Artes cênicas

Barca dos Corações Partidos estreia 'Jacksons do Pandeiro' online e gratuitamente

Espetáculo celebra o olhar aberto à diversidade, marca na musicalidade de Jackson do Pandeiro

Márcio Bastos
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Márcio Bastos
Publicado em 09/10/2020 às 2:00
RENATO MANGOLIN/DIVULGAÇÃO
REFORMULADA Planejada para chegar ao teatro em abril, obra ganha versão audiovisual gravada ao vivo - FOTO: RENATO MANGOLIN/DIVULGAÇÃO
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Jackson do Pandeiro (1919-1982) retratou em sua obra uma ideia de Brasil que parece cada vez mais distante: país plural, inclinado à alegria (apesar das dificuldades), vibrante e agregador. Essa ode à diversidade que permeia a poética do paraibano, e como ela continua a se conectar com as trajetórias de tantos brasileiros, dá o tom de Jacksons do Pandeiro, novo espetáculo da Barca dos Corações Partidos que estreia neste sábado (10), às 21h, com transmissão ao vivo e gratuita no canal do grupo no YouTube e no Bis.

O desejo de trabalhar com a obra do paraibano já acompanha a Barca há alguns anos, grupo formado após a montagem de Gonzagão - A Lenda (2012). Para concretizar o projeto, o coletivo, que já montou uma versão da Ópera do Malandro (2014), de Chico Buarque, Suassuna - O Auto do Reino do Sol (2017), e Macunaíma (2019), convidou novamente Duda Maia, que dirigiu Auê, cuja dramaturgia era permeada por canções compostas pelos próprios integrantes. 

O trabalho estava prestes a estrear, em abril, quando eclodiu a epidemia do novo coronavírus. Durante a quarentena, os artistas promoveram festival virtual e lançaram clipes. Aos poucos, a produção, assinada por Andréa Alves, da Sarau Agência, foi sendo retomada, respeitando os protocolos de segurança, e optando por um modelo de transmissão online, com direção de câmeras de Diego Godoy.

"Foi muito doloroso ter que interromper o fluxo criativo do trabalho, não só pelo espetáculo em si, mas por todos os acontecimentos inimagináveis dos últimos meses", pontua o pernambucano Eduardo Rios, que além de atuar, assina a dramaturgia junto a Bráulio Tavares. "Para a gente ficou ainda mais claro como Jackson dialoga com tudo que está acontecendo: ele é o rei da síncope, do ritmo, o cara que dribla as expectativas, se adapta e cria a partir do que a vida apresenta."

Além de Eduardo, o elenco da Barca é composto por Adrén Alves, Alfredo Del-Penho, Beto Lemos, Fábio Enriquez, Renato Luciano e Ricca Barros. Para esta montagem, eles convidaram o multiartista pernambucano Lucas dos Prazeres, Everton Coroné e Luiza Loroza. Em cena, o coletivo não interpreta personagens, pois o objetivo não é montar uma biografia de Jackson e sim relacionar a trajetória e as obras do artista com suas próprias vivências. 

"O que se buscou foi encontrar o que há de Jackson na vida de um Brasil que o Brasil desconhece. Poucos sabem da grandeza desse artista, que cantou o Brasil de Norte a Sul. Depois de ter mergulhado na obra de Jackson, não tem como eu sair na esquina e não o reconhecer em cada canto. Para mim, todo brasileiro é um pedaço de Jackson do Pandeiro e por isso a gente tenta criar essas interseções entre as nossas experiências e a vida e obra dele. Com esse trabalho, tive a oportunidade de me reconectar com a dança, com minha criança interior", explica Lucas.

Como nas obras anteriores da Barca, o espetáculo é desenvolvido a partir de elementos do teatro, da música, da dança e da fisicalidade do circo. Além de canções do mestre, a Barca também canta composições autorais a partir do universo de Jackson. A direção musical é de Alfredo Del-Penho e Beto Lemos.

O trabalho de corpo desenvolvido por Duda Maia almeja uma entrega completa dos intérpretes que revele o espírito não só sobre o homenageado, mas sobre os próprios artistas. 

"Eu queria propor um desafio para eles e para mim. Talvez esse seja o espetáculo mais complexo que criei porque exige vigor físico, mas é leve. O cenário (criado por André Cortez) tem níveis diferentes, propondo quase uma maratona, uma gincana para os atores, que além de interpretar também dançam, tocam e cantam. Acho que chegamos muito próximos da forma de Jackson de cantar, sincopada, extremamente brasileira. Eles estão falando de Jackson a partir de suas vidas, então tiveram que se reconectar com suas histórias para encontrar esse corpo cênico", explica a diretora.

 

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Mais do que uma biografia de Jackson do Pandeiro, A Barca dos Corações Partidos quis enfatizar a importância do legado do artista para a cultura brasileira - FOTO:RENATO MANGOLIN/DIVULGAÇÃO
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MULTIARTISTA Lucas dos Prazeres leva suas vivências para a cena - FOTO:RENATO MANGOLIN/DIVULGAÇÃO

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