Eddie foi

Felipe Vieira
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Felipe Vieira
Publicado em 07/10/2020 às 2:00
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Ali pelos anos 1990 a revista americana Guitar World, espécie de Bíblia para os fãs do instrumento, fez um ranking dos melhores guitarristas de todos os tempos. O primeiro lugar, sem muita surpresa, foi para Jimi Hendrix - como num ranking sobre futebol seria para Pelé. Em segundo veio Eddie Van Halen. À época, a definição dada pela publicação ao holandês naturalizado americano foi "o Thomas Edison da guitarra".

Não é à toa. Edward Lodewijk Van Halen foi inventivo de várias formas. Primeiro ao construir uma guitarra com partes desmontadas de outras - a famosa Frankenstrat (corruptela para Frankenstein e Strat, abreviação de Stratocaster, o modelo do instrumento). Depois, embora negue a criação, foi responsável por um novo estilo de tocar: o finger tapping, que consistia em digitar no braço da guitarra com as duas mãos como se ela fosse um piano.  A instrumental Eruption, do álbum de estreia da banda (Van Halen, de 1978), em que ele exercita, sozinho, a técnica, soa assustadoramente original até os dias de hoje. Agressivo e inovador, o timbre de guitarra obtido no disco foi batizado pelo próprio músico como "Som Marrom" (Brown Sound), pelo calor que ele achava que a cor invocava.

Van Halen atravessou décadas de altos e baixos comerciais, mas seu estilo único, malgrado a legião de imitadores, sobreviveu ao tempo. Uma de suas maiores contribuições foi mostrar que técnica e virtuosismo não são sinônimos de caretice e chatice no palco. Ele fez parte da trupe dos excessos, seja com groupies, álcool ou drogas. Tocava fumando e fazendo argolas de fumaça com a boca. Por uma caixa de cervejas paga pelo produtor Quincy Jones, tocou o solo da ultra-clássica Beat It, de Michael Jackson (e sequer foi creditado no álbum Thriller, até hoje o disco mais vendido da história). Lutou por anos contra o alcoolismo e largou a bebida assim que o filho, Wolfgang (homenagem a Mozart) nasceu. Viu o próprio Wolfgang crescer e, aos 15 anos, virar baixista do Van Halen, cargo que ocupava até a morte do pai. Sua luta contra o câncer vinha desde o início dos anos 2000, quando chegou até a retirar parte da língua em uma cirurgia. Eddie deixa a esposa, Janie, o filho Wolfgang, e um dos mais sólidos legados para um artista: a certeza de que sua obra inspirou e influenciou gerações. Daqui a 20 anos dificilmente alguém tentará aprender acordes de alguma das baboseiras das paradas atuais. Mas certamente haverá algum moleque trancado em um quarto tentando aprender - sem muito sucesso, na maioria dos casos - a tocar Eruption.

 

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