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Cinemas dos shoppings não reabrirão com protocolo atual em Pernambuco

Proibição do consumo de alimentos e bebidas dentro das salas de cinema é o principal empecilho para o retorno das grandes redes de cinema

Rostand Tiago
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Rostand Tiago
Publicado em 01/10/2020 às 11:17 | Atualizado em 02/10/2020 às 10:40
Igo Bione/JC Imagem
Cinemas das grandes redes exibidoras devem permanecer fechados - FOTO: Igo Bione/JC Imagem

Liberadas para funcionamento desde a última segunda-feira (28) em Pernambuco, as salas de cinema das principais redes que funcionam no estado não devem retornar enquanto o atual protocolo de retomada for o vigente. O grande empecilho é a proibição do consumo de alimentos e bebidas dentro das salas de cinema, uma das principais fontes de renda desses empreendimentos. Com a redução do público à 30% da capacidade e de limitação máxima de 100 pessoas, o setor julga financeiramente inviável o retorno das atividades sem a venda nas bombonieres.

Para Carla Cardoso, diretora dos Cinemas do Shopping Costa Dourada, no Cabo de Santo Agostinho, a proibição no protocolo pegou o setor de surpresa. "A restrição na venda já é grande, pois inicialmente a redução prevista da capacidade era de 50%. Atualmente, a ocupação não vai chegar nem a 30% de fato, porque assentos ao redor dos ocupados precisam ser bloqueados, diminuindo ainda mais o público. Então, sem poder vender a pipoca, você não consegue nem pagar a conta dos funcionários, fora os custos de aluguel, energia elétrica", afirma Cardoso.

A Federação Nacional das Empresas Exibidoras Cinematográficas (Feneec) encaminhou uma solicitação por e-mail ao Governo do Estado pedindo pela revisão da proibição. "É uma decisão que inviabiliza a retomada. A receita de bilheteria já começa reduzida, não só pelo bloqueio dos lugares e limitação, mas também pela retomada gradual e lenta do primeiro momento. A bomboniere se faz fundamental nesse cenário, como renda complementar. Atualmente, vale mais a pena continuar com os cinemas parados, do que abertos com prejuízo", relata Ricardo Difini Leite, presidente da Feneec e porta-voz do Juntos Pelo Cinema, que reúne diversas empresas do setor no planejamento do retorno dos cinemas. As principais redes que operam em Pernambuco, como a Cinemark, Cinépolis, Kinoplex, UCI Kinoplex, Cinesystem e Moviemax fazem parte do movimento.

As empresas do setor alegam que a retirada das máscaras para alimentação durante as sessões chega a ser até mais seguro do que a realização da mesma atividade em bares e restaurantes. Para Ricardo, um dos problemas do protocolo é não conseguir dar conta das especificidades de uma sala de cinema, sendo organizado de uma maneira geral para vários espaços culturais. Ele também pede uma isonomia no tratamento, quando levado em conta outros estabelecimentos liberados previamente.

"Estamos falando de um consumo de pipoca e refrigerante, uma alimentação que deve durar até 15 minutos e é feita passivamente, assistindo um filme. É diferente com vários restaurantes em que todo mundo está se alimentando por uma hora ou mais e conversando. Por que restaurantes e bares você pode se alimentar assim e não pode fazer esse consumo de uma forma rápida na sala de cinema?”, declara Difini. Já Carla Cardoso ressalta que a refrigeração dos cinemas é realizado por um sistema de dutos, promovendo uma renovação constante do ar, diferente de muitos restaurantes.

Segundo Patricia Cotta, gerente nacional de marketing da rede Kinoplex e líder do grupo de segurança e bem-estar do Juntos Pelo Cinema, com a derrubada da proibição, a qual classifica como "sem sentido", os cinemas poderiam voltar em menos de uma semana, já estando devidamente preparados para o retorno. "Fizemos um trabalho estruturado e minucioso, como um mapeamento da jornada dos espectadores, identificando cada ponto de contato das mãos dos espectadores com qualquer objeto. Também tivemos um treinamento exaustivo das nossas equipes e elaboramos protocolos que vão além dos elaborados pelos governos", explica Cotta.

Cotta vê como necessária a redução do público para a segurança, mas reitera a inviabilidade do retorno com o veto da alimentação. Ela destaca a impossibilidade de cobrir os custos operacionais ao se levar em conta o período com as portas fechadas. “Já passamos por seis meses de fechamento, as empresas estão totalmente descapitalizadas. A gente manteve todos os funcionários, com redução de carga ou suspensão temporária, mas optamos por não fazer demissão, estamos pagando todos os encargos trabalhistas”, relata.

Procurada, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, afirma que não há previsão para a derrubada da proibição do protocolo de retomada, mas também destaca que o caráter dinâmico do plano. “ (...) Por ser dinâmico, o Plano de Convivência das Atividades Econômicas com a Covid-19 é avaliado diariamente e as mudanças são semanais. A aplicação de novas regras para se evitar a disseminação da Covid-19 depende de dados epidemiológicos registrados pela Secretaria Estadual de Saúde. Vale a pena lembrar que a reabertura dos cinemas só foi liberada na última segunda-feira (28)...”

A cidade do Rio de Janeiro passou por uma situação semelhante. Desde o último dia 14 de novembro, com 50% da capacidade, mas o protocolo de retomada também vetava o consumo de alimentos e bebidas dentro das salas. Os exibidores optaram por não retomar as atividades. Na última semana, representantes da Prefeitura informou que ao exibidores que liberariam o consumo nas salas, oficializado na última segunda-feira. Os cinemas começam a retornar no próximo dia 1º por lá.

CINEMAS PÚBLICOS

Já para as salas geridas por órgãos públicos, como é o caso do Cinema São Luiz e do Cinema da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), têm retornos mais certos. São espaços que já não permitiam o consumo de alimentos e bebidas como medida de preservação do patrimônio, além de não compartilharem do mesmo modelo de negócios das redes multiplex. A sala na unidade do Derby da Fundaj prevê seu retorno para o próximo dia 8 de outubro, com 48 dos seus 160 lugares, além de um rígido esquema de circulação e higienização. A Fundação foi a primeira a parar suas atividades ainda nas primeiras semanas de março e deve retomar com a programação interrompida naquele período.

Já o Cinema São Luiz, de responsabilidade da Fundação do Patrimônio Artístico e Histórico de Pernambuco (Fundarpe), prevê seu retorno para novembro. Em nota, a Fundarpe afirmou já estar se movimentando para instalar os equipamentos necessários para o retorno, incluindo tapetes sanitizantes, totens para aplicação de álcool em gel, luvas, máscaras e sinalização específica, além do treinamento das equipes e adaptação dos assentos. Também será realizada uma manutenção no sistema de refrigeração e nos equipamentos de projeção e som. A programação ainda deve ser negociada com as empresas distribuidoras.

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