. O espaço também não tem previsão de reabertura, mas segundo a assessoria, muitos eventos programados para 2020 já foi reagendada para o ano que vem.

Também gerido pela Prefeitura do Recife, o Teatro do Parque, na Boa Vista, deve reabrir as portas em novembro, após uma década fechado. O espaço retomará sua configuração de cine-teatro e a gestão e programação devem ser anunciadas mais adiante.

Particulares

Para os teatros privados, a situação é mais complexa. Com a capacidade de bilheteria reduzida, os preços dos ingressos precisariam ser bruscamente reajustados para, no geral, conseguir-se um equilíbrio mínimo nas contas.

O Teatro RioMar, que conta com cerca de 690 lugares e tinha uma agenda robusta para 2020, adiou a maioria dos eventos para 2021, como a peça Chaves - o Musical e os shows de Manu Gavassi, Lenine, Roberta Sá, e ainda não sabe quando irá retomar as atividades.

No site do equipamento, há dois eventos programados para este ano: a apresentação do comediante Afonso Padilha, originalmente marcado para 20 de março e transferido para 10 de novembro, e o show da banda Melim, que aconteceria em 10 de maio e foi reagendado para 18 de dezembro.

Procurada pelo JC, a assessoria do espaço afirmou que ainda não há data confirmada para sua reabertura, pois o momento ainda é bastante incerto e que diante da possibilidade de novas mudanças, a situação será acompanhada de perto para que se possa tomar decisões futuras.

O Teatro Boa Vista, com quase 800 lugares, também não crevou a data do seu retorno, que já está sendo estudado pelo seu gestor, Ulisses Dornelas, o Palhaço Chocolate.  

Para os espaços alternativos, como O Poste, na Rua da Aurora, a pandemia foi particularmente cruel. Sem apoio governamental ou um caixa sólido, dependendo unicamente da bilheteria, muitos encontraram na internet uma forma de criar uma rede colaborativa para garantir o pagamento dos custos de manutenção. No caso do Poste, foi lançada uma campanha de financiamento para arcar com essas despesas.

"Esse período foi trágico em todos os sentidos. Ficamos felizes com a possibilidade de retorno e, ao mesmo tempo, desconfiados porque está tudo muito difuso. Afinal, não controlamos a pandemia ainda. Então, como estabelecer novamente esse contato com a plateia?", questiona o diretor Samuel Santos, um dos fundadores do Poste.

Ele afirma que o grupo irá reabrir o espaço como uma demarcação simbólica da importância do teatro para a sociedade, mas que sabe que financeiramente não haverá retorno, já que a capacidade máxima do espaço é de 60 pessoas e, seguindo as normas, a plateia não poderia chegar nem a 20 espectadores, o que acarretaria um aumento no preço do ingresso.

"E essa não é nossa política. Sempre advogamos por ingressos acessíveis, que permitissem a inclusão. Queremos aguardar as diretrizes sanitárias, adaptar o espaço e entender como agir daqui para a frente. Além de um espaço de apresentação, somos também um ponto de formação e é nosso desejo também retomar as aulas quando for seguro", explica. "Com a possibilidade do auxílio da Lei Aldir Blanc para os espaços culturais, esperamos também poder reinvestir no espaço e garantir sua viabilidade."

 

FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
Teatro do Parque apresenta os trabalhos finas do restauro para reabertura depois de 10 anos fechado - FOTO:FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM

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